𝒞𝒶𝓅𝒾𝓉𝓊𝓁𝑜 26

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𝑆𝑒𝑥𝑡𝑎-𝑓𝑒𝑖𝑟𝑎, 30 𝑑𝑒 𝑗𝑎𝑛𝑒𝑖𝑟𝑜 𝑑𝑒 2004

Liguei para Sylvia em janeiro, uma semana após ela começar no seu novo emprego. Da primeira vez, caiu na caixa postal. Resolvi enviar uma mensagem de texto, mas não ruim para fazer aquilo; minha cabeça parecia que ia explodir e eu estava sem dúvida com os hormônios à flor da pele, pois não parava de chorar.

À noite tentei de novo, e dessa vez ela atendeu. Estava em parte esperando ouvir ao fundo os ruídos de uma bar, mas estava tudo calmo.

- Oi, Sylvia, sou eu.

- Oi, Catherine, tudo bem?

- Tudo bem. Como vão as coisas ai? Estou louca para saber. O emprego é o máximo? Você está podendo falar agora? 

- Sim, está tranquilo. Vou sair daqui a uma hora mais ou menos, estava só sentada fingindo ler umas coisinhas. Está tudo indo bem. Mas é bastante movimentado, frenético até. Bem diferente do Lancaster Guardian.

- E o apartamento? 

- Bem, ai é outra história. Estou morando om uma pessoa que adora escutar os Carpenters a todo volume a porra do dia inteiro e um casal que os está brigando aos berros ou trepando aos berros. Hoje passei o dia todo no jornal cantarolando "We've Only Just Behun". Portanto, estou à caça de outro lugar para morar.

- Estou com saudades.

- Eu sei, meu bem. Também estou com saudades. E como vai Lancaster? 

- Só chove.

- É o trabalho.

- Cansativo, agitado, estressante.

- E as meninas?

- Já faz um tempo que a gente não se vê.

- Como assim? Você anda doente ou o quê? Não tem saído?

- Tenho saído com Lee. Mas não vejo as garotas faz tempo.

Houve uma longa pausa no outro lado da linha. Eu ouvi remexendo no que mais parecia uma pilha de sapatos.

- Estou preocupada, Sylvia. Está tudo dando errado.

- Tudo o quê? 

Ainda dava para ouvir um barulho e, depois, uma imprecação abafada.

- Com Lee. É que... Às vezes fico com muito medo.

Finalmente ela parou o que estava fazendo.

- Por que está com medo? Não medo de Lee, é claro. Ele é um amor. Está com medo de perdê-lo?

Fiquei quieta por um instante, tentando encontrar as palavras.

- Nem sempre ele é um amor.

- Vocês andam brigando?

- Mais ou menos. Não sei. Eu ando cansada e ele está trabalhando muito. Quando consigo vê-lo, tem que ser sempre nas suas condições, e ele não que que eu saia mais sem ele.

Sylvia suspirou.

- Mas vamos ser justas, meu bem, ele até que tem certa razão. Lembre-se de como você era, com nós todas éramos, quando ele a conheceu. Você saía toda noite, e com a única intenção de azarar os caras. Não me surpreende que ele fique com medo de deixá-la sozinha por aí.

Como eu não disse nada, ela prosseguiu.

- Agora você está em um relacionamento sério, querida. São outras regras.

Então adotou um tom mais brando:

- Lee é um homem bom, Catherine. Não se esqueça de que os seus outros namorados eram uns grandes babacas. Tenho certeza de que só quer protegê-la. E além de ser um gato, ele também ama você, de verdade. Todo mundo comentou isso depois daquele jantar. Ele está, é óbvio, completamente apaixonado por você. Todas as mulheres sonham com isso. Quisera eu ter alguém assim. Quem dera ter o que você tem.

- Eu sei.

Eu estava tentando impedir que minha voz denunciasse minhas lágrimas.

- Olha, amiga, tenho que ir agora. Por que não me liga no fim de semana?

- Ligo, sim. Divirta-se. E se cuide, viu? 

- Pode deixar! Então, tchau. Tchau, gata.

E ela desligou. 

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𝙲𝚊𝚙  𝚙𝚒𝚚𝚞𝚎𝚗𝚘  𝚎𝚞  𝚜𝚎𝚒 𝚔𝚔𝚔

𝙴𝚜𝚙𝚎𝚛𝚘  𝚚𝚞𝚎  𝚎𝚜𝚝𝚎𝚓𝚊𝚖  𝚐𝚘𝚜𝚝𝚊𝚗𝚍𝚘 ツ

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