Capítulo Vinte.

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EU OUÇO VOZES das quais não consigo identificar. Viro meu corpo, me remexo sobre a cama. Tento puxar a coberta, que aparentemente não está ali. As vozes continuam, parecem alteradas. Não são incomodas o suficiente para eu dar total ouvidos, embora atrapalhem meu sono. Tento deixar claro que quero dormir mais um pouco quando resmungo.
Mas isso não impede as vozes de continuarem. Elas aumentam, parecem se multiplicar. Ficam mais altas. Mais irritantes.

- Ela tem que parar com isso. - Eu ouço de relance. - Any, você tem que acordar. - Uma mão segura meu rosto, minhas bochechas. Luto para me soltar. Contesto com resmungos para voltar a dormir. Mas a mão não me solta.

- E se jogarmos água nela? - Vai sonhando.

- Não a faria acordar, precisamos convencê-la. - Me dê um bom motivo para isso.

- Any, acorda! - Um rugido alto em meu ouvido me faz disparar. Desprevenida, pensando que a próxima abordagem seria menos agressiva, eu acordo. Em um único impulso já estou sentada antes que meus olhos possam abrir.

A luz invade meu corpo. Me cega por alguns segundos. Esfrego os olhos para agilizar o processo e tenho visão do que está acontecendo, finalmente.
Claro, não estou contente. Tudo o que eu queria era dormir um pouco mais, descansar. Se vampiros têm costumes de acordar antes do sol raiar eles podem me excluir disso.

Eu tenho na ponta da língua todos meus protestos contra me acordarem antes do que gostaria. Mas eles fogem todos quando a minha frente está Sina, os olhos preocupados. Ao seu lado, Josh anda de um lado para o outro, a luz tão forte que seu cabelo satura. Forte demais para meu quarto pouco iluminado, também não para o sol em minhas janelas.

Olho melhor o lugar que estamos. É espaçoso, brilhante, luxuoso. Não tem uma cama. Percebo então que estou deitada no chão do hall da mansão Beauchamp, no meio do círculo que os meninos e minha amiga formaram. Todos com rostos tão pálidos e preocupados.

- O que aconteceu? - eu murmuro antes mesmo que eles tenham tempo de dizer algo. Todos percebem que estou bem, apesar de algo suspeitar eles do contrário. Eu me levanto e não espero muito que me expliquem o que está acontecendo porque se tem uma coisa em que os garotos são bons, é em me enrolar nas respostas.

- Eu quem te pergunto! - A voz de Josh ecoa pelo enorme local. Fúria, pânico, medo. Com a boca seca, ele saliva e se afasta o suficiente para redobrar algum tipo de controle.

Sina toca meu ombro. Talvez queira conferir se sou real.

- Any, como você veio parar aqui?

Olho ao redor, buscando uma resposta para a pergunta da minha amiga. Como eu vim parar aqui?
A última coisa em que me lembro é de Josh fazendo um curativo em meu pescoço. Ele estava repleto de silêncio e concentração. Seus músculos enrijeciam quando eu tentava acariciá-lo, o que me encorajou a parar de tentar. Minutos depois eu fui para cama, acho que fui. Não me lembro.

Percebo então que há pedaços faltando. Pode ser que eu tenha apagado nos braços do Josh. Ou tenha ido para minha cama. Como eu saberia se tudo o que aparece em minha memórias são pretos vagos da noite anterior?

- Que estranho. - digo entre risadas. Parece que alguém roubou parte das minhas lembranças das quais eu simplesmente não consigo me lembrar. Eu tento. Tento de novo e de novo e de novo, mas só posso ver o vazio em resposta. - Eu não consigo me lembrar. - concluo por fim, as risadas ficando nervosas.

Os três irmãos caem na risada comigo. Aquela risada que damos quando não acreditamos que algo de fato está acontecendo. Se eu não acredito que esqueci como fui parar deitada no hall da mansão, quem dirá eles.

Desejo: Um amor perverso (Beauany Fanfic)Onde histórias criam vida. Descubra agora