Capítulo Um.

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     RECOMEÇO. Uma palavra curta, direta, mas com um significado intenso para quem souber interpretar a sua origem. O recomeço pode-se considerar, geralmente, algo libertador para certas pessoas que buscam esquecer um passado cujo as feridas ficaram marcadas em suas peles. A virada de uma velha página, para o começo de um novo capítulo. Um capítulo em branco prestes a ser escrito aos poucos por uma tinta fresca.

O recomeço é a definição de uma fênix. Um ser mitológico tão magnífico, tão intrigante. Como seria capaz uma ave coberta por cinzas dar vida a uma criatura completamente renovada e exuberante?

É... Eu tenho muito a dizer sobre o recomeço e suas representatividades. Mas no momento, me contentarei a dizer o que essa etapa foi para mim já que, esquecer passou a não ser mais uma opção, e superar virou um dever. Tive que seguir em frente. Um desafio que agora e, somente agora, estou disposta a enfrentar. Essa é minha escolha, uma escolha em que pensei estar preparada para seguir.

   Depois do acidente trágico ocorrido no pior dia da minha vida, tive que iniciar uma página nova, por mais dolorosa que fosse. Para isso, fui obrigada a deixar a velha e ingênua Any Gabrielly enterrada ao lado do túmulo de meus pais.

   Certos dias parecem fáceis de lidar com a saudade acumulada em meu peito. Até mesmo com a culpa de ser a única e menos merecida sobrevivente. Ainda sim, todas as vezes que ouço as pessoas se lamentando pela perda deles e dizendo que sentem muito como se elas fossem as culpadas, é como se todo meu esforço de superar fosse em vão. E acredite, as pessoas se lamentam muito. Fingem que se importam mais do que realmente fazem, e eu continuo aqui. Continuo revivendo a noite que me trouxe tantos pesadelos contínuos: A pista molhada; O grito estridente solto por minha mãe assim que soube que estávamos prestes a deslizar; As dores que senti quando os cacos de vidros perfuraram minha pele.

Sentir cada parte de mim ser lançada de um lado para o outro, dentro do veículo. Nada disso se compara à dor de perder não apenas uma, mas duas das pessoas mais importantes que eu tinha em minha vida.

   Que se dane. A vida é assim. Ela te pune quando você menos espera. Ela te julga até quando você está certo. Ela passa em um piscar de olhos e quando você consegue parar e perceber que não viveu nem um terço do que sonhava, ela já foi. E você também.

Minha punição foi a insistência do velho em sair para jantar durante uma noite chuvosa.

   Há quase dois anos eu perdi as únicas partes de mim que me faziam viver. Eu estou morta por dentro, e nada irá preencher o vazio que sinto em saber que nunca mais irei chegar em casa e sentir o cheirinho do bolo de chocolate que minha mãe insistia em fazer todo domingo à tarde. Ou da cantoria que meu pai fazia, mesmo sendo desafinado e desleixado, com seu violão velho que só faltava estourar as cordas. Nossa... Eu sinto muita falta deles.

  Bom, voltando ao relato de uma fênix na vida. A próxima etapa para me desligar de todo o sofrimento que estava passando foi simples: Optar por novos ares. Funciona quando tudo, absolutamente tudo te traz lembranças de coisas que você nunca mais irá viver. São lembranças boas. Por tanto, junto delas uma adaga de tristeza crava em seu peito e nunca mais se solta. Seus peito se rasga e pesa em seu corpo. Você está preso àquilo até se libertar.

   Com cada móvel lembrando-me da dor insuportável do luto, eu tinha que me livrar de tudo; Conhecer coisas novas, pessoas novas. E foi então que num sábado, ao entardecer, virei as páginas de internet, buscando qualquer emprego longe de minha antiga casa para que eu fosse obrigada a me mudar do lugar onde vivi minha infância inteira.

Desejo: Um amor perverso (Beauany Fanfic)Onde histórias criam vida. Descubra agora