Capítulo Dez.

378 43 59
                                    


O ROSTO angelical da garota a minha frente parecia tão sereno. Não há surpresa em suas feições por me ver bem a frente da sua porta, olhando para a loira como se estivesse em um planeta desconhecido.
Sina respira bem fundo antes de abrir o sorriso curto demais para ser de fato considerado um sorriso. Digamos que seus lábios se esticaram, quase me dizendo que já sabe de tudo. Ela está séria, um pouco tensa demais mas não há medo ou insegurança.

- Eu sabia viria. - Ela abre espaço para que eu possa passar e assim faço.

- Então sabe que eu tenho muitas perguntas. - Olho todos os detalhes da casa que aparecem para mim.
Sina mora em um apartamento bem no centro da cidade, ao contrário dos Beauchamp que são donos da mansão mais afastada de toda a cidade. Sua decoração poderia ser resumida com apenas uma palavra: Natureza.
Há plantas para todos os lados. Velas, muitas velas espalhadas por praticamente todos os cômodos. O cheiro de sua casa é bem refrescante, como hortelã com um toque de morango. É o tipo de casa ligada à natureza que faz com que nos sentimos em paz, em nosso lar. É claro que, com tudo o que está acontecendo, não seria capaz de me sentir calma, mesmo com toda a harmonia serene do lugar.

- Você sabe. - Ouço atrás de mim, fazendo-me paralisar no lugar, voltando minha atenção para a loira em minhas costas.

- Eu não sei do que sei. Está tudo confuso demais. - Praticamente sussurro em resposta, perdida, deslocada.

- Você se nega a ver, Any. Sabe exatamente o que está acontecendo mas se nega a acreditar na verdade. - Sina parece séria, um pouco incrédula. Josh e ela tem a mesma forma de demonstrar sua incompreensão com minha dificuldade de assimilar as coisas. A verdade, é que dessa vez, eu estou apenas tentando mentir para mim mesma, me dizendo que eles não são... - Diga. - Deinert insiste por mais de uma vez - Pergunte o que tanto está lhe deixando devastada.

A insistência dela permanece. Ela quer que eu diga em voz alta a loucura que tenho em mente, mas se tudo o que vem em minha cabeça for apenas loucura minha, vou ser taxada como a nova maluca da cidade. E eu não quero isso.
Eu preciso ter certeza. Preciso ter certeza de que a ideia de eles não serem humanos, é no mínimo compreensível.

- Eu não sei o que dizer, Sina. Eu estou perdida. Não sei no que acreditar. - Com ela ainda em minhas costas, permaneço paralisada, como se meu corpo exigisse isso.

- Você sabe o que está acontecendo, mas tem medo te chamarem de louca, Any. - Sua mão envolve os dedos finos e delicados de Sina em meu pulso trêmulo - Eu sou sua amiga. - sussurra - Eu vou lhe responder qualquer pergunta. Mas, para isso, eu preciso que você mesma diga o que está havendo.
No mesmo instante, com a testa franzida, me viro para ela, sem soltar seus dedos que agarram meu pulso tão gentilmente.
- Como assim? - indago. Sina desvia o olhar em resposta.

- Se eles souberem que eu te contei assim, do nada, não vão gostar da ideia. - Ela faz uma pausa dramática - Preciso que você mesma diga, para que eu possa confirmar e tirar suas dúvidas. Digamos que é uma questão de segurança minha.

Ela falando desta forma quase me faz pensar que falar sobre o assunto custaria sua vida. Que não é o caso, certo?

- Você só precisa dizer uma vez, Any. - insiste uma última vez. Foi o suficiente para eu desistir de ter vergonha da situação.
A forma como ela insinuou tudo, me fez crer que minha suposição pode estar certa. E, bom, para eu saber, preciso arriscar. É melhor do que levar a dúvida comigo até meu túmulo.

- Eles... - A minha voz vacila e respiro fundo, soltando o ar tão devagar quanto puxei. - Eles são... - Respiro mais uma, duas ou até mesmo três vezes. Em seguida, volto a tentar. - Sina, eles são vampiros?
Por vários e longos segundos, Sina não diz nada. Não faz nada. Ela simplesmente me olha, me encara como se visse minha alma. Por esses longos segundos, me arrependi pedacinho por pedacinho, de ter feito essa pergunta tão... Peculiar, em voz alta. Se eu estiver errada, vou ter que lidar com a vergonha de ser considerada uma louca. Se minha suposição estiver correta, vou ter que lidar com...

Desejo: Um amor perverso (Beauany Fanfic)Onde histórias criam vida. Descubra agora