Vivendo uma vida agitada como médica em Nova York, de problemas Laura Dessner já estava cheia. A começar pelos sentimentos mal definidos pelo seu ex marido, Daniel.
Após saber que sua tia estava doente, Laura resolve passar as férias junto da famíli...
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Esfrego meu rosto, de frente para o espelho. Entrar nessa casa significa fugir da Dora e suas perguntas invasivas. Significa ter que colocar meus próprios pensamentos em ordem em relação ao Daniel, coisa que não quero fazer agora. E nem consigo.
Aconteceu, não dá pra mudar. A única coisa que podemos fazer agora é o famoso controle de danos. Ninguém sabe do que aconteceu esta noite e as coisas devem permanecer assim.
Nada de novas recaídas, nada de sentimentos voltando à tona. Estamos divorciados, ponto. Se esse desejo voltar, teremos que engolir e agir como adultos que somos. Por nós e pela nossa filha.
Sei que tenho que sair desse quarto em algum momento. Sei que há uma Dora sedenta por respostas do lado de fora. E sei que não posso dar essas respostas a ela.
"Como foi o dia?" "Estranho." "Como está o Sebastian?" "Diferente." "Vocês fizeram as pazes?" "Definitivamente não."
Ou fizemos? Bom, não sinto mais tanta vontade de gritar com ele, isso eu sei. Mas estamos em paz? Isso eu já não garanto muito.
Finalmente saio do meu quarto e caminho pelo corredor, sem pressa alguma de chegar lá embaixo, onde está todo mundo. Bom, nem todo mundo, porque quando passo pelo quarto das meninas, percebo que a porta está entreaberta. Tenho que chamá-las para jantar.
Me aproximo da porta e escuto suas vozinhas baixas. Eu deveria bater para anunciar minha presença, mas não o faço. Juro que não era a minha intenção bisbilhotar, mas não pude deixar de prestar atenção na conversa delas.
— Tá, talvez eu goste um pouquinho dele — escuto Venus sussurrar — mas nunca daria certo. — E por que não? — Porque ele mora longe e eu vou embora daqui a dois meses, Clara. — Mas você pode aproveitar enquanto está aqui, Venus! — Uh, mãe?
