Capítulo Quatorze: Parte dois.

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- O que é isso? Tudo o que eu estou vendo? Se é real demais para ser um sonho, o que é, afinal? - questiono mamãe enquanto ela prepara a calda de chocolate do bolo.

- Eu estou controlando sua mente. - A pausa transcende um pouco. - Não exatamente. Tudo o que está vendo não passa de uma ilusão que eu estou programando em sua mente. A Any de verdade está dormindo agora. - Mamãe pega mexe rapidamente o brigadeiro. Estou tendo um déjà vu agora, de quanto ela fazia bolo para nós na parte da tarde. Sinto falta disso.

- Então você não é real? - É impossível não notar a pontada de decepção em minha voz. Mamãe se vira para mim, me encarando por alguns segundos.

- Eu sou real, querida. Na sua mente eu sou. Eu não estou completamente morta. Estive ao seu lado este tempo todo. A diferença é que você consegue me ver no mundo que criei em sua mente.

Ainda é confuso. Então mamãe não está morta?

- Eu morri. Se é nisso o que está pensando. - Dói ouvi-la dizer isso. - Mas todo ser sobrenatural tem um destino diferente dos outros. Nós vamos para uma espécie de universo paralelo. Estamos sempre vendo vocês, mas vocês não conseguem nos ver. Apenas, é claro, médiuns. No entanto, as bruxas são separadas de certa forma, dos outros seres impuros, como os vampiros. Somos a espécie da natureza. Nós permanecemos com nosso clã, liderado pelas bruxas ancestrais.

Espere um segundo. Minha mãe acabou de dizer que é uma bruxa?

- Então você é uma bruxa? - Meus olhos se arregalam um pouco. É claro que eu tinha que herdar a magia de alguém, mas convenhamos que não é a coisa mais normal do mundo ouvir sua mãe falecida dizer que é uma bruxa e que vive em um outro lado com outras bruxas velhas e poderosas.

Mamãe me lança um olhar zombeteiro e diz:
- Qual a surpresa? Achou mesmo que herdou isso de seu pai? - Não consigo segurar a risada. Mas ela emenda antes que eu tenha chance de dizer outra coisa: - De certo que sou uma bruxa, e seu pai humano. Por isso ele não está aqui.

- Então é isso? A vida após a morte te limita a ficar com a pessoa que ama? Então qual o sentido de estar no paraíso?

Ela suspira, compreensiva.
- Seu pai encontrou a paz, querida. Mas eu, eu ainda tenho missões a cumprir com você. Apenas irei ao paraíso quando tiver certeza que você não precisa mais de mim. - Mamãe desliga o fogo do brigadeiro e dá alguns passos em direção ao bolo. Suas mãos agarram firme a forma e começam a chacoalhá-la, para ajudar a soltar o bolo.

- Então eu sou o motivo pelo qual você ainda não está em paz com o papai? Não acho que isso faz com que eu me sinta melhor.

A mãe me olha com um olhar de cansaço, mas ainda permanece compreensiva.
- Meu amor, que tal falarmos sobre suas escolhas de vida? - diz enquanto despeja o bolo em um prato enorme. Até me impressiono com a facilidade em que o bolo sai, e a perfeição dele.

- Como assim? - indago, hesitante.

- Estou falando sobre os vampiros. Ou melhor, sobre o vampiro.

Certo. Ela definitivamente está falando sobre o Josh. E o que eu poderia responder? Bruxas não tendem a gostar dos vampiros, e parece que ele em si já não agrada muito minha mãe.

- Bom, se está falando do Josh. Não tem com o que se preocupar. Nós não temos nada. - Meus ombros se encolhem, me deixando menor do que já estava sentada desta forma.

- Não é com ele que me preocupo. E sim com os perigos que ele pode causar a você, minha querida. Aquilo o que te mostrei no porão deles, foi apenas a verdade sobre a espécie dele. - Mamãe derrama o caldo de brigadeiro por cima do bolo. Posso ouvir a seriedade em sua voz. Embora ela permaneça incrivelmente calma. - As anciãs estão com medo do seu destino, querida. Você não tem ideia do que realmente é ou do que é capaz. Nem eles tem. Mas quando descobrirem, irão te tratar como uma possível ameaça. Você não está segura com eles, Any.

Desejo: Um amor perverso (Beauany Fanfic)Onde histórias criam vida. Descubra agora