Capítulo 2

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Sophia abriu lentamente os olhos, divisando a cobertura rendada do dossel. Um leve torpor ainda dominava seu corpo. - “Onde estou? Ah, sim. A casa do ricaço...” – Olhou para o lado e percebeu que estava só. A grande suíte estava na penumbra. Aos poucos Sophia reconhecia nas sombras o mobiliário refinado e recordava as sensações da noite passada. Passou a mão pelos cabelos e espreguiçou-se: era hora de levantar e voltar a viver a realidade, a vida de Mariana, sem glamour nem cetins e rendas caros. Virou-se e acendeu o abajur ao lado da cama. No criado estava um bilhete de Christian:

“A noite foi fantástica. Você é realmente tudo o que eu esperava, mas teremos que conversar mais tarde, pois precisei sair com urgência. Não se preocupe com seu pagamento. As jóias que está usando e as roupas agora são suas e devem valer bem mais que seu cachê, que também será algo com o que não deverá mais se preocupar após ouvir a proposta que tenho para você. Caso sinta fome ou sede, no frigobar tem tudo que for necessário. Me aguarde e te explico tudo.

Christian.”

O conteúdo estranho do bilhete despertou-a finalmente. Que proposta? Que história é essa de fome ou sede? Sophia levantou-se num salto e foi até a porta, acendendo a luz do aposento. Experimentou a fechadura. Trancada. - “Não acredito! O sujeito me deixou presa aqui!” – Bateu na porta com força e chamou:

- Christian! Que brincadeira é essa? – nenhuma resposta.

- Tem alguém aí? – silêncio... – “Não posso entrar em pânico! Tenho que ver como sair daqui.”

A próxima tentativa foi a janela, coberta por grossas cortinas como as do salão. Ao puxá-las, ela precisou conter um grito. Não existia janela, ou melhor, existia, mas depois dela uma placa de aço impedia qualquer tentativa de sair por ali. – “Acho que no banheiro tem um vitrô... Talvez dê para passar.” – Tentando manter-se calma, mas já trêmula pela adrenalina descarregada, ela contornou a cama e abriu a porta do banheiro. Pelo vitral colorido passava um pouco de luz do dia, e seus olhos arderam de imediato ao olhá-lo. O pequeno círculo de vidro parecia incandescente, e com os olhos lacrimejando e semicerrados ela tentou forçar a alavanca. Percebeu que existia uma grossa grade de ferro do lado externo, avançada apenas o suficiente para que o vitrô pudesse ser movido. Sophia estendeu a mão pela abertura e conferiu a robustez da grade, mas ficou surpresa pelo formigamento em seu braço. Ao retirar a mão notou uma vermelhidão na parte superior, como uma leve queimadura. Lembrava as queimaduras que teve quando, ainda adolescente, dormira sobre uma pedra a beira do riacho da fazenda. Queimaduras de sol. O incômodo da luz em seus olhos aumentava e como não seria possível sair por ali ela desistiu e retornou ao quarto. Em pouco tempo uma espécie de frescor, um alívio, tomou conta de seu corpo e o formigamento que sentia no braço exposto à luz desapareceu, juntamente com os sinais de queimadura em sua mão. – “Que coisa é essa?” – Espantada com a mudança, ficou olhando por um tempo sua mão e o braço, mas logo a urgência em encontrar uma saída voltou a assaltá-la. Olhou em volta. Sólidas paredes a cercavam, e uma não menos sólida porta estava a sua frente. Não havia como sair dali. – “Calma, Mariana. Se ele quisesse te matar já teria feito. Isso é outra coisa, mas o quê?” – Sentou-se na cama e tentou por ordem em seus pensamentos. O bilhete de Christian não sugeria nenhuma ameaça, pelo contrário, era até amável. Ele poderia ser doente. Um psicopata que queria mantê-la apenas para seu uso pessoal... Isso não se encaixava. Um homem bonito, bem sucedido, rico. Podia pagar para tê-la quando quisesse ou a qualquer outra. Uma pequena caixa de madeira trabalhada com gravuras florais embutidas na madeira chamou sua atenção. Abriu-a e junto a brincos, colares e anéis que pareciam caríssimos, havia uma chave com um brasão, parecida com uma que observara na noite anterior junto às chaves da casa, quando Christian abria a porta da entrada.

Cross - A ascensão de SophiaOnde histórias criam vida. Descubra agora