♈Capítulo 1 - Fugas Inusitadas e Reivindicações Impertinentes♉

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23 HORAS ANTES

A noite na cidade grande não era estrelada como deveria. Não ostentava o azul denso e místico que as pinturas no museu prometiam. O que se via ao olhar para os céus a noite era um fundo opaco manchado pelo cinza da fuligem industrial, em que um ou outro ponto celeste poderia se destacar se brilhasse forte o suficiente para competir com as luzes da cidade.

A moeda dourada que Han jogava em direção aos astros adicionava e excluía cor ao fundo sem graça, conforme girava e retornava as mãos do garoto em uma dança de cara ou coroa.

Está vendo alguma coisa aí de baixo ? ㅡ A voz de Minho surgiu pelo walkie talkie.

Existiam muitas coisas das quais Han gostava, como o cheiro fresco das flores em seu trabalho formal, a sensação refrescante da brisa tímida da noite contra os cabelos compridos, nomear os astros no céu quando a poluição permitia. Mas todas essas eram atividades serenas e contemplativas e isso as fazia serem desconsideradas na listagem dos tópicos de coisas que amava.

Han amava a curiosidade instigada pelo suspense, os arrepios de ansiedade que precediam uma grande descoberta e o calor da adrenalina do corpo em ação. Por isso, havia escolhido para si um hobby peculiar, para dizer o mínimo. A maioria das pessoas se contentariam em gastar o tempo livre jogando futebol, desenhando personagens de anime ou assistindo séries teen com um elenco que já passou da "fase teen" há alguns bons anos. Mas ele não.

Ao invés de distrações comuns, o que Han realmente amava fazer em seu tempo livre era analisar e desvendar casos de adultério. E ele levava a sério aquela recreação. Tanto que no momento estava completamente trajado em um macacão de gari, apenas para não levantar suspeitas em sua vigia e marcar com precisão de qual direção e em que horário o suspeito da vez chegaria para se encontrar com sua amante.

ㅡ Além de pilhas e pilhas de panfletos para catar? ㅡ Han devolveu a moeda de metal dourado ao bolso e substituiu o tato pela haste comprida que usava para selecionar os papéis espalhados pela grama. Destinou alguns segundos a, desviar o olhar ao trabalho de Lee Minho na lateral do prédio da frente. ㅡ Apenas a cabeça nada simétrica do seu Simpson. A pose de torcicolo é liberdade artística?

Acho que eu deveria era colocar uma cabeça tamanho gigante e batizar em sua homenagem. ㅡ Do alto de um andaime Minho adicionava jatos de spray colorido ao desenho urbano, enquanto o canto dos olhos vasculhavam discretamente o horizonte ao qual tinha acesso. Você não disse que ele era pontual?

O hobby de Han era um hobby solitário. Ele gostava de bancar o Sherlock Holmes, mas não fazia questão nenhum de ter um Watson em seu cangote. Lee Minho foi a exceção da noite por ter enchido o seu saco tempo o bastante para o levar. Não se viam há uns cinco meses, mas o outro não questionou as suas regras de disfarce. Seu papel da noite era ser um delinquente juvenil do tipo que pichava laterais de prédios, trajando jaquetas de couro e jeans gastos (o que não divergia muito de seu estilo cotidiano), enquanto observava o movimento da rua na outra entrada do prédio.

ㅡ Ele costumava ser. Mas agora pelo menos podemos dizer que ele não é só um péssimo marido. Além de usar a moça de amante, ainda deixa ela plantada esperando. ㅡ Han segurou a sacola plástica preta, agora cheia de panfletos, com um certo esforço e a apoiou no banco da calçada para atar um nó em sua extremidade, encolheu a haste seletora até que ficasse no tamanho adequado para prender nos passantes da calça. ㅡ Pelo menos o cara está sendo coerente com a personagem traíra que criou.

Ele bem poderia ser coerente tipo a Cinderela que chega dentro do prazo. Eu não aguento mais ficar aqui parado. Já adicionei uns cinquenta detalhes na blusa do Homer. ㅡ Han revirou os olhos.

♈Sósia♉| MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora