Capítulo 11

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"Enquanto a escuta estiver lá pode me ser útil, e é menos arriscado deixá-la que tentar recuperá-la. Se a descobrirem, jamais vão imaginar qual a sua origem..." – Marcos pensava enquanto dirigia até a redação do jornal. Há dias que tentava encontrar uma pista do tal caminhão, sem sucesso. Já estava ficando nervoso, pois nada realmente aproveitável tinha conseguido até ali. A matéria que imaginara, desvendando o mistério da Cross e revelando um escândalo político ou lavagem de dinheiro, parecia desvanecer-se. Se desistisse agora, poderia dizer que seu palpite sobre a empresa estava errado, pegar um outro projeto e esquecer. Mas sua reputação ficaria manchada, ia parecer que o repórter responsável por grandes furos já não era mais o mesmo... Além disso, nunca deixara de dar ouvidos a sua intuição, e ali parecia ter um peixe grande esperando para ser fisgado. Se outro cara acabasse descobrindo o segredo daquele lugar ele não ia se perdoar. – "Preciso encontrar o fio da meada, como dizia vovó..."

O som do celular deu-lhe um susto. Rapidamente ele encostou o carro e pegou o aparelho, que sempre deixava no console.

- Alô, Marcos? – a voz era do Tenente Farias, velho amigo de Marcos que colaborava sempre com ele em investigações. – Você ainda está procurando notícias do tal caminhão preto?

- E aí, Farias! Claro! – o pulso de Marcos se acelerou. – O quê você tem pra mim?

- Não tenho certeza se é alguma coisa. Uma garota de programa procurou a polícia dias atrás para falar do desaparecimento de outra. Elas moravam no mesmo prédio e faziam ponto no centro. O que me chamou a atenção é que ela disse que um caminhão preto recolheu tudo do apartamento da amiga, e o síndico comentou que pagaram bem para isso...

- Para isso o quê?

- Para tirar as coisas do apartamento! Pagaram bem mais que o devido pelo aluguel, em dinheiro vivo e pediram ao homem que não comentasse...

- Não sei, Farias... – Marcos comentou desanimado – Uma coisa pode não ter nada a ver com a outra... E nem tenho certeza de que o caminhão é preto mesmo. Deduzi isso porque os carros da empresa que estou investigando são todos pretos.

- Ainda não terminei... O síndico, com medo de ter problemas depois, anotou a placa do caminhão. Eu investiguei a placa e bingo! Ele pertence a um sujeito que faz carretos por conta, e o cara declarou que no dia da tal mudança estava fazendo um serviço para a tal Cross que você falou!

- É por isso que te adoro, Farias! Você pode me passar o endereço do lugar?

- Olha lá, vê se não me complica!... Seja o que for que você fizer o meu nome tem que ficar de fora.

- Quando foi que te compliquei? Nunca!

- Tô só avisando, sabe como é... Anota aí o endereço...

Marcos estava eufórico, alguma coisa lhe dizia que ali estava uma pista quente! Seguiu direto até a redação do jornal e encontrou Anderson esperando-o na portaria. Bastou Anderson olhar para ele e deduzir que algo aconteceu ou estava prestes a acontecer, tal a expressão do amigo.

- Que foi? – perguntou – Ganhou na loteria?

- Talvez. Vem comigo.

- Espera! A van tá no estacionamento...

- Ela chama muito a atenção. Vamos no meu carro. – Marcos era assim. Quando algo o estimulava não dava explicação alguma, mas parecia estar certo de ter descoberto petróleo no quintal de casa. Sem dizer nada a Anderson, dirigiu impaciente até um bairro da periferia e parou em frente a um prédio com fachada de cerâmica imitando tijolos.  Até que não era feio o prediozinho, mas vários "tijolos" já haviam se desprendido e a parte pintada da fachada parecia não ver tinta nova a décadas, assim como as construções vizinhas, algumas até sem reboco, no bloco nu. Tocou a campainha do único interfone na parede e depois de alguns instantes uma voz metalizada de homem atendeu: "Quem é?"

Cross - A ascensão de SophiaOnde histórias criam vida. Descubra agora