Casa

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Quando saí da biblioteca havia pouco mais de dez alunos nos corredores, estava tudo calmo e silencioso, segurava meu pote de pudim com firmeza com medo que minhas pernas me enganassem e eu caísse no chão. Peguei meu celular e liguei para minha tia mas a única coisa que recebi foi a voz chata e metódica da secretaria eletrônica, repeti esse processo umas cinco vezes e depois desisti. Sai do colégio e vi que o Adam estava me esperando, fui até ele confusa e me perguntando porque ele havia me esperado.

- O que você está fazendo aqui? Pensei que tivesse ido pra casa.

- Não ia deixar você ir pra casa sozinha. Não seria legal da minha parte e também quero compensar tudo que aconteceu hoje. Pega meu pudim você precisa dele mais do que eu.

- Você não vai comer o pudim? Por que? Isso é chocolate,é maravilhoso, e por falar em comida, você só comeu uma barrinha dura e estranha no almoço se é que aquilo pode ser considerado pelo menos um tipo de alimento. - Adam sorri com a minha fala e olha pra mim com olhar de sarcasmo.

- É sério que você está preocupada com minha alimentação?

- Não, é claro que não. Vamos, já está ficando tarde - Comecei a andar na sua frente, bufando e fingindo estar com raiva, ele andou dois passos pra me alcançar e andamos em silêncio até em casa, mas esse silêncio era bom, diferente do de manhã, esse era reconfortante como se as palavras não fossem necessárias naquele momento.

- Eu pensei que você fosse embora com sua tia hoje. - Diz Adam diminuindo um pouco o passo.

- Sim eu também pensava mas ela não atendeu o telefone e quando você veio me buscar hoje, ela já tinha saído. Deve ser algum problema na empresa dela. A fábrica deve estar uma bagunça para não jantarmos juntas hoje.

- Que pena. Você devia ter um cachorro ou peixe, eles te fazem companhia enquanto está sozinha.

- Eu não posso ter animais, minha tia é alérgica. E um peixe, talvez eu pense na possibilidade.

- Que tal na semana que vem a gente ir comprar um peixe? Eu não me importo de te levar lá.

- Tudo bem mas tem que ser a partir de quarta porque eu tenho um trabalho pra entregar de francês e eu não sei nem qual é minha parceira até agora.

- Qual o nome?

- Lisa - Adam tossiu como se estivesse engasgado com uma melancia - Adam calma, qual é o problema?

- A Lisa é amiga da Julie. Elas são iguais, tipo em tudo a não ser nas notas.

- Ai não, caramba por que essas coisas tem que acontecer comigo? - Chegamos mais rápido do que eu esperava, ainda estava de dia e o carro do Adam estava parado no mesmo lugar - Tudo bem, eu vou tentar falar com a professora de francês amanhã e vou tentar resolver. É melhor eu entrar.

- Espera. - Ele coloca minha mochila no chão junto com o pudim que eu estava segurando e segura os meus braços - Você tá usando as pulseiras, mas por que a minha tá separada das outras? - Ele me pergunta, olhando para a pulseira azul.

- Eu não sei explicar isso, só coloquei e pronto mas obrigada. - Então ele me soltou e disse:

- Boa noite Clark. - Peguei minhas coisa do chão e me virei pra ele e dei um pequeno aceno de confirmação.

Quando entrei em casa estava tudo quieto, nesses momentos sentia falta da companhia da senhora Sophie, ela sempre virava a noite comigo quando minha tia demorava pra chegar, comíamos porcarias e assistíamos programas idiotas na televisão, era reconfortante. Fui até a cozinha e coloquei os dois potes de pudim na geladeira enquanto abria o congelador a procura de qualquer coisa que desse pra jantar. Achei uma pequena caixa de lasanha e coloquei no micro ondas.

Peguei um tomate e lavei pondo no prato para acompanhar a lasanha industrializada, depois que o micro ondas começou a apitar loucamente peguei a lasanha e coloquei junto com a salada e fui a geladeira de novo pra pegar suco. Engoli tudo rápido, tentando não pensar que aquela comida estava com gosto de plástico me forçando a mastigar assim mesmo. Quando terminei fui para o quarto tomei um banho rápido e sai procurando um livro que pudesse me distrair. Peguei o marca pagina de árvore que estava dentro da minha bolsa e fui para a varanda.

O clima estava começando a esfriar mas mesmo assim fui lá pra fora, meu coração acelerou um pouco ao lembrar daquele sonho estranho mas ignorei qualquer tipo de sentimento doido da minha cabeça, me sentando em uma cadeira bem confortável no jardim, tinha tantas almofadas que eu estava me sentindo em cima de uma nuvem. Abri o livro e meus olhos passavam pelas letras entediados, minha mente estava cansada pelo dia cheio no colégio então coloquei o livro no chão e olhei por um bom tempo a pulseira azul de Adam e passei o dedo levemente por ela.

Eu realmente nunca tive amigos, queria dar uma chance pro Adam, Jane e Ryan. Eles estavam querendo me ajudar mesmo mal me conhecendo. Eu poderia tentar. Eu queria tentar, só precisava aprender como.

Chuva de diamantes Onde histórias criam vida. Descubra agora