Lionheart I Erwin Smith

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- Já passaram três dias, vai evitar ele para sempre? - Lina me pergunta assim que me abaixo apressada, me atentando em afivelar os cintos na barriga do cavalo, me certificando de que não estão muito apertados.

- Não estou evitando ele. - Digo para ela, espiando sobre as costas do animal a figura de Erwin se afastando acompanhado de sua Tenente. - Eu só não quero que ele me faça perguntas.

Lina revira os olhos enquanto tira alguns vidros de antibiótico de dentro de uma caixa e me entrega. Não me lembro do motivo pelo qual Erwin estava comigo aquela noite, mas infelizmente o álcool não apagou da minha mente a lembrança do nome de Ethan disparando da minha boca seguido de um monte de pedidos de desculpa. Apaguei depois daquilo e o Comandante não havia me procurado, apenas me dispensou da expedição através de Levi.

Lina estava certa em dizer que estou o evitando, afinal, não quero responder perguntas complicadas, como quem é Ethan e qual é o tipo de relação que temos. Entretanto em algum momento teria de falar com ele afinal, passaríamos semanas fora na primeira expedição para fora da Muralha Maria. Me pergunto o que eles imaginam que há além dos muros, se divagam sobre isso quando não têm nada melhor para fazer. Me perco em pensamentos enquanto arrumo os fármacos na bagagem até que sou chamada para a realidade com o som de Lina pigarreando.

- Marie. - Ela me chama e me viro a tempo de ver Eren se aproximar acompanhado da garota que sempre o acompanha em todo lugar, Mikasa.

- O que você quer? - Pergunto para Eren. De todas as pessoas nesse lugar, ele é a única com quem faço questão de ser grosseira.

- Mikasa está com muita dor de cabeça. - Ele responde, apontando para a garota ao lado dele. O cabelo negro esconde parte de seu rosto e o cachecol vermelho esconde a outra. Ela permanece em silêncio e imóvel.

- Certo. - Digo, revirando a caixa que Lina segura em busca de analgésicos. O frasco de vidro reflete a luz do sol quando o estendo para Mikasa, que o pega da minha mão e se afasta em silêncio após murmurar um "obrigada". Eren permanece na minha frente e ergo as sobrancelhas para ele esperando que diga algo. - Você quer mais alguma coisa?

- Não, não é nada. - Ele suspira, passando as mãos pelo rosto. - Um companheiro que perdemos... Adoraria estar aqui hoje.

- Armin Arlert, não é? - Me surpreendo quando a voz de Lina corta o silêncio desconfortável e Eren também parece espantado. A menina suspira e continua: - Eu sinto muito, Sasha me contou que eram como irmãos e que ele era muito querido por todos.

- Sim, ele era. Obrigado. - Eren responde simplório e se afasta, lançando um último olhar para mim por cima do ombro e assentindo com a cabeça devagar.

Entendo o gesto do garoto como uma trégua, depois dos últimos dias cheios de insultos e provocações de ambas as partes. É quase impossível para mim ter simpatia por Eren ou desejar sua amizade, principalmente diante de seus discursos intermináveis e repetitivos acerca de conseguir liberdade para a humanidade. Parece não entrar na mente do garoto que não importa de onde venhamos, nós nunca poderíamos ser livres no mundo onde nascemos.

Troco um olhar de estranhamento com Lina e logo em seguida, monto o cavalo, que estremece e reclama um pouco enquanto tenho dificuldade em me ajeitar em sua sela com todo aquele equipamento. Assim que me vejo um pouco mais confortável, ajeito a capa esverdeada ao redor do pescoço e jogo o cabelo por cima dela, o ajeitando com os dedos em seguida.

- Você deveria cortar esse cabelo. - Lina resmunga enquanto cavalga ao meu lado em direção aos portões, onde o restante do esquadrão se reúne.

- Não enche. - Respondo revirando os olhos. - Ninguém vai cortar o meu cabelo.

A menina se dá por vencida antes mesmo do início da discussão, sabendo que não a venceria. Desde sempre meu cabelo foi mais do que sagrado para mim, e foram poucas as vezes em que ele encontrou uma tesoura. Ela usa roupas casuais diferente de todos os outros, cujos olhares vão diretamente para ela quando nos juntamos ao grupo do lado de fora, que recebe instruções de Erwin. O Comandante se interrompe assim que os olhos se encontram com os meus. Engulo a seco diante do contato visual e desvio o olhar para Levi, que parece desejar que eu caia do cavalo nesse instante mesmo. Não havia sido fácil o convencer de que eu não deixaria minha irmã sozinha naquele quartel general.