Capítulo 7

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Sophia acordou assustada. Olhou para o lado e notou que a porta da suíte estava entreaberta. Lá de fora vinha a voz de Christian, mas não dava para entender bem o que ele dizia. Parecia estar ao telefone. Ela observou fascinada que aos poucos a voz dele ia ficando mais nítida. Os sentidos de vampiro, mais apurados que os humanos, já mostravam sua eficácia.

Quando se deu conta de que esse era o motivo da audição ficar mais nítida, amuou-se. Ainda não acreditava que era real aquilo, mas os fatos falavam por si. Tentando ignorar a fome que estava sentindo, ela se levantou e foi até a penteadeira. Ao olhar para o espelho se espantou. Nem parecia que dormira tanto! Os cabelos caiam em cachos bem equilibrados e brilhantes, como se tivesse acabado de passar por um cabeleireiro, a pele estava um pouco pálida, mas sedosa. Unhas, lábios, cílios, diversos pequenos detalhes que uma mulher vaidosa não deixa passarem despercebidos, tudo ela conferiu. Nunca se sentira mais deslumbrante, seu olhar apresentava um magnetismo novo, que ela sabia ser uma arma mortal...

Apesar disso tê-la agradado, lembrou-se de quanto lhe custaria. Não podia negar que a simples lembrança de sangue a seduzia, mas também enojava. Sentimento contraditório...

- Já de pé? – Christian entrara jovialmente no quarto, com um sorriso encantador. Ao se virar e vê-lo, impecável num jeans e jaqueta de couro e com o ar mais inocente do mundo, Sophia perguntou:

- Você realmente não se importa com o que está acontecendo comigo, não é mesmo?

- Me importo mais do que imagina... Mas agora é irreversível a situação, e olhe bem para você... Está maravilhosa!...

- Mas não quero ser uma vampira! Como faço para acabar com isso?

Christian olhou para ela com uma expressão triste. Falou devagar e serenamente:

- Eu realmente não queria, não imaginei que fosse ser assim. – passou a mão pelos cabelos dela, que dessa vez não recuou - Sophia, eu também passei por isso, esse conflito. Eu também fui transformado no que sou contra minha vontade mortal, mas acabei aceitando isso como um desígnio do destino. Se quer mesmo saber como acabar com isso vou lhe dizer, mas um mundo de novas possibilidades está na sua frente agora, e só você poderá tomar essa decisão...

- Possibilidades!... Viver matando pessoas? Não era isso que eu...

- Não precisam ser inocentes, Sophia!... Há muitos humanos que merecem esse destino. E por mais absurdo que pareça agora para você, acabamos fazendo o bem quando eliminamos essa escória!

Sophia olhou dentro dos olhos de Christian e percebeu sua angústia. Sentia-se atraída por ele, mas não queria compartilhar sua tragédia. – Você fez isso comigo, Christian!... Faça acabar! – quase sussurrou as últimas palavras, seu rosto praticamente encostando no dele.

- Eu já disse que não conseguiria fazer isso! Se você quer, vá para o sol amanhã cedo, pule numa fogueira... É só assim que um vampiro pode se suicidar. – Os olhos de Christian estavam marejados, ele tremia. Sophia ficou horrorizada com aquilo, também não seria capaz de se matar! – Não me peça para te matar, Sophia. Garanto que não conseguiria. Me perdoe por ter te trazido para este mundo e dê uma chance ao seu novo destino...

A fome tornava-se insuportável para ela, deixando-a enfraquecida. Apoiou-se no tampo da penteadeira e afastou-se de Christian.

- Saia agora, por favor. Quero ficar só. – Não conseguia olhar para ele.

- Você precisa se alimentar. Vou... – Christian não pode terminar a frase. Sophia, num novo acesso de raiva, atirou-lhe um dos vidros de perfume.

- NÃO VOU MATAR NINGUÉM!!! VAI EMBORA!!! – num movimento rápido ela se jogou na cama.

Christian sabia que aquela situação poderia ocorrer, mas estava ficando intolerável. Precisava tomar uma atitude já. Saiu do quarto e trancou-se no escritório, tentando coordenar as idéias. De lá pôde ouvir a fúria de Sophia, que deve ter quebrado tudo o que havia sobre a penteadeira. Para ele também a fome já estava incômoda, não poderia ficar pajeando Sophia. Pelo que notou, a transformação já se completara. Talvez o instinto falasse mais alto e ela resolvesse buscar seu próprio alimento, como qualquer predador noturno. Ele não acreditava que ela fosse tentar se matar. Decidido, Christian resolveu caçar não muito longe da chácara, pois poderia voltar rápido para lá se necessário. Abriu de par em par a janela do escritório, a única que não tinha grades na casa, e saltou como um gato para o quintal escuro, uma altura de seis metros. Em pouco tempo alcançou o muro e subiu ágil pelas trepadeiras até o topo. Lá de cima, antes de saltar para a rua, deu uma olhada para a casa. As cortinas acenavam da janela escancarada do escritório, fantasmas brancos tentando fugir para a noite. Inspirou o ar fresco, buscando distinguir os cheiros que chegavam a ele. Não muito longe dali deveria ter alguém para saciá-lo.

Cross - A ascensão de SophiaOnde histórias criam vida. Descubra agora