Parte dois do livro.

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Capítulo Vinte e Um.

SÃO NOVE. São nove da manhã e eu ainda estou na cama. Se não fui demitida antes, nada impede que me demitam agora.

Eu levanto em um pulo. Tomo um banho rápido. Me troco em questão de segundos e prendo meu cabelo em um rabo de cavalo prático. Não tomo café da manhã. Vou direto para a livraria.

- Está atrasada. - O meu chefe avisou da sua sala. Não foi um "está atrasada"; Foi um "Agora eu a demito".

- Perdão. - eu digo, porque não há nada além disso para dizer. O que eu diria para ele? Que tive outro sonho estranho com uma família louca sanguessuga?

Acontece há semanas, desde que me mudei para cá. Desde então eu simplesmente acordo de um sonho onde meu namorado era um vampiro. Um sonho onde eu era uma bruxa. Bobagem, não? E ainda assim eu sinto como se fosse verdade. Mas como explicaria isso para uma pessoa sem que ela me achasse maluca?

Eu organizo os livros, tomo quatro copos de café e começo a atender os clientes. A maioria das pessoas pegam livros famosos para jovens adultos. É um ou outro que vejo pegando coisas clássicas - não que eu goste do clássico, eu detesto porque me sinto burra lendo aquelas palavras complicadas.

A porta de abre e o sino toca para indicar que alguém está entrando. Termino de organizar o troco na caixa de dinheiro. Minha função é fazer tudo, se alguém precisa de um livro, eu pego, se não, eu apenas arrumo tudo ou atendo o cliente no caixa.

Como a pessoa não pediu ajuda, me abaixo atrás do balcão e organizo as papeladas que meu chefe nunca me deixa jogar fora.

- Licença. - Uma voz grossa, um pouco rouca, me chama do outro lado do balcão. Eu me levanto rapidamente, com um desajeito que faz com que minha testa colida com o balcão. A pancada é forte que treme. Meu gemido de dor se mistura com o gemido de surpresa do homem do outro lado do balcão. - Você está bem?

Eu o olho. E paro.

Uau.

Nossa.

Uau. Uau.

Olhos azuis como oceano. Cabelos loiros como o sol mais ardente; Pele fria feito a neve mais gelada. Músculos, maxilar marcado, uma barba mal feita que não chega a ser feia. É lindo. Ele é lindo.

- Nossa. - Deixo escapar e me arrependo na mesma hora que um sorriso mal alcança os seus olhos. Ele sorriu, mas não parece alegre. Parece sozinho. O seu rosto diz isso, mas seus olhos dizem que ele encontrou algo que procurava.

- Nossa mesmo, foi uma pancada feia. - Sua mão vem até mim e acaricia o que dói em minha testa. Eu me arrepio. Seu toque é frio, apesar de me aquecer.
Um sentimento surge com uma estranha facilidade e, apesar de nunca ter visto esse homem em toda minha vida, eu sinto como se precisasse do toque dele. Estranho. Me sinto uma carente.

- Perdão. - Eu afasto meu rosto mesmo não querendo. Imponho uma distância maior que o balcão oferece. - O que deseja?

Por algum motivo, não consigo o olhar nos olhos. Eu apenas arrasto meu olhar para o livro que ele colocou agora no balcão. Crepúsculo. Que classifico para um homem que tem a pele fria como Edward.

- Eu estava procurando algo, parece que eu encontrei. - Eu sei que ele está olhando para mim, e isso só faz com que eu evite seu olhar.

Ele está falando do livro ou...?

- Crepúsculo é um clássico de vampiro. Todos os fãs de fantasia sobrenatural adoram. - Eu passo o livro na máquina.

- É bem interessante, mesmo que vampiros reais não precisem de sol para brilhar. - Ele apoia os braços no balcão.

Eu rio.

- Você fala como se eles sequer existissem.

O rapaz loiro reclina sobre o balcão e consegue alcançar meu olhar. Agora eu estou sendo obrigada a olhar para aquele oceano. Se o sol ao menos parasse que refletir naquela íris azul para deixá-la menos perfeita.

- Você não acredita em vampiros? - ele pergunta.

Não consigo saber se ele está falando sério ou apenas zoando com a minha cara. Na dúvida, faço a mesma coisa que ele e me reclino sobre o balcão. Agora estamos perto. Muito perto. Me arrependi porque posso sentir seu hálito... É um cheiro bom, desconhecido.

- E você, acredita? - Eu jogo o mesmo jogo.

Um sorriso ressurge no rosto desse rapaz. Agora parece um sorriso de verdade. Por que ele está sorrindo como se estivesse feliz?

- Você sempre foi muito boa em ser desastrada, Coitadinha.

Coitadinha? Coitadinha. Como ele sabe desse apelido? É o mesmo apelido dos meus sonhos.

- Coitadinha... - eu sussurro. Tento me lembrar do rosto do homem em meus sonhos, mas não consigo. E quando vou questiona-lo sobre isso, só consigo ouvir o grito do meu chefe nada contente em ver a funcionária reclinada assim com um cliente.

Eu olho para a sala dele. Seu rosto parece sério. Ele não gostou do meu papo.

Quando ouço o barulho da porta da loja se abrindo, olho para o rapaz de novo, e... não tem rapaz. Ele não está mais aqui. Olho para baixo. Ele levou o livro e deixou o dinheiro no balcão. Droga, a única vez que consigo ao menos quase flertar com alguém...

Suspirando eu pego o dinheiro. Vejo algo caindo de dentro dele. Eu me agacho e pego o que parece ser um papel. Por que teria um papel enrolado no bolo de dinheiro? Eu deveria olhar? E se for algo particular que ele deixou perdido entre as notas?

Bom, eu só vou saber se ver o que está escrito no papel.

Pego o papel. Abro o que parece ser um bilhete e vejo as letras marcadas de caneta. Está de ponta cabeça, então viro o papel para conseguir ler.

"Te vejo hoje às 19h00

- J."

"J"? J de Jhonas? De Jhon? De Jair? De Josh?

Por que ele mandaria esse bilhete para mim? Isso se ao menos é para mim. Alguém pode ter simplesmente colocado no bolso dele e se misturou com as notas. O rapaz pode simplesmente não ter visto que o bilhete veio para mim.

- Sabe onde você vai trabalhar se continuar parada aí? - A voz do meu chefe impregna nos meus ouvidos. Eu me forço a não revirar os olhos. - Na rua!

Claro. E se isso acontecer, essa livraria decai. Eu que cuido de tudo por aqui. Se não fosse por mim, os livros estariam embolorando. Mas é claro que o meu chefe não enxerga isso. Um simples papo com um rapaz bonito o deixa zangado.

Eu volto ao trabalho. Faço o que tenho que fazer. Guardo livros, varro o chão, limpo o balcão, organizo estantes. Mas nada do que faço me ocupa o bastante para esquecer do bilhete, e do que aquilo pode significar. Nada me faz parar de pensar naquele rapaz. Naquele lindo e misterioso rapaz.

Eu espero vê-lo novamente.

Desejo: Um amor perverso (Beauany Fanfic)Onde histórias criam vida. Descubra agora