Wherever you are is the place I belong
Eu não podia deixá-lo sair sozinho, então estamos silenciosos no meu carro, rumo ao Royal Free. De vez em quando olho para Louis, e as lágrimas ainda estão em seus olhos. Ele as enxuga com a manga do moletom quando caem, talvez para que eu não as veja.
Afasto uma das mãos do volante e procuro a dele. Louis não oferece resistência, e eu a aperto no completo silêncio. Deixo nossos dedos juntos, porque sei que ele precisa desse toque.
Ainda estou com o coração pesado, magoado e traído, mas seria horrível da minha parte simplesmente ignorar os sentimentos de Louis. Eu sei que o nosso paraíso se desfez, porém quero ficar ao lado dele. Não por mim, não para que ele ache que a minha dor desapareceu, mas porque sei que, apesar de tudo, Louis ama a família. Mesmo com todo o medo que sente em decepcioná-la.
Nós nos apresentamos na recepção da ala em que a Sra. Tomlinson está internada, e a recepcionista diz que ninguém pode entrar no quarto, porque o horário de visitas acabou há horas. Louis insiste, diz que precisa ver a mãe. A senhora é firme, e Louis recomeça a ficar nervoso.
Eu o guio para as cadeiras da recepção.
— Chame a sua irmã — digo, pensando na única saída que meu cérebro consegue arrumar —, peça para ela ver isso com o médico de plantão.
Louis faz isso, liga para a irmã e dá as instruções. Charlotte conseguiu ficar no quarto, pois está sendo a acompanhante da mãe. Em poucos minutos, uma garota loira de uns 15 anos aparece ali com o rosto lívido e marcado pelas lágrimas. Reconheço o rosto redondo de Charlotte.
Ela se aproxima do irmão e o abraça.
— O que aconteceu? — Louis pergunta. — Como ela está agora?
Charlotte me olha e sorri mínimo para mim, mas não sei dizer se me reconhece. Acho que era muito criança para lembrar do melhor amigo do irmão na infância.
Eu me afasto, dando privacidade a eles, e vou me sentar mais uma vez, mais distante.
Eles conversam em meio às lágrimas, e Charlotte volta pelas portas duplas e desaparece do recinto.
Louis se acomoda do meu lado, fungando, e eu o envolvo em um abraço meio desajeitado. Com a cabeça em seu ombro, eu pergunto sobre o médico de plantão.
— Lottie vai ver isso.
Pessoas entram e saem da recepção, e nós ficamos ali em silêncio. Não quero soltar Louis, por mais que saiba que, emocionalmente, já estou afastado dele. Algum tempo se passa e, finalmente, Charlotte volta com um homem negro careca com feições suaves e gentis, trajando um jaleco branco.
Eles se aproximam de nós, e eu afasto meu corpo um pouco do de Louis, mas continuo ao seu lado.
— Dr. Evans — O homem se apresenta, estendendo a mão entre mim e Louis. Louis a aperta de maneira mecânica. — Não sou o médico responsável pela entrada de sua mãe, mas dei uma olhada no prontuário dela.
— É câncer? — Louis pergunta, o rosto febril e ansioso.
— Não, não é um tumor específico — Dr. Evans responde. — É leucemia.
Louis solta um palavrão baixo, repentinamente mais chocado do que já está.
Charlotte senta do outro lado do irmão e se desculpa por não ter entendido muito bem a explicação que lhe deram.
— O caso da sua mãe — o médico continua — é do tipo mieloide crônica, o que significa que as células anormais ainda conseguem trabalhar como os glóbulos brancos normais por ora, mas a tendência é que a doença se agrave. A leucemia atinge a medula óssea, comprometendo as células sadias, então essas células saudáveis vão desaparecendo e, em seu lugar, ficam as malignas, o que, obviamente, faz com que o corpo se fragilize em suas funções.
Louis assente, incapaz de falar algo.
— A mamãe já estava se sentindo mal há algum tempo — Charlotte explica para Louis —, falando de falta de ar e muito cansaço, mas, sabe como é, eu achei que fosse só porque somos muitos. Mas, então, ela começou com febre e nada passava, sem falar que ela parecia totalmente desorientada, então tivemos que vir para cá.
— Descobrimos uma infecção e o fígado dela está um pouco aumentado — Dr. Evans diz. — Já fizemos todos os exames para detectar a doença, Sr. Tomlinson, e ela ficará aqui por algum tempo, para iniciar o tratamento via oral e acompanharmos a progressão. Geralmente, nos casos de mielóide crônica, os inibidores respondem bem.
Louis assente mais uma vez, parecendo distraído, como se não estivesse presente.
— Vou liberar a sua passagem por alguns minutos, ok? — O homem negro fala, mostrando-se mais simpática e menos profissional. — Mas você pode voltar amanhã nos horários de visita. Agora ela está sedada, por causa das dores, mas quero que saiba que estamos fazendo o nosso melhor.
— Obrigado — Louis diz.
Charlotte e ele se levantam, e Louis me olha.
Eu lhe dou um sorrisinho e digo:
— Vou ficar esperando, vai lá.
É claro que não vou a lugar nenhum.
Louis volta cerca de 15 minutos mais tarde, ainda parecendo abalado e fragilizado.
Pergunto como ela estava, e ele me responde que está muito pálida e até mesmo mais magra. Sinto que ele se culpa por não estar em casa, por isso pronuncio:
— Você não podia fazer nada, Lou. Você ouviu a Charlotte, nem mesmo ela entendeu o que estava acontecendo.
Louis me olha nos olhos, e vejo mais lágrimas ali. Seus lábios se comprimem e sei que está lutando contra mais uma catarse emocional.
— Eu deveria ter voltado para casa nem que fosse por um fim de semana. Nem que fosse só para tomar café da manhã — Sua voz sai embargada, e suas lágrimas pulam dos olhos azuis.
— Você não ia conseguir parar da doença, ela ia acontecer com você lá ou não.
Nós voltamos para o carro, e Louis chora com as mãos no rosto; é um choro muito mais aberto agora, e isso me dá uma pontada no coração.
Eu envolvo seus ombros e tento falar palavras toscas de consolo.
— Ela vai melhorar, você vai ver — digo, assim que limpo mais lágrimas do rosto dele. Louis fica sacudindo a cabeça, como se estivesse tentando se livrar de água nos ouvidos.
Eu sei que ele está em choque e também sei que eu teria a mesma reação se fosse a minha mãe.
Não posso fazer nada além de tentar confortá-lo.
Já passa da uma da manhã quando chegamos à entrada do prédio da King's College.
Não nos deixam entrar.
— Mas foi uma emergência — insisto.
— Já está muito tarde, rapaz.
— Mas...
— Volte amanhã.
Olho para o porteiro com raiva, mas então puxo Louis e digo:
— Vamos para a minha casa.

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Too Young
Storie d'amoreO segundo maior sonho de Louis está se realizando: ele conseguiu uma bolsa de estudos na King's College London. O primeiro sonho dele, desde os 12 anos, sempre foi reencontrar o melhor amigo Harry e parece que o destino vai ajudar. Louis descobre qu...