♉ Capítulo 16 - Basta Um Olhar Obstinado ♈

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JISUNG

Um fôlego de ar era tudo o que precisava para que desvanecesse aquela queimação insistente no peito. Apenas um fôlego seria o bastante. Mas era tão difícil o alcançar. Tudo o que via eram as estrelas desfocadas e rodopiantes da semiconsciência em que estava, os membros dormentes pelo choque certamente não o ajudaram em sua retirada abrupta até a sacada, mas a mente estava tão anuviada que mal registrara os hematomas anteriores que definitivamente arderiam ainda mais, assim que o peso do luto deixasse suas veias.

O baque morno da manhã de primavera contra os sentidos dormentes foi o bastante para que ao menos a respiração voltasse a sua condição funcional, mesmo que ainda totalmente descompassada. Apertadas contra o parapeito limiar do prédio, as dobras dos dedos se embranqueciam e Jeon Jisung lutava muito contra seus próprios instintos para que a visão não fizesse o mesmo.

Passou tanto tempo evitando o pensamento que agora que a inevitável hora havia chegado estava completamente estático. Não existia mais farsa a qual recorrer ou realidade paralela em que poderia evitar o estrondoso fato de que o Senhor Jeon Suho estava agora comprovadamente morto. Nenhuma realidade nesse mundo, ao menos.

Da sacada, Seul parecia totalmente calma e branda, não que sua mente conturbada pudesse registrar calmaria com precisão, mas existia algo na forma como os carros se moviam e os pedestres caminhavam que o convidava a se deitar sobre aquela exata paisagem. As mãos na mureta de concreto foram substituídas pelos seus pés hesitantes. Estava no oitavo e último andar daquela construção e o vento morno pareceu refrescante, quando se posicionou ereto ali em cima. O corpo estava inclinado sob a cidade e a altura o convidava a dar um passo à frente em direção a queda bruta. Perguntou-se se o seu nome seria difundido tanto quanto o do pai. Seria uma tragédia grande o bastante para entreter o público por pelo menos alguns meses até que um novo escândalo surgisse.

Fechou os olhos e abriu os braços. No peito, o diadema com o lembrete de seu título pesava cada vez mais.

ㅡ Hanji. ㅡ ouviu distante o timbre conhecido.

ㅡ Estou começando a me irritar com você me seguindo para cima e para baixo.

ㅡ Alguém tem que te impedir de fazer besteira. Desce daí por favor.

Jisung sentiu um sorriso brotar no canto de seus lábios, mas não era de alegria ou satisfação. Era algo como desprezo. Pela primeira vez Lee Minho parecia ingênuo a seus olhos, totalmente alheio a situação que se desenrolava. Totalmente alheio a guerra de tronos em que seu título estava envolvido. Aquilo acendeu uma faísca em si. Jisung deu um passo mais para a beira do concreto e ouviu o motoqueiro atrás de si se aproximar um passo também.

ㅡ Eu teria raiva de você se não soubesse de sua inevitável ignorância.

ㅡ Fala português, caralho. ㅡ gritou exasperado.

ㅡ Você não sabe de nada o que está acontecendo. ㅡ devolveu no mesmo tom. ㅡ Você não faz ideia do que está em jogo agora. Das coisas que eu terei que fazer, as responsabilidades que terei que tomar. ㅡ Jisung se aproximou ainda mais da borda, o coração acelerado. ㅡ Mas eu não te culpo. Você não teria como saber mesmo.

ㅡ Então me conta. Eu quero saber agora.

Jisung desviou o olhar até Minho brevemente e o lançou um sorriso triste, antes de voltar a atenção para os prédios a sua frente. Pendeu um dos pés para fora do edifício e sentiu uma batida forte de seu coração contra as orelhas, um suspiro audível lhe escapou dos lábios pela adrenalina crescente. Deixou que a euforia do perigo iminente o dominasse que extraísse de seu corpo e minasse todos os sentimentos de impotência, todos os sentimentos de estaticidade e manipulação.

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⏰ Última atualização: Mar 27, 2022 ⏰

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♈Sósia♉| MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora