♈Capítulo 2 - Interpessoalidade Conturbada♉

81 6 0
                                    

11 HORAS ANTES

A brisa primaveril fazia tilintar os sinos de vento, mas as badaladas brandas e ritmadas, não eram ouvidas por quem estava no interior da floricultura. O vidro, concreto e a madeira que constituíam sua estrutura eram eficientes o bastante para abafar ruídos singelos e manter no interior somente o mantra Ho'oponopono que soava sutilmente nos autofalantes, seguido pela batida característica de Han digitando no teclado de seu notebook.

A noite anterior não havia gerado tantos frutos quanto gostaria. Ainda assim precisava upar tudo o que tinha conseguido captar para a nuvem. Afinal, a perca de imagens é sempre uma possibilidade iminente.

Regra número um do trabalho: sempre tenha os arquivos salvos no backup e em mais de um meio. Nunca se sabe quando algum suspeito rancoroso tentará danificar o conteúdo. Ou quando o detetive desastrado apagará tudo sem querer, mesmo que esse último tenha ocorrido somente uma vez e ele conseguiu se virar muito bem. Obrigado.

Deixou que a barra de transferência se enchesse por completo e no segundo seguinte Han se embrenhava em meio as prateleiras, equilibrando dois vasos de gerânio em um dos braços, enquanto escalava uma velha escada de madeira para posicioná-los no lugar. Se achou vitorioso ao concluir a tarefa sem uma lasca fincada no dedo.

ㅡ Alguém acordou disposto hoje. ㅡ escutou Minho dizer surgindo por entre as prateleiras. Han o lançou um olhar estreito.

ㅡ Ninguém levanta disposto após três horas de sono. ㅡ lançou, e o outro captou a mensagem antes mesmo de ela ser completa em tom de sarcasmo. ㅡ Ainda mais se o motivo da privação de sono fosse inútil graças a alguém que não sabe tomar conta dos próprios alarmes. ㅡ Han olhou para Minho do alto da escada. ㅡ Me passa aquele lírio, por favor. ㅡ pediu e Minho recolheu a planta do chão e o entregou.

ㅡ Em minha defesa, nós estávamos longe o bastante para não sermos percebidos.

ㅡ O policial discorda de você. ㅡ do alto da escada, Han continuava a receber as plantas que o amigo o erguia.

ㅡ Pelo menos o meu alarme não levou ninguém a usar a gente como alvo.

ㅡ Foi exatamente isso que aconteceu. Se o seu alarme não 'tivesse tocado, nós não estaríamos naquela situação para começo de conversa ㅡ Han respondeu, ajeitando os vasos a frente em fileiras simétricas. Deixou a atenção recair para o recado que a planta levava em sua etiqueta.

ㅡ Você tem um ponto. ㅡ concordou dando de ombros. ㅡ Mas os lírios têm um mais interessante: "Rancor é a intoxicação da alma. Aprenda a perdoar e será livre". ㅡ Minho recitou em voz alta, lendo a passagem da planta que tinha em mãos, antes de entrega-la para que fosse posta no lugar correto. ㅡ . Você deveria seguir o conselho dos lírios. Afinal, o que seria de você no meio da estação sem a minha ajuda camarada?

Ele tinha certa razão nessa.

A colheita de Abril era sempre a mais farta, o meio da estação proporcionava a maior variedade de cores para a loja. Dos clichês vermelhos aos mais variados tons de amarelo, a loja prendia uma boa fatia da primavera e Han era responsável por organizar e classificar todas as categorias pertencentes a ela. E sua organização se estendia não só as cores e tipos de planta, como também aos símbolos e significados que carregavam. Em um ramo tradicional, era preciso se destacar para atrair clientes e as simbologias variadas que a loja exibia, faziam certo sucesso naquela cidade supersticiosa.

ㅡ Seja eficiente o bastante e posso pensar no caso. ㅡ disse alfinetando, Minho riu.

ㅡ Quais os planos para hoje a noite?

ㅡ Diário do povo, página 12, artigo um. ㅡ Han respondeu, apontado para o jornal em cima da mesa de ferro.

Minho se direcionou ao local e pegou em mãos o impresso, abrindo na página indicada. Encontrou um convite muito chamativo em roxo e vermelho, os glifos de Áries e Touro no topo se encontravam para formar a logo da empreitada. O título dizia "Cúspide, a grande festa da virada".

♈Sósia♉| MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora