PARTE 20

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You just keep on buildin' up your fences

But I've never been so defenceless


No sábado de manhã, depois que Louis deixa a King's College, procuro Taylor. Mando uma mensagem para ela vir ao meu quarto, mas ela demora quase vinte minutos.

Taylor aparece com a cara lavada, um abrigo grande demais e pantufas de pano.

— Louis já foi?

Faço que sim, sentindo um sentimento diferente: não é mais apenas mágoa, mas também algo pesado, como uma rocha alojada na garganta.

— Ele se lembra de mim esse tempo todo — digo, baixo, sem sorriso e com zero ânimo.

Taylor maneia o rosto para mim, surpresa, depois de reprimir um bocejo.

— E isso não é ótimo por quê...? — ela pergunta, observando a minha expressão. É óbvio que ela não entendeu. Certamente, achou que seria simples assim: Louis e eu conversaríamos e viveríamos felizes para sempre.

— Ele mentiu para mim, Tay.

— E você não fez a mesma coisa?

Eu sei, eu sei que fiz. Mas, de alguma forma, eu me sinto no direito de ficar mais magoado do que ele.

— Eu entendi o lado dele — respondo. — Louis não teve a chance de ser aceito e amado do jeito que é, mas ainda me dói. Dói, porque eu queria que tivesse sido diferente.

— E você acha que ele teria escolhido se esconder, Harry? Acha mesmo que ele também não queria que tivesse sido diferente? Aposto que ele se culpa todos os dias.

Eu sei, eu vejo a culpa nos olhos de Louis. Acho que, de certa forma, até mesmo tem vergonha de não ter conseguido enfrentar o pai. Mas o que ele poderia ter feito? Ele tinha 12 anos.

Caralho, ninguém deveria ter que se esconder. Eu sei que Louis não teria escolhido isso se tivesse sido apoiado. Se não achasse que um bom filho não pode ser gay.

Isso quebra o meu coração, lembrá-lo falar isso.

Nunca passou pela minha cabeça que minha mãe pudesse me achar um filho ruim. Não por causa da minha sexualidade.

— Não estou falando que você deva passar por cima da sua mágoa — Taylor continua, sentada na cama de Louis —, mas você precisa entender que, além de Louis estar magoado contigo, provavelmente está com ele mesmo. Deve ser horrível carregar uma culpa tão grande por tanto tempo. E deve ser ainda pior viver no armário sabendo que você não pode fazer nada para mudar isso.

Olho para o tapete, repentinamente envergonhado.

Aos poucos vai caindo a ficha: estou sendo arrogante com um garoto que passou por muita coisa e que, na verdade, ainda está passando. Possivelmente, é a primeira vez em seis anos que Louis está se permitindo viver, se permitindo sentir tudo o que sempre sentiu.

E, obviamente, a minha mágoa o está afastando. Provavelmente, está com medo de me perder de novo. E me apavora mais do que tudo saber que Louis não me ama mais como antes.

— Converse com ele, Harry — Taylor me aconselha. — Por mais magoado que você esteja, vai ser pior ainda perdê-lo por isso, não acha? Louis não teve escolha. Talvez, quando te viu aqui no primeiro dia, ficou envergonhado demais para te contar. Foram seis anos. Como você apaga seis anos da sua vida?

Não respondo.

Eu também me perguntei isso.

Como apagar anos de saudade e mágoa?

Too YoungOnde histórias criam vida. Descubra agora