PARTE 1

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I looked you in the eyes, saw that I was lost


— Garotos por aqui! — A mulher com um conjunto de blazer e saia azul royal grita por cima das vozes animadas que ecoam pelo espaço amplo.

Ela está do lado direito do salão, em frente a uma porta pesada e pronta para a passagem.

Olho meu prato já vazio, que antes estava preenchido com pãezinhos tipo brioche. Não que eu estivesse mesmo com fome; na verdade, eu estava nervoso demais para ir além dos brioches — ainda estou.

Eu nem sabia que existia um café da manhã de boas-vindas, mas fico feliz por estar aqui. As aulas começam, oficialmente, somente na quarta-feira, e hoje é segunda.

Desvio meus olhos do prato para observar mais uma vez as paredes e o teto perfeitamente incríveis, banhados pela luz do dia, brilhando como uma estufa solar.

Já estive aqui três vezes, mas nunca vou me cansar de perder o fôlego para a magnitude deste lugar que, a partir de hoje, será a minha casa pelos próximos 4 anos.

Eu, um cara qualquer, estudando na Kings' College of London. Eu nem sei o que fiz para merecer isso, de verdade. Sendo o filho mais velho de seis irmãos, eu sempre sonhei em conseguir alguma coisa da vida. Achava que, sabe como é, eu tinha algum futuro.

E, sentado aqui, prestes a conhecer meu dormitório, eu vejo que consegui.

As pessoas começam a se movimentar, ainda em conversas paralelas.

As garotas ouvem o chamado de outra mulher mais velha do que a que está responsável pelo grupo de meninos e ziguezagueiam pelo espaço.

Eu me levanto, sem trocar qualquer olhar com alguém, na expectativa.

Me sinto meio deslocado com minhas roupas modestas e normais demais: uma calça jeans clara e uma camisa de botões preta. Ao contrário dos meus colegas, eu estou de Vans, que é o tênis mais caro que minha mãe conseguiu me dar. Não que dinheiro seja um real problema na minha família — já tivemos muito menos —, mas fui eu que escolhi o item. Fui burro, é claro que os adolescentes daqui pensam diferente. Obviamente têm referências que eu não tenho.

O corredor é extenso, que desemboca em um hall também dourado e maciço.

Andamos por alguns minutos. Eu tento memorizar o caminho, mas acho que é em vão. As vozes embaralham a minha cabeça, que já está anestesiada de ansiedade e nervosismo.

Minha mãe disse que, se eu não gostasse das instalações, eu poderia voltar para casa, mas eu quero ter a experiência. Até porque sei que é um alívio meu quarto ser desocupado, pelo menos Charlotte tem um só para ela agora, ao invés de dividir um com Phoebe e Daisy. É a grande chance da Charlotte e me parece egoísmo tirar isso dela.

Antes de subirmos as escadarias da ala dos dormitórios, a inspetora para e olha para nós. As conversas abaixam o volume, pois todos aguardam algo. Qualquer coisa.

— Os dormitórios individuais são no segundo andar e os coletivos, no terceiro — a mulher diz, muito séria, como se estivesse na frente de uma autoridade — Que fique claro que é expressamente proibido meninos e meninas se misturarem aqui. Nada de portas fechadas. O toque de recolher é às 22h.

Eu assinto, tentando memorizar o horário.

Ela nos libera, finalmente, e eu vou para o terceiro andar, porque me parece muito solitário desejar um quarto só para mim. Pode ser bom ter um colega de quarto.

Too YoungOnde histórias criam vida. Descubra agora