▪︎ quarantasei

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Estou na Itália a exatos cinco dias, desde que cheguei pareço viver um sonho que por três anos idealizei como pesadelo

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Estou na Itália a exatos cinco dias, desde que cheguei pareço viver um sonho que por três anos idealizei como pesadelo. Em mim formentava a idéia se é que se um dia Serena se aproximasse do pai seria rejeitada, o Luigi que conheci e me apaixonei virou uma utopia enquanto eu alimentava em meu interior que o homem apenas se tratava de um aproveitador frio e covarde.
Hoje sentada em uma movimentada praça no centro de Milão enquanto o assisto o italiano brincar com minha filha de forma amorosa consigo identificar que todo o conceito sobre ele que criei durante esses três anos foi na verdade um muro que construí para viver o luto, o luto de ter me sentido abandonada, o luto da saudade, o luto de quere-lo perto e não o ter ali.

Desde que comecei a viajar pelo mundo para modelar sempre rejeitei as propostas para a Itália, sequer sonhava que o homem estava aqui, mas só de pensar que pisaria em sua terra natal me sentia fraca e disposta a fugir de tudo que sentia por ele cortei os laços invisíveis que tínhamos de forma abrupta, entretanto um laço  específico e inquebrável me fazia lembrar do europeu sempre que olhava o seu rosto. Os olhos verdes latejantes e as singelas covinhas refletiam lindamente a imagem de seu pai e ainda que eu tentasse fugir era impossível, ele estava sempre por perto, estava na personalidade forte de Serena, em sua sinceridade, na pele alva e no instinto de liderança que carrega dentro de si.

Quando fui contactada para o Milan Fashion Week minha primeira ação foi informar ao meu empresário que não iria, não o dei explicações e sequer quis prolongar o assunto, apenas disse que não. Apesar de terem se passado anos eu não estava pronta para conhecer o país do europeu, meus muros emocionais não foram suficientes para que eu conseguisse o impacto estrondoso que o empresário teve em minha vida e eu ainda me agarrava a idéia de que me afastar de qualquer coisa que me lembre ele era o ideal, mas não, nunca foi.
Em um insight resolvi aceitar o convite, e disposta a lidar de uma vez por todas com minha angústia resolvi trazer Serena junto comigo, pois mesmo que não entenda um pedaço dela pertence a esse país e eu queria que ao menos uma vez minha filha tivesse contato com suas raízes italianas.

E agora estou aqui, meu maior pesadelo se transformou em um sonho que sempre esteve presente em mim e que sempre fiz questão de negar. No fundo de meu coração tudo que mais quis desde o nascimento de Serena era vê-la junto ao seu pai, reconhecendo nele os trejeitos que carrega, parte de sua personalidade e os traços físicos que puxou do mesmo.
Tudo que mais almejei em todo esse tempo foi uma.. uma.. uma família.
Sim, uma família.. a nossa família.
Nossa..

O plano de hoje era um encontro de "família", enquanto Antonela e Luigi se divertem com Serena estou sentada a aproximadamente 20 metros de distância com Vicente e sua namorada na toalha estendida na grama do piquinique que estamos a fazer.

— Já conversou com ele Lorena? – a voz de Vicente me tira de meus devaneios fazendo com que eu volte minha atenção ao rapaz.

— Ainda não.

— O nosso vôo sai amanhã as 15h, achei que ele já soubesse disso – informa o fotógrafo fazendo com que um incômodo que antes estava adormecido apareça outra vez.

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