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- Tem certeza que é só isso? - Lina me encara com os olhos cerrados, desconfiada.

- Claro que sim, eu caí direto com a cara no chão. - Minto, apalpando o corte em meu nariz, que arde um pouco. - Aquele equipamento é uma tortura.

- Tome mais cuidado. - Ela resmunga, revirando os olhos parecendo convencida e se senta na maca, observando atenta enquanto eu termino o pequeno curativo sobre meu nariz, fazendo uma careta de dor para o espelho quando o aperto para grudar bem a tira fina de esparadrapo contra minha pele.

- Eu vou, não se preocupe. E você também. - Olho para a menina pelo espelho. - Sei que ainda está atirando com aquele arco.

Lina solta um sorriso sem graça em minha direção e apenas balanço a cabeça após uma risada fraca. A princípio, vê-la segurar uma arma havia me partido o coração ao pensar nos candidatos a guerreiros, que treinam como soldados adultos desde quando são até mesmo mais novos do que ela. Entretanto, não faria mal algum que Lina aprendesse algo que possa a ajudar algum dia - embora eu reze para que nunca precise - e aquela garota, Sasha, é uma boa pessoa, sem a menor sombra de dúvida. Me repreendo por um instante ao pensar sobre ela dessa forma mas me lembro em seguida que, em teoria, somos aliadas agora.

A realidade me chama de volta junto com as batidas no batente da porta da pequena sala que serve de enfermaria para que eu trabalhe. A figura de Eren aparece e para timidamente esperando que eu o convide para entrar.

- Pode ir para a cama, não vou demorar aqui. - Digo para Lina, que caminha até mim e se despedindo com um beijo rápido em meu rosto e chispando pela porta logo em seguida ao passar direto pelo garoto.

- Pode entrar. - Digo para Eren, que fecha a porta atrás de si logo em seguida. É um cômodo pequeno porém a disposição dos móveis o faz parecer maior do que realmente é.

Deixo o material de curativo de volta a seu devido lugar e me viro para ele, indicando com a cabeça a maca em minha frente. Eren se senta onde Lina estava antes e me ajeito melhor na cadeira, cruzando os braços sobre o casaco para o encarar.

- Há algo de errado? - Pergunto. - Você pode se curar sozinho, do que você precisa?

- Eu estive com o Comandante Erwin, hoje logo depois que você saiu da sala dele. Contei a ele algumas coisas e ele pediu que eu as contasse para você. - Eren diz e suspiro.

- Que coisas? - O incentivo a ir adiante, por mais que a vontade de o mandar embora dali cresça dentro de mim cada vez mais.

Eren hesita por um instante, estalando os dedos da mão enquanto parece pensar nas palavras certas. A expressão em seu rosto consegue ser tão assistadora quanto de manhã.

- Quando você me tocou, desencadeou algumas memórias do meu pai que eu ainda não tinha visto. - Ele pausa mais uma vez. - Ele... Era o seu pai também, afinal.

- Ele... Espera, o que você viu? - Me controlo para parecer o menos surpresa possível.

- Quando Dina contou a ele que estava grávida, ele não gostou. Não queria mais problemas, foram as palavras dele. Eles já tinham Zeke e muitos assuntos importantes, você sabe. - Ele limpa a garganta em um pigarreio. - Mas Dina optou por se afastar, ter a criança escondida e...

- Colocá-la em um orfanato. - Completo sua frase devagar em um fio de voz. Eren confirma com a cabeça e se mantém em silêncio.

Tento identificar a sensação que causa o nó em minha garganta que engulo sem hesitar, respirando fundo em seguida e me recusando a chorar por algo como aquilo. Não vou desabar por duas pessoas que eu nunca ao menos conheci, muito menos na frente de Eren. Olho para o garoto diante de mim e penso que nele também está uma parte de Grisha, emaranhada nas entranhas do filho quando passou o fardo do poder dos titãs para ele.

Lionheart I Erwin SmithOnde histórias criam vida. Descubra agora