Somente suas palavras

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Depois de comer tudo que meu estomâgo conseguiu, ainda ficou sobrando a torta, mas não havia nem um espaço dentro de mim pra mais nada, fui até o quarto e coloquei alguns livros e cadernos na mochila com a pequena vasilha da torta. Terminei tudo e fui até o espelho do banheiro pra ver meu rosto que realmente estava pálido e com aparência cansada, mas não iria me preocupar com minha aparência essa não era a pessoa que eu era, então simplesmente encho minha mão de água e jogo no vidro do espelho fazendo ele embaçar e esconder meu rosto que mostra marcas de como eu realmente estou por dentro.

Saio do banheiro e vou pra sala e vejo minha professora mexendo no celular, é, realmente o mundo está evoluindo.  Dou um leve pigarreio e ela percebe e se levanta falando:

- Vamos, não queremos nos atrasar não é mesmo? – Ela dá uma leve piscada, a piscada que ela faz quando está feliz, sempre fui muito perceptiva com as coisas, desde as pequenas as grandes, acho que de certa forma é bom, assim as pessoas que eu amo não precisam esconder nada de mim, não precisam fingir que não estão bem, só eu geralmente preciso.

Peguei todas as minhas coisas e fomos para o carro, ele parecia aqueles carros do de volta para o futuro, então eu sempre ficava nervosa porque com toda a certeza não queria ir pro futuro saber como eu estaria com 30 anos, mas era sempre divertido, ela ligava o velho rádio que demorava uns 2 minutos pra sincronizar em uma música mas era legal.

- Clark você quer uma música como nos velhos tempos? – Perguntou senhora Sophie com os olhos vidrados na estrada. Eu sei que iria demorar uma eternidade para o rádio sincronizar mais valia apena o sacrifício, em resposta a sua pergunta me virei um pouco no confortável banco do carro e fiquei de frente pro pequeno aparelho apertei um pequeno botão amarelado e velho, girei ele um pouco o que o fez dá um pequeno rangido e depois de 2 minutos começou a funcionar.

Ouvia a música como se a entendesse, o que era um pouco difícil sabendo eu que o cantor talvez já estivesse morto bem provavelmente pela idade, e ainda tinha a letra, ela não fazia nenhum sentido, falava de um fazendeiro que perdeu seu doce cavalo e que agora teria que acordar todas as manhãs andando com outros cavalos, totalmente sem sentido. Já tinha ouvido aquela música várias e várias vezes porque a emissora amava toca- lá.

Minha professora cantou o caminho todo, suas músicas favoritas sempre tocavam naquela geringonça. Era animador ouvi- lá repetir as frases das músicas com perfeição, sabendo onde ficava cada virgula e ponto, onde ter mais entonação, onde se animar e relaxar, sua voz era doce mas ao mesmo tempo cansada porém nada disso a impediu de seguir sua vida, seus sonhos e metas, ela era aquele tipo de pessoa que a vida poderia até abater mas não derrubar totalmente. Me senti bem aquela manhã, apesar do sonho doido, da queda da cadeira e da fraqueza que já passavam, eu já tomara a injeção de ânimo diária, aquela que me fazia ficar de pé, e me senti bem, agora eu esperava ela fazer seu efeito.

Chegamos na escola e senhora Sophie para o carro em uma vaga de funcionários do colégio o que me faz ficar curiosa.

- Podemos parar nessa vaga? Pensei que fosse só pra funcionários

- Exato, é só pra funcionários – Ela disse se virando pra mim e me mostrando um crachá no seu pescoço que dizia “funcionaria da biblioteca” eu a puxei pra perto e a abracei – Eu sei querida – Disse ela passando de leve as mão no meu cabelo que agora já estava quase seco. Ela me soltou e me olhou nos olhos e balançou a cabeça. Quando eu tinha 9 anos, nas aulas de artes costumava ter dificuldade em fazer certos desenhos mas quando olhava pra ela, ela simplesmente balançava a cabeça e eu sabia o que queria dizer “você consegue”.

Andei lado a lado com minha professora até a porta que foi quando encontrei, Adam, Ryan e Jane, olhei pra senhora Sophie e ela só triscou levemente no meu braço e deu um sorriso curto e foi em direção a biblioteca.

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