Sophia continuava irredutível. Não queria ser uma vampira e se recusava a beber sangue humano ou qualquer outro tipo. Durante as últimas noites Christian e Klaus tentaram dissuadi-la inutilmente. Era um milagre que continuasse viva, pois a abstinência já durava muito tempo e seus sinais eram nítidos. O rosto antes belo ficara encovado, a pele enrugada e os membros secaram a olhos vistos. Parecia que envelhecera décadas, e apenas sua convicção parecia inquebrantável. Christian suplicou, argumentou, vociferou e por fim desistiu. Klaus conversava longas horas com ela, e uma amizade parecia nascer ali. Sentia pena. Um dia, ao voltar da caça, notou como ela, abatida, recordava sua beleza mortal. Como uma mulher vaidosa, ela ressentia-se da condição física em que estava. Klaus imaginou que isso poderia servir como argumento e tentou: pegou um espelho e lhe mostrou seu rosto. Ela tomou-se de horror ao ver o reflexo de sua aparência atual, atirando o espelho na parede e afundando a face nas mãos ossudas. Chorou copiosamente, gritava que queria morrer logo e depois emudeceu por completo. Desde então amargurou-se e evitava conversar tanto com Klaus como com Christian. Limitava-se a pedir livros da biblioteca para ler, consumindo-os numa velocidade vertiginosa, outro dom dos vampiros. Klaus pacientemente levava-lhe vários livros e depois recolhia-os pelo quarto para guardar.
Christian chegara, o som do carro entrando na garagem era o aviso. Trazia consigo um homem muito musculoso e alto, de péssima aparência. Seria o jantar daquela noite.
- Onde conseguiu esse cara? – perguntou Klaus ao vê-lo entrar com o imenso fardo e atirá-lo num canto da sala, inconsciente.
- Perto do aeroporto. Estava prestes a estuprar uma garota num galpão quando passei de carro e ouvi um grito. Quando entrei lá, ele havia dado um soco na pobre, que desmaiou, e tirava o cinto. Acho que iria amarrá-la para terminar o serviço, quando me viu. – Usei o mesmo cinto para prender-lhe as mãos depois de deixá-lo fora de ação... E então, como foi hoje? – ele queria saber de Sophia, mas já deduzia a resposta de Klaus.
- Na mesma... Mas ela tem se acalmado desde ontem.
- Como assim?
- Se acalmado. Não joga mais os livros pelo quarto, deixa-os nos pés da cama. E quando fui levar mais para ela, me agradeceu...
- Acha que ela está melhorando?
- Ainda é cedo para dizer, eu acho... Mas pode ser. Me preocupa o fato dela não se alimentar de forma alguma... É assombroso que esteja consciente.
- Eu também acho. Não encontrei nenhuma referência sobre vampiros que tenham resistido tanto à fome nos arquivos da Irmandade, exceto em períodos de hibernação. Ela é um caso único, parece... – um som no quarto de Sophia chamou-lhes a atenção. Eles entreolharam-se e correram para lá.
Christian espantou-se. Evitava vê-la há dias, e sua aparência estava deplorável. Nada sobrara das formas voluptuosas da jovem e o que via parecia uma múmia! A expressão cadavérica de seu rosto fitando-o deixou-o chocado, o que não passou despercebido por Sophia. Ela mantinha-se apoiada no parapeito da janela com dificuldade, e ao vê-lo deu um sorriso de escárnio.
- Não te agrada o resultado de sua obra? A mim também não...
- N-Não é isso, Sophia!... É que... – Ela não deixou que terminasse.
- Eu não demoro a morrer, agora. Sinto isso.
- Desculpe. Não queria que você sofresse... – lágrimas de sangue começaram a brotar nos olhos de Christian. – E não quero que morra!
- Sei que está sendo sincero... Mas não tem outro jeito, Christian.
- Tem que ter! – os olhos marejados de Christian a comoveram. Conhecia aquele sentimento que o torturava. Ele nem precisava dizer...
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Cross - A ascensão de Sophia
VampiroCross Associados é uma empresa de investimentos tão misteriosa quanto seus poderosos proprietários, como Christian de Gramont, o vampiro líder da Irmandade no Brasil e principal acionista da Cross, que em suas caçadas solitárias pela noite paulistan...