I took some time 'cause I've ran out of energy
of playing someone I've heard I'm supposed to be
As unhas dele estão azuis e rosa, é a primeira coisa que noto quando volto ao quarto, perto das 22h, depois de ter ficado tanto tempo na sala de estudos com Gigi.
Vê-las me dá uma sensação de sufocamento, fico me lembrando daquele Harry garotinho de 6 ou 7 anos todo alegre correndo pelo pátio da escola com suas unhas multicoloridas e soltando gargalhadas. Até mesmo no dia em que o beijei elas estavam pintadas, já meio descascadas. Eram de um amarelo intenso, iguaizinhas a ele. Iguaizinhas ao seu sorriso solar de covinhas.
Harry está deitado na cama de calção de dormir com os fones de ouvido e atento ao celular. Ele até arrisca um olhar para mim, mas o desvia momentos depois, parecendo envergonhado.
Eu me troco de costas para ele, em silêncio, depois me enfio na cama, puxando um livro para o colo.
A ausência dos ruídos das nossas vozes se estendem até perto das 23h30, quando pergunto se posso apagar a luz do quarto e acender o abajur que fica em cima da escrivaninha dele, entre as nossas camas. Harry só assente e vira para a parede, com os fones ainda nos ouvidos.
Me sinto muito solitário, de repente, na meia-luz. Até domingo, estaríamos conversando sobre coisas idiotas, ainda de luz acesa. Mas não me parece que temos mais energia para esse tipo de coisa. Não agora que eu saí correndo dele.
Mas não posso me culpar.
São muitas emoções. O beijo me provocou uma catarse sentimental terrível, sinto algo constantemente atravessado na garganta e meu coração não está muito melhor: parece frágil e quebradiço, pronto para se esfacelar no meu peito.
Além disso, eu penso em Hannah. E daí que foi só um beijo? Acho que é traição do mesmo jeito, especialmente porque eu quis ser beijado. Meu corpo inteiro estava implorando por aquele beijo, e eu nunca senti isso com ela.
Não me entenda mal, a Hannah é maravilhosa e o beijo dela é legal, mas não sinto muita coisa. Nunca senti um décimo do que senti ao beijar Harry pela primeira vez. Não existe coração acelerado, arrepios, vontade de nunca mais parar, ou qualquer coisa assim.
Eu juro que, durante esses meses com ela, eu tentei me animar com o toque dela e tudo mais. E, de certa forma, eu consigo lidar bem com isso e meu corpo nunca me deixou na mão, o que eu agradeço todos os dias.
Mas é como uma montanha-russa. Com Hannah, eu não estou nas curvas que fazem o coração pular.
Não sei o que fazer. Será que devo contar para ela?
A verdade é que, com esse beijo, as coisas se transformaram de novo, como da primeira vez. Ele serviu para me mostrar que meu sentimento por Harry nunca mudou e, por causa da saudade, talvez tenha se intensificado.
Na quarta-feira depois do almoço, infelizmente preciso me arrastar para a aula de Percepção Musical. É a única chance que tenho de ver Harry fora do quarto, ou no refeitório, ou nas salas de jogos.
Eu me acomodo longe dele, mas o destino é cruel e o professor diz para nos dividirmos em duplas para a tarefa de hoje. Vejo meus colegas se movimentarem para perto uns dos outros, e noto Harry vindo em minha direção. Sinto meu rosto esquentar e uma ansiedade incontrolável perpassar meu corpo.
— Oi — ele diz, sem sorriso, mas com a voz suave e gentil.
Eu não consigo dizer nada, então Harry se senta ao lado na poltrona.
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Too Young
RomansaO segundo maior sonho de Louis está se realizando: ele conseguiu uma bolsa de estudos na King's College London. O primeiro sonho dele, desde os 12 anos, sempre foi reencontrar o melhor amigo Harry e parece que o destino vai ajudar. Louis descobre qu...