Indo para "casa"

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Eu olhava para o teto do hospital, ele era cheio de pequenos raminhos que na minha imaginação se pareciam com um dourado de chamas e isso me lembrava de como minha mãe cantava feliz, com seus cabelos de fogo como diria tia Luci, eles eram cabelos magníficos pois combinavam perfeitamente com o olhar doce e atento daquele rosto que para mim poderia ser comparado a uma pintura mas que ficou totalmente assombrado naquele dia de viagem trágica. Eu era apenas uma criança com dor que ao se lembrar dos pais perdia o ar.
Tia Luci não estava no quarto? Ela me deixaria nesse momento? Me levantei subitamente da cama sem saber se minhas pernas aguentariam o peso do meu corpo, não pude andar nem dois passos antes de cair no chão gelado daquele quarto de hospital.
Comecei a chorar tanto que não conseguia parar, a chuva lá fora só aumentava e minha dor só latejava. Tia Luci chegou no quarto espantada talvez pelo barulho mas eu não sabia dizer, ela olhou para mim nervosa e se sentou ao meu lado. Tia Luci tinha mãos quentes comparada com minha pele gélida, ela pegou minhas mãos e segurou firme ao dizer:
- Clark olhe pra mim! – eu o fiz, então ela continuou- Você é linda como sua mãe, com esses seus cabelos de fogo. Eu não disse nada apenas escutei e ela continuou:
- Entenda meu amor que o céu fica em tormenta quando você chora, quando choramos machucamos não somente a nós mas também aos outros.
Ao sair do hospital não chorei no carro e nem ao chegar na casa da minha tia porque entendi naquele momento que minhas lágrimas traziam dor, então daquele dia em diante não derramaria lágrimas só as aguentaria pois era assim que deveria ser.
         Ao voltar pra realidade lembrei que estava na casa de minha tia, e olhei ao redor e vi o tanto que era grande e totalmente linda, a casa era de um piso branco como cristal, que levava de uma hipnose instantânea que não lembrava desde a última visita.
    Tia Luci vivia bem pelo fato de ter uma das maiores fábricas dos Estados Unidos, mas ela nunca vivia pelo dinheiro e sim pela paixão pelo trabalho. Então me lembrei que tinha um quarto só meu para brincar enquanto podia sorrir nem que fosse por alguns momentos.
Corri pelos corredores da bela casa, que sempre tinha portas iguais de madeira ornamentada e de quartos igualmente elegantes, minha porta era diferente, era simples e branca mas não menos importante, corri para  encontrá-la  e cheguei a sua frente um pouco ofegante, ao entrar tive uma surpresa ao saber que todas as coisas da minha antiga casa estavam lá, olhei cada boneca e xícara de chá e sorri .
Tia Luci apareceu de repente com sua roupa de sempre, com elegância total com sua blusa de mangas compridas branca e com pequenos detalhes de glitter e um sobre todo marrom claro e uma calça preta com botas de salto e cano longo, ela era linda, ela me tirou dos meus pensamentos e disse:
- Você gostou?
- Eu amei! Mamãe gostava de brincar de boneca comigo. -Peguei uma que era pequena e de cabelos laranja como os da minha mãe e a apertei contra o peito e senti um calor fundo no meu peito.
- Sim ela gostava – disse tia Luci com um sorriso para janela. Ao me virar olhei para o céu e vi um belo sol. Enquanto saía do quarto tia Luci disse:
- O sorriso sempre traz o sol.
      Aquela frase ficou em mim até eu adormecer junto a todos os meus brinquedos. Ao meu pedaço de casa.




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