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- Mas que história é essa? Mãe! - Jonathan se levanta também, abismado.

- Não olhem para mim como se eu fosse louca. - Erin encara meus pais. - Eu sei quem ela é porque fui eu quem a deixou na porta daquele orfanato!

Silêncio.

Engulo a seco e dou alguns passos para trás, sentindo o mundo dar inúmeras voltas ao meu redor, cada vez mais rápido. Sou amparada por uma das empregadas, que me apoia para que eu não vá direto para o chão. Minha mente está acelerada e posso ouvir as vozes abafadas discutindo, mas não posso entender absolutamente nada do que dizem. Meus olhos viajam pela sala de jantar debilmente tentando encontrar um ponto qualquer para se fixarem quando sinto os bracinhos pequenos ao redor dos meus quadris. Olho para baixo e encontro Lina, o cabelo bagunçado e o rostinho tão assustado quanto eu estou, os olhos azuis arregalados para mim como um pedido de ajuda.

Como o menino eldiano.

Balanço a cabeça e respiro fundo, parecendo voltar à realidade.

- Já chega! - Exclamo alto, atraindo a atenção de todos. - Estão assustando minha irmã.

- Lina, querida... - Ouço a voz relutante de Olivia. - Vá para o seu quarto, sim?

- Está tudo bem. - Digo baixinho e me obrigo a sorrir para ela, passando a mão em seu cabelo. - Eu falo com você depois, prometo.

Lina assente devagar e sai da sala, acompanhada de uma empregada. Ambas caminham pelo corredor e desaparecem de vista, quando volto a encarar as outras pessoas na sala de jantar. Meu olhar chega até Erin e cruzo os braços na frente do corpo.

- O que você está dizendo? É a minha mãe, por acaso? Ou você a conhecia? - Pergunto, tentando conter a raiva e o medo que crescem em minhas entranhas.

- Eu a conheci. - A mulher responde devagar.

- É melhor temos essa conversa em outro lugar. - Meu pai faz um sinal na direção da porta aberta para a sala de estar e faz uma pausa quando Jonathan se aproxima. - Apenas nós quatro.

O garoto entende a mensagem e se afasta para o corredor. Caminho até a sala de estar e até que todos se acomodem o único som que podemos ouvir é o crepitar da lareira acesa. Aperto com força os braços da poltrona macia quando Erin finalmente começa a falar. Não posso deixar de notar os olhares de Robert e Olivia sobre mim, assim como o fato de que ambos se sentaram do lado oposto da sala ao que eu estou.

- Eu costumava ir a esse restaurante em Liberio. Apesar da localização, era um dos melhores que já fui. Era frequentado apenas por marleyanos quase todas as vezes em que fui lá. Tinha uma garçonete, uma mulher loira muito bonita com seus vinte e poucos anos. Era nítido que ela estava grávida, mas sempre tentava se esconder nos aventais e no uniforme largo. - Erin suspira. - Até o dia em que eu perguntei a ela sobre o bebê. Já era o fim do expediente e eu era a única cliente que ainda estava lá.

"A mulher arregalou os olhos para mim e não demorou até que se desmanchasse em lágrimas na minha frente. Disse que estava doente, que o noivo era marleyano e com certeza a deixaria caso ela lhe desse uma criança eldiana. Ela era mesmo uma mulher franzina, muito baixinha apesar do rosto ser o de uma moça saudável. Implorou para que eu a ajudasse, levando seu bebê a um orfanato em Marley quando a criança viesse ao mundo. Queria que o filho tivesse... Oportunidades melhores para sobreviver. Uma criança eldiana órfã não duraria muito."

Sinto meus olhos se encherem de lágrimas e as sinto rolarem livremente pelo meu rosto, quentes contra a pele gelada. Minhas mãos estão frias pelo nervosismo e sinto um breve formigamento nas pontas dos dedos, mas me recuso a interromper Erin ao menos por um instante que fosse. Minha mente está nublada com suas palavras.

Lionheart I Erwin SmithOnde histórias criam vida. Descubra agora