vinte e um

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VINTE E UM

Certo. o único obstáculo possível é a senha de Archie. Se eu não puder adivinhá-la não poderei acessar seus arquivos de computador e não descobrirei nada. Além disso, se a porta da sala dele estiver fechada, pode ser meio problemático.

De modo que tenho dois obstáculos possíveis.

Além disso preciso entrar no prédio, claro. E não ser reconhecida por ninguém.

E não ser descoberta por um dos faxineiros enquanto digito no computador do Archie.

Ah, merda. Que diabo estou fazendo?

Tomo um grande gole de café, tentando ficar calma. Mas não é fácil.

Até mesmo estar de volta em Londres me deixou abalada. A cidade não é como eu lembro. Não acredito em como é suja. Como é agitada. Quando cheguei à estação de Paddington esta tarde me senti quase assustada com a multidão movendo-se como enxames de formigas no saguão. Sentia o cheiro de fumaça.

Via o lixo. Coisas que nunca notei antes. Será que simplesmente as filtrava? Será que estava tão acostumada que elas se perdiam no fundo?

Mas, ao mesmo tempo, no minuto em que meus pés bateram no chão senti a agitação. Quando cheguei à estação do metrô já havia pegado meu ritmo: ajustando o passo ao de todo mundo; colocando o bilhete na máquina exatamente no ângulo certo; tirando-o sem um segundo a perder.

E agora estou no Starbucks, na esquina da Carter Spink sentada junto ao balcão perto da janela, olhando pessoas com ternos do centro financeiro passando, conversando, gesticulando e falando ao telefone. A adrenalina tá pegando. Meu coração já bate mais depressa – e ainda nem entrei no prédio.

Ao pensar nisso meu estômago revira ao avesso. Agora vi por que os criminosos operam em quadrilhas quando fazem roubos. Neste momento realmente gostaria de ter os Onze Homens e Um Segredo para me darem um pouco de apoio moral.

Olho o relógio de novo. Está quase na hora. A última coisa que quero é chegar cedo. Quanto menos tempo passar lá, melhor.

Enquanto termino de beber o café com leite, meu telefone solta um bip, mas ignoro. Deve ser outra mensagem de Ingrid. Ela ficou lívida quando contei que precisava passar uns dois dias fora; na verdade tentou me impedir. Por isso eu disse que tinha um problema no pé, que precisava de atenção urgente do meu especialista em Londres.

Pensando bem, foi um erro enorme, já que ela quis saber cada detalhe gosmento. Até exigiu que eu tirasse o sapato para mostrar. Tive de passar dez minutos improvisando sobre "desalinhamento ósseo" enquanto ela olhava meu pé e dizia que "para mim parece perfeitamente normal", num tom de grande suspeita.

Ficou me olhando desconfiada pelo resto do dia. Depois deixou um exemplar da Marie Claire aberta casualmente no anúncio que dizia "Está grávida? Precisa de aconselhamento confidencial?" Honestamente, vou ter de cortar isso pela raiz, caso contrário todo o povoado vai ficar sabendo e vão pensar que além de estar com Emma, estou saindo também com algum outro homem. 

Olho de novo o relógio e sinto um jorro de nervosismo. Hora de ir. Vou para o banheiro feminino, olho o espelho e verifico minha aparência. Cabelo pouco clareados não familiar: certo. Óculos escuros: certo. Batom magenta: certo. Não me pareço nem um pouco com meu eu antigo.

Afora o rosto, obviamente. Se você olhar bem de perto.

Mas o fato é que ninguém vai me olhar de perto. Pelo menos é com isso que estou contando.

- Oi - digo em voz grave e gutural. - Prazer em conhecê-lo.

Parece voz de travesti. Mas não faz mal. Pelo menos não estou falando como uma advogada.

Regina Mills, executiva do lar - SwanQuennOnde histórias criam vida. Descubra agora