maratona (01 / 06)
𝑄𝑢𝑖𝑛𝑡𝑎-𝑓𝑒𝑖𝑟𝑎, 25 𝑑𝑒 𝑑𝑒𝑧𝑒𝑚𝑏𝑟𝑜 𝑑𝑒 2003
𝐏𝐚𝐫𝐭𝐞 1
Dia de Natal, acordei com o sol brilhando. Lee não estava na cama ao meu lado. Ouvi barulho no andar de baixo, panelas e refratários se entrechocando, ressoando junto com a dor na minha cabeça. Olhei para o despertador - nove e meia.
Tentei me sentir animada, feliz, cheia do espírito natalino, mas no momento minha cabeça precisava de cuidados.
Adormeci novamente, e quando acordei, Lee estava ali com uma bandeja de café da manhã.
- Acorde, linda.
Sentei-me na cama e tentei ignorar minha cabeça.
- Uau! - exclamei.
Havia torradas, suco e, como se eu já não tivesse bebido o bastante nas últimas vinte e quatro horas, champanhe.
Lee tirou a camiseta e a calça jeans e voltou para a cama, para o meu lado, pegando um pedaço de torrada e o colocando na boca.
- Feliz Natal - disse ele.
Dei-lhe um beijo. Depois, outro, até quase derrubar a bandeja, e então me sentei direito para beber um pouco de suco.
- Eu não estava bem, ontem - disse
Olhei para ele, surpresa.
- Não? Por que?
Ele me olhou intensamente.
- Fiquei louco de ciúmes por você ter saído com aquele vestido. Eu agi mal, me desculpe.
Houve uma longa pausa, interrompida somente pelo barulho da sua mastigação.
- Por que você tem essa coisa com vestidos vermelhos? - perguntei.
Ele deu de ombros.
- Não é que eu tenha uma atração especial por todos os vestidos vermelhos. Só o seu. Com você dentro.
- Eu o vi ontem à noite no centro - falei. - Você estava discutindo com alguém em um beco.
Ele não falou nada, apenas colocou a bandeja na lateral da cama.
- Parecia alguma transação de drogas - insisti. - Algo do tipo. É isso que você faz? Tráfico?
- Não faz sentido você me perguntar isso, Catherine. Você sabe que eu não vou responder.
- Seu trabalho me assusta - disse.
- É por isso que eu não falo sobre isso com você.
- Se você se machucasse... tipo, se machucasse de verdade... será que eu fi caria sabendo? Alguém me ligaria avisando?
- Eu não vou me machucar.
- Mas e se acontecer?
- Eu não vou me machucar - repetiu ele.
Ele pegou o copo vazio da minha mão e o colocou na mesa de cabeceira, em seguida me fez deitar e me beijou.
- Lee, minha cabeça está me matando.
- Vou fazer você se sentir melhor - disse ele.
Não melhorou em nada, é claro, mas valeu a pena tentar.
[...]
Meu celular tocou quando ainda estávamos enroscados um no outro. Eu o desliguei com facilidade, para me concentrar no corpo de Lee e em seu ritmo, mas ele fez uma careta e eu o senti tenso, distraído.
- Essa porra desse telefone - esbravejou ele, passando a mão na testa.
- Esqueça isso. Não se preocupe. Não pare.
Aquilo mudou o clima. Ele me afastou energicamente, me agarrou pelo cabelo e me virou de bruços. Soltei um grito de dor súbita, mas ele pareceu nem ouvir, forçando uma penetração por trás. Tentei me soltar, mas ele puxou minha cabeça na sua direção e continuou, com ainda mais força.
Só levou um minuto. Ouvi seu grunhido ao gozar, depois ele saiu de dentro de mim, desceu da cama imediatamente e foi para o banheiro, batendo a porta com tanta violência que os vidros da janela tremeram.
Fiquei ali, deitada, com o couro cabeludo doendo no local em que ele puxara meu cabelo. Eu ouvia meu coração bater forte no peito. Que porra era essa? Ouvi o chuveiro sendo ligado.
Quando o telefone tocou novamente, atendi.
- Querida! Feliz Natal.
Era Sylvia.
- Oi, querida, tudo bem?
- Ainda não. Não estou tão bêbada quanto gostaria. E você?
- Ainda é meio-dia e meia - respondi, olhando as horas. - Você já começou?
- Claro. Não me diga que ainda está na cama.
- Talvez.
- Bom - disse ela, ressentida -, provavelmente eu também estaria se tivesse Lee para me fazer companhia.
- Fique à vontade - respondi-, ele está bem irritado essa manhã.
- Sei. Quer que eu vá até aí e dê um jeito nisso?
- Não, não precisa - respondi, rindo ao imaginar a cena. - O que vai fazer hoje?
- Você sabe, as coisas de sempre... Minha mãe quer que eu ajude a preparar o almoço, eu quero estrear as minhas roupas novas. A velha história.
Desliguei o telefone um pouco depois e me vesti. Uma calça jeans desbotada, um suéter e meias grossas. Lá embaixo, a cozinha estava uma bagunça, migalhas de pão e saquinhos de chá dentro da pia. Eu já havia lavado metade da louça, cantando uma música natalina junto com o rádio, quando Lee apareceu. Estava so de calça jeans, mais nada. A parte superior de seu corpo estava tensa, a pele úmida. Ele me segurou pela cintura, me dando um susto.
- Você está bem? - perguntei.
Ele enterrou o rosto no meu pescoço.
- Aham. Só com raiva dessa porra de telefone. Quem era?
- Sylvia.
- Eu deveria imaginar.
- Você me machucou, sabia?
Girei envolta em seus braços para olhá-lo.
- Machuquei como? Você puxou meu cabelo, doeu muito.
Ele abriu um sorriso estranho e afagou minha cabeça.
- Então me desculpe. Não gosta de um pouco de brutalidade?
Considerei a questão.
- Acho que não. Não dessa maneira.
Ele me soltou e deu um passo para trás.
- Toda mulher gosta de brutalidade. As que dizem que não são mentirosas.
- Lee!
Mas ele apenas riu e foi para a sala. Talvez estivesse brincando, no final das contas, pensei, talvez não acreditasse no que disse. Passei os dedos pelo meu cabelo, das raízes até as pontas. Vários fios saíram na minha mão. Olhei para aquele monte de cabelo e joguei fora na pia da cozinha.
ℂ𝕠𝕟𝕥𝕚𝕟𝕦𝕒...
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No Escuro
RomansaCatherine Bailey aproveitou a vida de solteira o bastante para reconhecer um excelente partido quando o encontra: lindo, carismático, espontâneo... Lee parece bom demais para ser verdade. Suas amigas concordam plenamente e, uma a uma, todas se deixa...