THOMAS VASCONCELOS

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Observando o salão do seu hotel La Residence, um dos seus empreendimentos, Thomas Vasconcellos, refletia sobre tudo que ocorrera ali nas últimas horas. Uma grande festa de inauguração de uma marca de cerveja artesanal, dessas que estão na moda, tem gosto de boldo, e é sensação dos jovens.

Isso é o que menos importa para Thomas. O empreendimento é de seu amigo de infância, Eduardo Bittencourt que gosta de investir em novidades e como tudo que toca vira dinheiro, certamente a cervejaria seria sucesso.

Voltando a suas observações iniciais, Thomas recordava a monotonia que sempre envolvia essas festas: mulheres bem vestidas com roupas exclusivas, feitas por estilistas famosos, usando joias caras, sapatos importados e disputando silenciosamente uma com a outra.

Tudo exalava luxo e ostentação, a decoração, as comidas, as opções de bebidas destiladas, estas com o claro propósito de não competirem com a marca da cerveja em lançamento e claro, champanhe. Nada passou despercebido aos olhos de Thomas, nem mesmo a hipocrisia quase palpável que se fazia presente, os sorrisos que não alcançam os olhos, os tapas nas costas, os apertos de mão que não inspiram confiança e por fim as cortesias trocadas com o intuito de ganhar alguma coisa em troca. Tudo girava em torno do interesse.

Sempre foi assim, e para sua frustração nada mudaria. Afinal, crescera nesse ambiente doentio, marcado pelo fingimento e falta de sentimentos profundos como afeto e amor.

Não pôde deixar de pensar na ironia da situação experimentada em seu momento de reflexão, certamente provocado pelo excesso de whisky, foram essas mesmas características que moldaram o homem que ele se transformou.

Mas Thomas já estava cansado e pronto para ir embora, sem nem ao menos despedir-se da loira que lhe lançou olhares e sorrisos atrevidos a festa toda. Realmente não seria uma ideia ruim dormir com ela. Um sexo gostoso e despreocupado. Buscou ao redor afim de encontrá-la para saírem juntos, não usaria um dos quartos do hotel. Mantinha sua vida pessoal e profissional bem separadas. Gostava de ser discreto, não aparecia em público com mulheres, para não alimentar questionamentos sobre sua vida.

Após alguns instantes, a viu em outro extremo do salão bastante absorvida em uma conversa sussurrada com um conhecido. Pela forma como ele a segurava pela cintura, entendeu que não conseguiria nada com ela. Nunca compreendeu essa necessidade que alguns homens possuem de mostrar domínio sobre mulheres.

Todas são iguais, ao menos na anatomia, algumas alterações de formas e tamanhos, mas nada que realmente o faça sentir-se possessivo em relação a elas. As mulheres que se envolve, não oferecem resistência ou dificuldades, não exigem nada, e claro, também não ofereciam nada, além de horas de sexo. Algumas querem repetir e são insistentes, mas a nenhuma oferece compromisso ou uma palavra que implique um interesse afetivo.

Perdido em seus devaneios, Thomas não se deu conta que Marcelo, um de seus gerentes segurava uma pasta, certamente com documentos e perguntava alguma coisa.

- ... gostaria de leva-los hoje?

Voltou sua atenção para o gerente, jogando os pensamentos num canto trancado em sua mente.

- Desculpe-me Marcelo, mas pode repetir a pergunta?

- Perguntava se Senhor não gostaria de levar essa pasta com os documentos que serão usados na reunião de segunda de manhã. Contém todos os balanços mensais detalhados e o balanço anual. Talvez queira analisa-los novamente. Posso pedir que um dos funcionários deixe em seu quarto.

- Certo. Pode deixar que eu mesmo levo.

Pegou a pasta e juntos caminharam pelo salão enquanto conversavam sobre o evento.

Decidiu passar pela recepção antes de ir para o quarto que mantinha no hotel. Essa seria outra noite que não dormiria em casa.

Casa. Era o nome usado para definir uma armação de concreto frio, com paredes e coberta por um telhado, onde vivem pessoas da mesma família, mas, que por falta de tempo e interesse nunca se veem. Essa era sua casa de infância. Cercado de luxo e ostentação, decorado para encantar os olhos e esconder o coração vazio da sua mãe.

- Thomas - continuou o gerente - , precisamos falar sobre a ampliação da área da piscina. O terreno ao lado, já foi liberado e as obras poderão começar em breve. Recebi essa tarde os documentos da licença.

- Claro. Podemos marcar um almoço aqui no hotel, quarta-feira às 13 horas.

Marcelo reservou a data em seu celular, despediu-se de Thomas e voltou ao salão para resolver alguns assuntos, deixando-o sozinho novamente com os seus pensamentos.

Amores, votem, comentem e opinem.
Bjus

Com açúcar, com afeto (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora