Capítulo 12

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Angelina dava um último retoque na maquiagem, complementando com rímel seus já longos cílios, quando o telefone tocou. O som programado da campainha indicava que era Klaus quem a procurava (cada membro da irmandade tinha um som específico na agenda do celular de Angelina). Tentando ignorar o telefone, deu uma olhada no espelho e pensou: "Depois de tantos dias, qual será o motivo dele me ligar? Vamos ver..."

As unhas pintadas de esmalte negro e brilhante deslizaram entre as mechas do cabelo dela, arrumando o penteado, enquanto calculadamente foi do toalete até a sala pegar o telefone na mesinha ao lado sofá para atender. – "Não posso parecer ansiosa ou preocupada, mas certamente ele vai falar da garota..." – O mostrador indicava o número do celular de Klaus, o que significava que ele não deveria estar em seu apartamento.

- Alô, Klaus! Quanto tempo!... – Ela tentou imprimir um tom jovial à sua voz.

- Oi, Angie. O Chris pediu que te ligasse para avisar da reunião agora à noite na Cross.

- Reunião agora? Qual o motivo especial para isso?

- Você já deve imaginar... – Klaus riu – Ele quer apresentar alguém à Irmandade.

- A tal garota? E porque não me ligou pessoalmente?

- É. Na verdade, ele está falando com ela agora. Por isso pediu que eu ligasse para todos...

- Ok, vou já... Até mais. – Apesar de aparentar calma, Angelina desligou o telefone e apertou-o na mão como se quisesse esmagá-lo. A apresentação da nova vampira veio mais cedo do que esperava, e não teria tempo de descobrir nada sobre ela antes dos outros. Imaginava que Christian iria primeiro reunir a Irmandade para informar sobre o sucesso de seu intento e marcar uma outra data para a apresentação... Não havia alternativa, precisava ir nessa reunião. Teria que aproveitá-la ao máximo para sondar a nova integrante e depois, com tempo, descobrir um meio de neutralizá-la... Em meio a esses pensamentos o telefone voltou a tocar, agora era Ivan.

- Alô! – para ele Angelina não precisava dissimular seu mau-humor.

- Oi! Pelo som agradável de sua voz vejo que já recebeu a notícia... – Ivan não perdia uma oportunidade de ser sarcástico, mas no fundo era um amigo fiel de Angelina.

- Claro! Estou de saída para a tal reunião. Você sabe algo que possa me adiantar?

- Só que ela é muito bonita, segundo a descrição de Klaus... Christian sempre teve bom gosto... – O comentário era apenas para importuná-la, uma alusão à época em que Christian e Angelina tiveram um affair, na década de cinqüenta. Ela percebeu, mas preferiu ignorar.

- Tudo bem... Nos vemos na empresa. Depois que conhecermos a fulana, conversaremos mais. – Irritada, Angelina desligou sem se despedir. Como Ivan conhecia bem o gênio da amiga, não se importou, limitando-se a um sorriso irônico. – "Ela está é morrendo de ciúmes!" – pensou.

Angelina desceu para a garagem em seu elevador privativo para evitar um possível encontro com algum vizinho inoportuno. No estado de espírito que se encontrava, seria capaz de matar um imbecil que lhe perguntasse se estava tudo bem...

Quando estacionou o Stratus na garagem subterrânea da Cross, ela observou que foi a última a chegar. Olhou para todos os lados, se certificando que não havia ninguém ali, para só depois pegar seu outro celular no porta-luvas e ligar para o único número que havia na agenda do aparelho. Rapidamente foi informada das últimas novidades em relação ao seu ambicioso plano e desligou, guardando o aparelho no porta luvas...

Todos os veículos ali eram conhecidos e curiosamente, todos eram pretos, com exceção do jaguar de Christian, que mesmo sendo azul, era de um tom quase negro. Ela achava engraçado a preferência dos irmãos por carros daquela cor desde que Ivan comentou esse detalhe, num dia em que também estavam todos lá para uma reunião de emergência. Mas daquela vez o motivo não incomodava Angelina, na verdade nem mesmo se lembrava dele. Agora era diferente... Ela sempre reinara absoluta como única mulher na Irmandade e embora para os outros isso não fizesse diferença, para ela era um diferencial. Desde o início da Irmandade, na década de 50, ela acalentara a possibilidade de se unir definitivamente a Christian e um dia dominar todo o seu império, mesmo quando romperam por volta de 1962. Sempre se considerara a consorte dele e pacientemente esperava que um dia ele voltasse a procurá-la. Isso de repente mudava com a entrada em cena dessa novata, escolhida por ele para integrar a Irmandade da mesma forma que a escolhera na formação do grupo. Era natural que Angelina se sentisse ameaçada! O som do elevador parando naquele andar dissipou seu devaneio, e a silhueta de Ivan surgiu através do retângulo luminoso que se abriu na parede à direita. A garagem tinha um teto bem alto, e a voz de Ivan ressoou como em uma catedral:

Cross - A ascensão de SophiaOnde histórias criam vida. Descubra agora