Califórnia- McLennon (Pt_br)

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E aqui estava, parado na areia fofa olhando para o horizonte, tinha certeza de uma única coisa: A Califórnia não era seu lugar.

Sentia os milhares de grãos de areia por baixo de seus pés, ouvia as ondas do mar, tentando entende-las, ainda tinha fé de que respondessem alguma coisa, mas infelizmente nenhuma delas conseguia decifrar os milhares de enigmas em sua mente, observava de forma vidrada os amontoados de nuvens na linha onde o final do grande círculo brilhante e alaranjado desaparecia em um dolorido e lento beijo no mar azul.

Olhava aquelas nuvens tão raivosas e parecia ver um retrato de si mesmo, era exatamente o que sua mente se parecia, pesada, negra e prestes a explodir na maior e mais intensa tempestade que seus olhos esverdeados presenciariam em toda sua vida.

Abraçava seu corpo em uma tentativa de auto consolo, foi em vão, deixava as lágrimas grossas caminharem por seu rosto frio pelo vento gélido que atingia a faixa de areia, tinha algo errado, muito errado.

E depois de longos minutos pensando só, descobriu o que exatamente tinha de errado consigo, na realidade algo que não estava consigo, mas devia: John.

Tentava afastar essas quatro letras de sua mente ao máximo nos últimos tempos, mas era impossível, desde que veio pra Califórnia com esse sonho crescente de fotografar e fazer suas pequenas visões do mundo impressas em papéis valerem à pena, se sentia deslocado, não aceito, e maior que todos esses sentimentos juntos, de uma forma muito mais infeliz e intensa, se sentia solitário.

Usava suas lentes como um tradutor de seu coração, mas infelizmente nesses tempos extremamente sombrios que vivia, apenas seus dedos faziam o trabalho de apertar os botões da polaroid, a alma daquilo já tinha se esvaído, e isso tinha uma razão muito simples de se compreender, parte de sua alma tinha ficado presa na Inglaterra, justamente a parte que ascendia as outras, e que tinha certeza de mantê-las sempre unidas e brilhantes, e novamente aquelas quatro letras de simples grafia eram a resposta.

Era tudo tão estranho, se sentia tão vivo ao lado de Lennon, se sentia bem, sentia como se a vida valesse a pena, e por ele valeria cada segundo, a decisão foi difícil, foi dolorida, mas ainda tinham cartas, ainda tinham ligações, era complicado mas não impossível, e a poucos meses atrás Paul corria, corria como se a certeza de alegria eterna estivesse do outro lado do oceano, mas não estava, estava mais perto que imaginava, estava ao seu lado, estava em seu quarto lendo poemas, estava sentado em sua cama tocando alguma melodia suave que sabia que o acalmaria, estava rindo e fazendo piadas, estava no banco ao lado do seu no bar, o que importa é que estava, e de repente não estava mais.

E agora? Do que adiantavam esses pensamentos se não tinham uma solução? E mesmo que tivesse, ele não ia optar por essa, voltar atrás e desistir não era uma escolha, decepcionar seu pai que depositou todas as suas fichas no filho sonhador na América era a última coisa que queria.

Algum dia ia se adaptar de qualquer modo, ia fazer amigos, ia encontrar pessoas, nunca esqueceria, mas talvez acostumasse com a falta de John, mas é complicado demais se distanciar de repente da sua óbvia alma gêmea.

E quando já estava a um fio de desistir e de levar no sentido literal a frase "É melhor chorar na cama que é um lugar quente", ouviu uma voz, uma não, a voz.

Não era possível, decidiu nem se virar para ver o que era, não queria levar o balde de água gelada que o esperava quando percebesse que era apenas mais uma de suas ilusões.

-Prefiro não acreditar que viajei por horas de Liverpool até essa cidade meia boca dos Estados Unidos pra você nem ao menos olhar nos meus olhos!- Se estava tendo ilusões era muito bom nisso, quem teria coragem de chamar um lugar desses de "meia boca"?- Vira de uma vez! Já acabou o momento cena de comédia romântica, pode vir...- A voz chegava mais e mais perto, até que a "Ilusão" tocou seu ombro.

Se virou de uma vez, era melhor aceitar que estava alucinando logo no início, e pra sua surpresa não estava.

-John!- Gritou quando seus olhos avermelhados pelo choro encontraram os lindos e brilhantes do outro- Está aqui mesmo? Eu estou louco? Me diga que não sou completamente louco Lennon! Por favor me diga que não...- Ainda falava alto passando os braços pelo corpo do mais velho e recostando sua cabeça em seu peito, deixando que as lágrimas insistentes criassem manchas no moletom amarelo que vestia.

-Talvez seja, quem vem na praia nesse frio?- Perguntou passando a mão quente em seu rosto molhado.

-Nem pense em brincar com isso!-Falou sério deixando seu coração tomar controle de seu corpo e fazer com que pulasse em seus braços- Eu senti saudades, mais que saudades Johnny, parece que morri por dentro...

-Se eu te contasse sobre as milhares de vezes em que cogitei vir até aqui, nem que fosse nadando, certamente não acreditaria- Falava sorrindo, com o olhar sincero e sereno, era tudo que precisava ver, aqueles olhos eram a certeza de segurança, aqueles olhos eram sinônimo de lar.

-Precisa prometer que nunca mais vai me deixar fugir! Não vai me deixar cometer essas loucuras por impulso, descobri que não consigo viver sem você...- O moreno continuava com o rosto abaixado, um tanto de vergonha se instalou em seu peito, não vergonha negativa, talvez algo como timidez de parecer tão vulnerável.

-Quer que eu te deixe enjaulado como um passarinho?- Ria enquanto se sentava na areia fofa, de modo como que suas pernas estivessem entrelaçadas na cintura do outro e que sua cabeça estivesse confortável em seu peito.

-Se essa for a solução, sim- Respondeu rápido, olhando atentamente de forma encantada o rosto de tanto sentiu falta.

Tudo parecia mais claro, o som das ondas batendo nas rochas era mais calmo, mesmo que anoitecendo o mundo parecia mais iluminado, a vontade de ir para casa desapareceu, já se sentia em casa, as nuvens pareciam mais leves e a tempestade se afastou, e não voltaria, nem chegaria perto enquanto suas quatro letras estivessem ali, era seu amigo, era seu amante, era sua alma gêmea, era seu anjo da guarda, era seu mundo, era seu motivo de viver, estava mais que óbvio agora, Lennon era a luz da sua existência, e com ele nada nunca mais seria sombrio.

In heaven- Rock one-shotsOnde histórias criam vida. Descubra agora