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VINTE

Não posso fazer. Simplesmente não posso. Não ná como escrever esse email sem ficar parecendo uma paranóica maluca.

Olho desesperada a décima tentativa.

Caro Daniel

Preciso da sua ajuda. Acho que sofri uma armação do Archie. Acho que ele plantou aquele memorando na minha mesa. Há alguma coisa acontecendo. Ele tem ligações familiares com a BLCC Holdings e a Glazerbrooks, você sabia?? Por que ele jamais contou a ninguém? E agora me proibiu de entrar no prédio, o que, em si, é suspeito...

Estou parecendo iludida. Estou parecendo uma ex-empregada amargurada, confusa, cheia de ressentimento.

O que, claro, sou.

Enquanto passo o olhar pelas palavras lembro, nada mais, nada menos, do que da velha de olhos loucos que costumava ficar na esquina da nossa rua, murmurando "Eles vêm me PEGAR".

Agora tenho total simpatia por aquela velha. Eles provavelmente estavam atrás dela.

Daniel vai simplesmente rir. Posso vê-lo agora. Archie Sbage é um bandido? Parece insano. Talvez eu esteja insana. É apenas uma teoria. Não tenho provas; não tenho nada sólido. Inclino-me adiante e pouso a cabeça, desesperada, nas mãos. Ninguém jamais vai acreditar em mim. Ou sequer me ouvir.

Se ao menos tivesse alguma prova. Mas onde iria conseguir?

Um bip no meu celular me faz dar um pulo e levanto os olhos, cansada. Quase tinha esquecido onde estava. Pego-o e vejo que recebi uma mensagem de texto.

estou aqui embaixo. tenho uma surpresa para você. Emm. 

Enquanto desço, não estou realmente ligada. Clarões de raiva ficam me dominando enquanto penso no sorriso jocoso de Archie, no modo como ele encorajava minha mesa bagunçada, em como disse que faria o máximo por mim, como ouviu enquanto eu me culpava, enquanto eu pedia desculpas e me humilhava...

O pior de tudo é que nem tentei me defender. Não questionei o fato de que não conseguia me lembrar de ter visto o memorando. Presumi imediatamente o pior de mim mesma; presumi que era minha culpa, por ter uma mesa tão bagunçada.

Archie me conhece muito bem. Talvez estivesse contando com isso.

Sacana. Sacana.

— Oi. — Emma balança a mão na frente do meu rosto. — Terra chamando Regina.

— Ah... desculpe. Oi! — De alguma maneira consigo sorrir. — Qual é a surpresa?

— Venha por aqui. — Ela ri e me leva até o seu carro, que é um antiquíssimo fusca amarelo conversível. Como sempre, fileiras de potes de sementes estão atulhando o banco traseiro e uma velha pá de madeira se projeta atrás.

— Senhorita. — Ela abre a porta, galante.

— Então, o que vai me mostrar? — pergunto entrando.

— Viagem fantástica. — Emma dá um sorriso enigmático e liga o motor.

Saímos de Lower Ebury e pegamos um caminho que não reconheço, através de um minúsculo povoado vizinho e subindo as colinas. Emma está num clima alegre e me conta histórias de cada fazenda e pub por onde passamos. Mas praticamente não escuto uma palavra. Minha mente continua fervilhando.

Não sei o que posso fazer. Nem posso entrar no prédio. Não tenho credibilidade. Estou impotente. E só tenho três dias. Assim que Archie desaparecer nas Bahamas, acabou-se.

Regina Mills, executiva do lar - SwanQuennOnde histórias criam vida. Descubra agora