seis

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SEIS

Não faço idéia do que essa mulher está falando. Minha cabeça dói demais. Mal posso olhá-la, quanto mais absorver o que ela está dizendo.

- Você está bem? - Ela me olha. – Que aparência terrível!

- Estou com uma tremenda dor de cabeça – consigo dizer. - Será que eu poderia tomar um copo d’água?

- Claro! Entre! – Ela balança o cigarro na minha cara e me chama para um saguão enorme, impressionante com teto em cúpula. – Você vai querer ver a casa, de qualquer modo. George? – sua voz aumenta até um grito agudo. – George. Tem outra aqui! Sou Ingrid Mitchell. – acrescenta para mim. – Pode me chamar de Sra. Mitchell. Venha por aqui...

Ela me leva para uma luxuosa cozinha com madeiras de bordo e experimenta algumas gavetas, aparentemente por acaso, antes de gritar: “Ahá!” e pegar uma caixa de plástico. Abre e revela uns cinqüenta frascos e maços de cartelas de comprimidos, e começa a procurar com as unhas pintadas.

- Tenho aspirina... paracetamol... ibuprofeno... valium muito fraco... – A mulher estende uma lívida pílula vermelha. – Esta é dos EUA – diz animada. – É ilegal neste país.

- Ah... ótimo. A senhora tem... um monte de analgésicos.

-Ah, nesta casa adoramos comprimidos – diz ela me dando um olhar bastante intenso. – Adoramos.

George! – Em seguida me entrega três tabletes verdes e, depois de algumas tentativas, localiza um armário cheio de copos. – Cá estamos. Vão acabar com qualquer dor de cabeça. – Em seguida pega água gelada na geladeira. – Beba isto.

- Obrigada. – respondo, engolindo os comprimidos sem esforço. – Minha cabeça está doendo demais.

Mal consigo pensar direito.

- Seu inglês é muito bom. – Ela me dá um olhar de perto, avaliando. –Muito bom mesmo.

- Ah – respondo sem jeito. – Certo. Bem, eu sou inglesa. Esse... a senhora sabe, é provavelmente o motivo...

-Você é inglesa? – Ingrid Mitchell parece galvanizada com a notícia. – Bom! Venha sentar-se. Eles vão fazer efeito num minuto. Se não fizerem eu lhe dou mais.

Ela me tira da cozinha e voltamos pelo corredor.

- Esta é a sala de estar – diz parando junto a uma porta. Sinaliza para uma sala enorme, grandiosa, largando cinzas no tapete. - Como você verá, há muito que passar aspirador... espanar... polir a prataria –Ela me olha cheia de expectativa.

- Certo. – Confirmo com a cabeça. Não faço idéia do motivo pelo qual essa mulher está me falando de seu trabalho doméstico, mas ela parece esperar uma resposta.

- Esta mesa é linda – digo finalmente, indicando um brilhante aparador demogno.

- Precisa ser polida. – Seus olhos se estreitam. – Regularmente. Eu noto essas coisas.

- Claro – assinto de novo, bestificada.

-Venha aqui – diz ela, guiando-me através de outra sala enorme e grandiosa, e entrando numa estufa arejada, cercada de vidro, mobiliada com opulentas espreguiçadeiras de teca, plantas frondosas e uma bandeja de bebidas bem abastecida.

- George! Venha cá! – Ela bate no vidro e eu ergo os olhos, vendo um homem com calças de golfe caminhando pelo gramado impecável. É bronzeado e tem aparência abastada, provavelmente com pouco menos de 50 anos.

Ingrid provavelmente também está a beira dos 50, acho vislumbrando seus pés-de-galinha quando ela se vira de costas para a janela. Mas algo me diz que ela afirmaria ter 39 e nem um dia mais.

Regina Mills, executiva do lar - SwanQuennOnde histórias criam vida. Descubra agora