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Abro a porta de madeira devagar, encontrando as figuras concentradas de minha mãe e Lina um pouco mais a frente na sala de estar. Fecho a porta atrás de mim e tiro os sapatos, os deixando ao lado da entrada, suspirando aliviada ao sentir o chão frio de madeira sobre as solas dos pés. O ar dentro de casa sempre é fresco, ajeito o cabelo atrás da orelha me aproximando da sala, os dois olhares se erguendo na minha direção.

- Amarie, está tudo bem? - Minha mãe pergunta, franzindo o cenho. - Está pálida.

- Estou, só... Está quente lá fora. - Minto, forçando um sorriso em sua direção. - O que estão fazendo?

- Mamãe estava me ensinando a bordar. - Lina se afasta, correndo até o sofá onde acabo de me sentar e se sentando ao meu lado. - É uma chatice só.

Seguro uma risada diante da expressão indignada de minha mãe.

- Acho que você merece uma pausa para comer um pouco. - Sorrio para a menina, entregando para ela a sacola de papel, que é arrancada de minhas mãos em instantes.

Passo a mão pelo cabelo ruivo da garotinha e sorrio fraco ao vê-la atacar os bolinhos, o açúcar caindo sobre seu vestido escuro e se acumulando nas bochechas a cada mordida feroz nos doces. Minha mãe ainda nos encara indignada, Olivia é o tipo de mulher que está sempre impecável: O cabelo tão ruivo quanto os da filha mais nova presos para cima, o vestido longo sempre em cores claras muito bem alinhado e a postura ereta.

Ela balança a cabeça se dando por vencida e olha novamente em minha direção.

- Seu pai está em casa. - Ela diz e não consigo evitar o sorriso em meu rosto, afinal, já fazem meses que não o vejo. - No escritório.

Me levanto rápido e caminho a passos largos pelo corredor principal da casa, subindo as escadas correndo sentindo um comichão quase eufórico percorrer todo o meu corpo a medida que me aproximo das portas escuras de carvalho, as abrindo de imediato e encontrando o homem de pé ao lado da grande janela que ilumina o cômodo. Aquele escritório era o completo oposto do restante da casa, com móveis em madeira escura, tapetes e cortina verde musgo e uma bagunça de papéis por toda parte.

Caminho até ele e o abraço forte por alguns instantes, me separando do mais alto para encarar o jardim através da janela sob o silêncio confortável que se instala entre nós.

- Fiquei sabendo que você vai trabalhar no quartel general em Liberio. - Ele suspira. - Não é como se eu estivesse satisfeito, mas estou muito orgulhoso.

- Eu vou ficar bem. - Sorrio para ele, endireitando minha postura logo em seguida. - Já vou começar na próxima semana.

- Sabe que se acontecer qualquer coisa, pode pedir minha ajuda. - Ele pousa uma mão em meu ombro, os olhos azuis me encarando com preocupação. Coloco minha mão sobre a sua e a aperto, continuando sob seu olhar atento, até que ele franze o cenho para mim. - Você está bem? Parece abatida.

- Não é nada. Não precisa se preocupar. - Digo, e Robert ergue uma sobrancelha. - Mesmo.

- Certo, se você diz. - Ele suspira, voltando a se sentar diante da mesa coberta por pilhas de papel. - Preciso terminar isso, nos vemos no jantar. - Assento e me afasto, mas ele me chama novamente. - Não se esqueça que Erin Stuart vem jantar conosco.

- Claro, minha mãe já fez questão de me lembrar hoje cedo. - Reviro os olhos. - Ela não me deixaria esquecer, afinal, Erin vai trazer o filho.

Escuto uma risada desdenhosa antes de deixar o escritório e caminhar em direção ao corredor, o brilho alaranjado do sol que começava a se inclinar em direção ao poente banhando as paredes brancas e os quadros nas paredes. Respiro fundo assim que alcanço o quarto, me escorando na parede fria logo em seguida. Fecho os olhos para evitar a ardência que os acomete e o nó que se forma em minha garganta.

Lionheart I Erwin SmithOnde histórias criam vida. Descubra agora