SFOGARSI

▪︎trentatré

Meus olhos se abrem gradativamente enquanto me desperto de um sono conturbado. Lapsos do que vivi naquela noite me assombram e desde então ainda não consegui ter paz.

A forma com que Vitor me expôs na frente de todos aqueles profissionais foi cruel, não sei mensurar o tamanho da vergonha que sinto desde aquele momento e quando eu achei que nada podia ser pior Vicente se foi.

O ver entrando naquele carro com o rosto marejado foi dolorido, minha vontade era correr atrás do veículo gritando o quanto sou horrível e como ele foi bom para mim até minhas pernas padecerem, mas nem forças para me humilhar ainda mais restou.

Amora pula na cama me trazendo o conforto matinal do qual eu tanto preciso, aperto a cadela em meus braços e ela se encaixa perfeitamente ali enquanto espalho beijos por seu pelo ralo.
A porta é abruptamente aberta fazendo com que a luz adentre meu quarto que ainda se encontra em uma penumbra, minha vó aparece no meu campo de visão escancarando a cortina de forma com que os raios solares se chique com meus olhos de forma cortante me tirando do comodismo da escuridão.

— Se levante, temos compromisso – ordena posicionando-se em frente a minha cama e cruzando os braços.

— Compromisso? Hoje é sábado vovó! – pestanejo.

– Você e Amora são duas folgadas – resmunga tirando o edredom que cobria meu corpo de forma bruta — Vá tomar um banho, vamos sair.

— Sair para onde uma hora dessas em um sábado?

— Vamos..– ela para por alguns segundos parecendo formular uma resposta — Ah, você faz muitas perguntas. Apenas se levante e tome um bom banho, trate de colocar uma roupa arrumada também e quando estiver pronta, iremos.

— Como assim vó?

A senhora me ignora e sai do quarto sem dar mais explicações.

Me levanto da cama a contragosto, com centenas de perguntas sobrevoando minha mente enquanto caminho com passos pesados até o banheiro.
Assim que chego no pequeno cômodo meu celular toca, pego o aparelho e o nome "Luigi" reluz sob a tela tirando de mim o primeiro sorriso do dia.

Não importa o quão difícil tudo esteja quando o italiano aparece minha atmosfera parece se transformar no mesmo instante, ele tem esse poder sobre mim e sou grata por isso.

— Bela Lorena.. – ouço sua voz rouca assim que atendo a chamada.

— Querido italiano..

— Amanheceu bem, feliz?

— Amanheci com minha vó aos berros, e também tem tudo o que aconteceu..– controlo-me a fim de fazer com que aquelas lembranças não voltem — Enfim..

— Eu queria poder fazer algo, eu..

— Você quase desfigurou o rosto dele – exclamo e nós dois rimos — Se não estivesse lá tudo seria pior.