II 2.6 Manta

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Chris estava submersa na banheira quando ouviu os passos sorrateiros no seu quarto. Pensou, por um breve momento, que estava desarmada, mas então emergiu, reconhecendo o delicado vestido azul claro e os longos cabelos loiros como os raios de Amandeep.

- Pode entrar – disse, irônica, enquanto Serena se sentava na beirada da imensa banheira.

- No quarto? Sinto dizer que já entrei.

- E na banheira, se quisesse... Mas acho que Damien me mataria... – Chris riu quando Serena corou, revirando os olhos. – Como está com o nosso comandante?

- Me evita a qualquer custo – Serena tirou os sapatos e colocou os pés dentro da água fumegante. – Gostaria que me desse um voto de confiança, que acreditasse quando digo que pode abandonar o bahijismo.

- Não o fará. – Opinou Chris. – Veio aqui para mais uma aula de como seduzi-lo? Se for isso, precisaremos de mais bebidas, porque da última vez estava muito travada.

- Ah, acho que suas aulas são inúteis comigo... – murmurou Serena.

Christine pousou os olhos na manta de sua mãe, cuidadosamente dobrada na bancada ao lado da banheira. Os dedos de Serena estavam perigosamente perto do tecido azul, tamborilando contra o mármore. Engoliu em seco, tentando não se fixar nas letras bordadas: C.A.A. Não queria que Serena visse a manta, nem ao menos soubesse, mas a loira continuava tagarelando, seus longos dedos alisando a superfície de mármore escuro...

- Me sinto tão boba, fico perdida, sem saber como agir, como me aproximar dele...

Os dedos de Serena batiam inquietos contra o mármore.

- Às vezes, ele me parece tão sério, tão distante, como se não sentisse nada...

Chris tentou evitar uma careta quando Serena tocou a manta, sem querer. Imediatamente, como se tivesse sido queimada, ela retirou a mão.

Maldição, pensou Chris.

- O que é isso? – perguntou Serena, com um sussurro assombrado.

- O que viu?

- Nada... Apenas ouvi. Posso...

- Não. – Chris se levantou com energia, pegou a manta e, espalhando água por todo o banheiro, a jogou dentro de um armário.

- Chris...

- O que ouviu? – perguntou Christine, sem se importar que seu corpo pingava água fora da banheira.

Curiosos olhos azuis a encaravam.

- Uma gargalhada – respondeu Serena.

- O quê? – perguntou Chris, genuinamente surpresa. – Tem certeza?

- Absoluta. Uma gargalhada. Forte e terrível.

- De um homem?

- Não. De uma mulher. De uma mulher velha.

- Impossível.

- Chris, de quem é essa manta?

Christine respirou fundo antes de falar. Era tudo o que menos desejava: compartilhar os segredos de sua vida miserável com Serena, a dor de sua mãe sendo exposta à sua frente. Mas fora descuidada e agora precisaria pagar o preço.

- Era a manta de minha mãe. Apenas uma manta, Serena. E ela não é essa mulher que ouviu. Pois minha mãe morreu jovem, como sabe. E jamais a vi sorrir, muito menos gargalhar.

- Não é apenas uma manta... Tem algo mais. Deixe que eu a toque novamente – pediu a loira.

- Não. – Os olhos de Christine eram frios e determinados.

- Chris...

- Tire essa roupa e entre na banheira.

- O quê? – perguntou Serena, incrédula.

- Hoje ainda é meu aniversário e não desejo falar sobre os infortúnios da minha família. Faça o que eu mandei – mandou ela, saindo do banheiro, ainda nua. Jogando um penhoar sobre o corpo molhado, chamou a primeira criada que apareceu na Ala do Kaal: - Criada, traga uma garrafa de licor de laranjeira. E dois copos.

Quando voltou, o vestido de Serena já estava jogado na bancada e ela estava dentro da banheira, os olhos fechados, a cabeça apoiada na beirada, os cabelos loiros escorrendo pelos ombros. Chris entrou, se apoiando do lado oposto, e disse: - Sei que não é apenas uma manta. Me dê alguns dias e a mostrarei a você.

- Aposto que também quer saber de quem é a gargalhada.

- Pior que não faço a menor ideia.

Depois que a criada entrou, deixando o licor e os copos cuidadosamente em cima da lateral da banheira, Christine suspirou: - Serena, não há mal algum em se apropriar de sua beleza para ter o que quer.

Os olhos azuis se abriram suavemente: - Não sei ser sensual como você.

- Não precisa ser como eu. Já é do seu próprio jeito. Apenas assuma o que é e não fique por aí se escondendo por trás da carapuça de louca.

- Damien sabe que não sou louca.

- Sim, mas você passa fragilidade. – Serena a encarou. – Sua aparência. Está muito magra. Sei que não está comendo direito de tanta preocupação com Hannah. Seu poder como ghaya. Não são poucos os que não suportaram esse fardo e, realmente, enlouqueceram.

- Merab não enlouqueceu.

- Merab foi a melhor que já existiu.

- E mesmo assim não perdeu a cabeça.

- Merab viveu sua própria vida. Construiu uma família, viveu um amor.

- É o que estou tentando fazer...

- Vou ajudá-la. Mas, escute, não acho que precise disso para ter Damien. Acho que pode ser apenas você mesma. Deixe que ele entenda que não é uma donzela frágil. Mostre a sua força. Sei que fui dura com minhas palavras... – Christine suspirou. – Não concordo com tudo o que fez até aqui. Mas estamos todos vivos. Devemos isso a você.

Gratidão inundou os olhos de Serena, e Chris passou a ela um pequeno copo: - Vire.

A loira obedeceu.

- Ao menos sabe quais as partes do seu corpo que podem enlouquecer um homem?

Serena piscou, hesitante.

- Tão sábia para algumas coisas e para outras, apenas uma criança. Deixe que eu te mostro.

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