Angelina tamborilava nervosamente os dedos no braço do enorme sofá de couro violeta da sua sala de estar, pela enésima vez aguardando que a ligação se completasse. Mais uma vez o celular apenas retornava a voz feminina pausada e modulada da mensagem automática da operadora: “Este aparelho encontra-se desligado ou fora da área de cobertura. Por favor, tente...” – Ela teve vontade de jogar na parede o caro aparelhinho, mas apenas fechou-o bruscamente e largou-o sobre o sofá.
Foi até a vidraça corrediça que separava a sala do terraço, e um sensor como os utilizados nas portas de shopping centers e lojas de departamentos fez deslizarem as folhas de vidro para que ela passasse. Uma lufada do ar morno da noite de verão entrou na sala, envolvendo Angelina. Em passos suaves como de uma gata ela seguiu pelo terraço até sua amurada, de alumínio anodizado e vidro fumê, castanho. A blusa e a pantalona de seda pretas voluteavam na brisa agradável que circulava ali, acariciando a pele fria da mulher. Enquanto observava as luzes dos carros e das ruas da cidade, Angelina imaginava onde poderia estar Klaus. – “Com o Christian, é claro... Mas nenhum dos dois atenderam o celular ou seus telefones de casa. Será que isso tem algo a ver com aquela garota que Christian está querendo transformar?” – O pensamento a fez crispar os dedos na amurada do terraço. Resolveu pegar um cigarro enquanto imaginava quais as opções que teria se isso se concretizasse. A cigarreira de prata estava na mesa de centro, junto do cinzeiro. Ao se abaixar para pegá-la, ela olhou de soslaio para o pequeno celular preto jogado sobre o sofá e lembrou-se da reunião da Irmandade na sala da Presidência da Cross Associados. Ela não quis ficar até o final para tratar daquela sandice que Christian comunicara ter intenção de fazer, mas era praticamente certo que os seis idiotas acatariam seus argumentos. Isso significava que àquela altura ele bem que já poderia ter feito o que queria... Acendeu o cigarro, pegou o celular e voltou ao terraço. Apesar de fumar, Angelina detestava que o cheiro de fumo ficasse impregnado no ambiente e sempre procurava fumar em locais abertos, principalmente em casa. Enquanto atravessava novamente o terraço, ligou para Ivan, seu mais fiel parceiro na Irmandade. O celular tocou duas vezes apenas e uma voz feminina atendeu:
- Alô? Quem é?
- Chame o Ivan, preciso falar com ele. É Angelina Alcântara. – o tom autoritário e firme na voz de Angelina não deixava dúvidas sobre sua importância, e imediatamente o telefone foi passado para Ivan.
- Boa noite, Angie! Má hora para ligar... – Ao fundo o som abafado da música não impediu que ela notasse umas risadinhas femininas, provavelmente duas garotas que iriam desaparecer naquela noite e divertiam seu amigo.
- Vou ser rápida. Não me importo com suas garotinhas suculentas... Me diga uma coisa: Naquela noite da reunião com Christian eu saí antes do fim. O que ficou decidido?
- Aceitamos a proposta dele, e Klaus ficou de monitorar os resultados. Se algo não estiver de acordo, ele e Christian tomarão as providências.
- Bom apetite, Ivan! Nos falamos depois. – Angelina desligou e ficou fitando o movimento dos mortais na noite da cidade. Já estava bem tarde para sair e uma noite sem se alimentar não era algo tão grave. A noite seguinte poderia render um banquete...
Uma das garotas que acompanhavam Ivan no motel estava roçando seu peito quando Angelina se despediu e estranhou a forma irônica dela se despedir. – Quem é ela, sua namorada? Que ela quis dizer com “Bom apetite”? – Ivan segurou os cabelos da outra garota mantendo-a perto de sua virilha e passou a mão pela nuca da primeira, inclinando-se para beijar-lhe o pescoço. – É só uma amiga, benzinho. E não quis dizer nada... – A garota não pôde ver, mas os olhos de Ivan faiscavam na penumbra do quarto.
Restava a Angelina uma ultima tentativa para descobrir alguma novidade: Israel, o jovem cadete da equipe de segurança de Mikael, que há tempos se mostrava interessado nela, talvez soubesse de alguma coisa... Mas Angelina jamais se envolveria com um reles segurança, ainda mais sendo ele o que era, alguém de uma classe que Angelina considerava muito inferior à sua...
Durante o percurso até seu apartamento, Klaus observou que o celular havia ficado no console do Porsche. Em uma rápida olhada viu que haviam ligações não respondidas e ficou curioso. – “Quem será?” – Já dentro da garagem do prédio, conferiu. “Angelina... Ela deve estar louca para saber o que está acontecendo... Não sou eu quem vai saciá-la...” – Assobiando e girando a chave no indicador como de hábito, Klaus seguiu para o elevador privativo.
![](https://img.wattpad.com/cover/26925324-288-k284351.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cross - A ascensão de Sophia
VampireCross Associados é uma empresa de investimentos tão misteriosa quanto seus poderosos proprietários, como Christian de Gramont, o vampiro líder da Irmandade no Brasil e principal acionista da Cross, que em suas caçadas solitárias pela noite paulistan...