Descobrir a relação entre a Cross Associados e o desaparecimento da jovem Mariana virou uma obsessão para Marcos. Seu instinto jornalístico gritava que ali havia um grande caso a ser desvendado e renderia uma excelente matéria. E seu instinto não o enganara nunca até ali. Mais de um mês havia se passado desde o encontro com a tal Sílvia e depois disso nada de novo foi obtido. Como a princípio suspeitara do Sr. Thomas, decidiu segui-lo por um tempo. Se o executivo não era um aliciador de garotas para o tráfico de mulheres, o que era pouco provável e depois se mostrou uma teoria absurda, tampouco Marcos tinha outra linha de investigação. Anderson sugerira que continuassem a monitorar a empresa, mas essa atividade já perdera o interesse para Marcos, que queria avançar. – "Talvez Anderson tivesse razão... O velho Thomas sai da empresa para casa e de casa para a empresa, salvo quando vai a algum jantar de negócios... Que vidinha mais sem graça!..." – Olhou para o amigo que dormia no sofá. Anderson tirara-o de seus pensamentos com um sonoro ronco. Isso o fez olhar para o relógio. Já era tarde, mais de uma da manhã e todas as anotações que fizera sobre o caso já tinham sido revistas, procurando alguma ponta solta. Alguma coisa escapava do alcance de Marcos e certamente não tinha relação com o Sr. Thomas Bastos. Ficar batendo nessa tecla seria infrutífero e a experiência de Marcos já mostrara em outras ocasiões que quando isso acontecia era hora de retroceder e buscar outro caminho. A garrafa de café já estava vazia, o sono já se fazia sentir e o dia seguinte ia ser terrível: o editor do jornal mandara um e-mail para Marcos pedindo que desse informações sobre a tal grande matéria logo pela manhã e ele não tinha nada de novo para contar... Precisava tomar um banho e dormir um pouco antes de enfrentar a fera, que se cobrava material era por que estava incomodado pelo tempo que Marcos dedicava ao caso sem apresentar algo útil. Não ia ser fácil convencer o homem a manter esse chove e não molha por muito tempo. Com um suspiro de resignação, o repórter desligou o computador e se espreguiçou na cadeira. Antes de ir para o banheiro, conferiu a porta da sala. Estava trancada. Apagou a luz da sala e deixou o colega dormindo no sofá mesmo. – "É... Uma boa chuveirada e cama é tudo que posso ter agora. Amanhã é outro dia, aí eu vejo o que posso fazer..."
Ao acordar, Marcos sentiu cheiro de pão torrado e café. Anderson assobiava na cozinha enquanto mexia nos armários procurando o que mais fazer para o café da manhã. Ao ver o repórter na porta da cozinha com a cara amassada e o cabelo desgrenhado não se conteve:
- Meu, quando você dorme mal fica assustador heim! Vai lavar o rosto que o café já está pronto!
Marcos fez um gesto obsceno para o amigo e saiu. No banheiro olhou para o espelho e constatou que Anderson tinha toda a razão do mundo. – "Vamos resolver isso!" – pensou. Lavou o rosto, umedeceu o cabelo e se penteou. Depois do café iria fazer a barba, no banho. Anderson gritou da cozinha:
- Nunca tem queijo e ovos nessa casa? Tô afim de um omelete, você não?
- Tem ovos na prateleira de baixo da geladeira – Marcos gritou de volta, do banheiro, enquanto secava o rosto - e um pouco de queijo também, no potinho azul. Pode fazer só para você que eu não como essas coisas de manhã não, meu chapa!
Em instantes o som de fritura era ouvido, e o cheiro do queijo derretido na frigideira enchia a casa, suplantando o do café. "O gordinho deve ter colocado todo o meu queijo minas no tal omelete..." – pensou Marcos. Anderson voltara a assobiar uma música irreconhecível, que depois identificaria como "I fell good", coisa que ninguém jamais iria conseguir adivinhar. Marcos entrou na cozinha e foi direto ao armário pegar um copo. Uma fatia de pão torrado com manteiga e um café preto eram suficientes para o seu desjejum, aliás o pão torrado era até um requinte, já que normalmente era pão apenas dormido que acompanhava o café. Seu colega deu um olhar de aprovação para o repórter e tascou uma generosa porção de omelete sobre uma fatia de pão francês bem passado e, depois de ajeitar o volume sobre a fatia cobriu-o com outra e se sentou em frente a Marcos. O despropósito que segurava em uma das mãos pingava gordura sobre a mesa e Marcos considerou que o seu assistente em hipótese alguma seria capaz de emagrecer. Procurou evitar olhar para o amigo e manteve a atenção no seu próprio pedaço de pão.
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Cross - A ascensão de Sophia
VampirosCross Associados é uma empresa de investimentos tão misteriosa quanto seus poderosos proprietários, como Christian de Gramont, o vampiro líder da Irmandade no Brasil e principal acionista da Cross, que em suas caçadas solitárias pela noite paulistan...