A estabilidade da qual parecia um devaneio impossível na minha conturbada juventude hoje faz parte do meu dia a dia. Tenho uma família unida, uma boa casa, sou dono de uma indústria gigantesca e além disso tenho um relacionamento saudável.
Quando estava sentado em um banco qualquer vestido de trapos enquanto meu corpo se congelava gradativamente no inverno italiano via famílias passando pela praça com seus filhos, ainda que entorpecentes me deixassem a mercê eu conseguia assimilar aquilo a uma vida decente e feliz.
Hoje tenho tudo isso e ainda assim a tão almejada felicidade plena não está aqui e eu sinceramente acho que nunca estará. Sempre falta algo, alguma lacuna permanece aberta não importa o quanto temos, querer mais é inevitável.
Acredito que essa seja a grande maldição do ser humano, nunca conseguimos nos contentar com o que temos, não importa o quão bom seja.As vezes me culpo, as vezes me questiono o porque arrisco tanto perder minha família. São retóricas que me atormentam e a resposta que vem a minha cabeça é sempre a mesma: não dá mais pra viver sem ela.
Eu já estive nessa situação, uma vida dupla já fez parte da minha realidade, mas agora é diferente. É diferente de tudo que já vivi, é algo que me arrebatou desde o primeiro instante e conforme o tempo passou me consumiu cada vez mais, de uma forma que eu acreditava ser impossível acontecer, mas ela sem nenhuma pretensão conseguiu fazer de mim um homem rendido. E eis-me aqui, totalmente rendido e perdido por ela.
Estou sentado em meu sofá balançando um copo de whisky observando o líquido dourado se mover dentro do recipiente quando ouço a campainha tocar, Michela se dirige até a porta abrindo-a e então Carlos e sua família adentram o ambiente.
Esse tipo de encontro entre nossas famílias são frequentes, além de nós nossas esposas também são extremamente amigas o que faz com que pequenas confraternizações como a que ocorrerá hoje sejam rotineiras.
Cumprimento-os alegremente juntamente com Michela antes que as mulheres caminhem até a cozinha e eu e o contador até o pequeno bar localizado no canto da sala. O sirvo um pouco de whisky antes de nos dirigirmos até a área de lazer localizada do lado de fora da casa.
As estrelas são refletidas na água da piscina juntamente com a lua, o vento parcialmente frio se choca contra meu corpo enquanto me acomodo em uma cadeira presente no lugar e meu amigo se senta do outro lado da mesa ainda em silêncio.
— Seu semblante está diferente – diz sem dirigir o olhar a mim — O jeito com que fala, se comporta e até mesmo seu andar. Só um cego não reconheceria a confusão interna em que você se meteu.
— Eu sei.
— O que você pretende fazer?
— Isso eu não sei.
— Quer conversar sobre isso Luigi?
— Não.
— Porque?
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SFOGARSI
RomanceTrilogia Europeus 1° ERLEBNISSE 2° SFOGARSI 3° INEFABLE Não é necessário ler o primeiro livro para que haja compreensão dessa história! Luigi mudou-se para o Brasil a dezenove anos juntamente com sua esposa Michela. Vindo de uma família consideravel...