Quando chegamos a cantina, Ryan abriu os braços parecendo um apresentador de circo e sorriu para a comida, ele me mostrou a fila e me colocou lá. Eu não pensei duas vezes antes de pegar uma bandeja e pegar tudo o que eu tinha direito, na cantina tinha uma senhora com olhos castanhos e sorridentes, que falou:
- Finalmente senhorita Miller, veio lanchar com a gente. Jane falou muito de você ontem. – Fiquei surpresa com a o que aquela senhora falava. Não fazia ideia que meu nome já estava rodando naquele colégio tão grande. Depois de pegar tudo o que queria olhei para minha bandeja, tinha uma banana, um purê de batata com brócolis e um pote de gelatina de morango, uma combinação meio doida.
Eu me senti em um filme adolescente onde a novata não conseguia encontrar um lugar para sentar, tão clichê, até que vi meu grupo de colegas? Amigos? Ainda não estava definido mas sentia que eles eram boas pessoas, talvez eu tentasse, quebrasse essa promessa e destruísse o muro que existia a minha volta. Fui até a mesa e recebi sorrisos de Ryan e Jane que estavam sentados lado a lado, Adam comia quieto e o único lugar que tinha era ao seu lado, ele nem ousou levantar os olhos.
- Que bom que conseguiu pegar o lanche, estava bem aqui observando, até que se saiu bem. – Disse Ryan na maior calma do mundo, o prato dele não tinha nada além de carne e legumes. Já o da Jane tinha de tudo, macarrão, purê e carne com quatro potes de pudim do lado. Adam só comia uma barra de cereal branca e sem graça.
Todos ficamos em silêncio enquanto comíamos, o que me deixou contente, a comida era macia e deliciosa, nem a minha tia fazia uma comida igual àquela, o que trouxe um certo conforto pro meu estomâgo, algo mais caseiro, mais de mãe eu acho.
- Uau isso é muito bom! – Falei com a boca cheia de purê. Ryan olhou pra Jane e os dois sorriram e bateram as mãos.
- Sabia que você ia gostar, foi ideia minha e do Adam buscar você para almoçar, ele disse que você não tinha comido nada – Disse Jane jogando um macarrão na cabeça do Adam.
-Jane! – Adam pegou um pedaço da sua barrinha e jogou na Jane com raiva.
-Você quase não está conversando, precisa ser mais flexível.
- Eu tentei ser mais flexível e não funcionou – Disse o Adam olhando fixo nos olhos da Jane, eu sabia que ele estava falando de mim, não queria que eles brigassem por minha causa então me levantei e olhei pra Jane e para o Ryan e disse:
- Obrigado pelo almoço estava muito bom – Mal tinha encostado na comida mas saí andando assim mesmo, os corredores estavam mais vazios porque a maioria das pessoas estavam na cantina aproveitando sua comida com seus amigos, é , realmente socialização não é meu forte.
Me decide que naquela tarde me focaria cem por cento na aula e foi o que aconteceu, existem matérias ou até mesmo professores que são insuportáveis de conviver, mas mesmo nesses momentos eu prestava atenção em cada virgula que ele falava, eu anotei tudo o que eu consegui a lápis para depois colocar tudo a caneta em casa, minhas mãos começaram a doer e estralar de tanto que eu anotei, então só coloquei alguns adesivos em partes importantes, grifando aqui e ali. O sinal tocou me pegando de surpresa, me dediquei tanto a aula que nem vi o tempo passar.
Sai da sala e dei de cara com o Adam me esperando. Ele estava com as mãos para trás, nervoso ou talvez ansioso mas eu não sabia qual dos dois.
- Podemos conversar? – Ele me pergunta sério.
- Tudo bem – Andamos em sincronia, passos iguais e tranquilos. Adam vai em direção a biblioteca, o único lugar mais tranquilo naquele horário. Entramos e fico boquiaberta com o tamanho, me sinto em um castelo com um lorde rico que tem milhares de exemplares de vários de seus livros preferidos. Não deixo de ficar estática o que faz Adam sorrir.
- É enorme não? – Diz Adam. Só consigo assentir com a cabeça, ainda sem palavras para expressar.
Adam caminha em meio as estantes de livros como se já estivesse acostumado com tudo aquilo e eu o sigo sem conseguir olhar para outro lugar sem ser para cima tentando medir mentalmente o tamanho daquela grandiosidade. Ele senta em um mesa no fundo, á várias fileiras de mesas de madeira polida com abajures verdes parecendo vagalumes no meio da noite.
Eu me sento na sua frente, esperando, até que ele olha bem nos meus olhos e diz:
- Eu sinto muito por hoje, fui um idiota, tanto de manhã, quanto no almoço, não devia ter tocado naquele assunto. – Eu fiquei em silencio por um longo momento, com o olhar fixo no dele, ele realmente estava sendo sincero então era minha vez de falar.
- Esse foi um dos dias que mais me senti mal, eu me recordei de um momento feliz que tive a muito tempo atrás... – Minha garganta fecha ainda tentando encontrar as palavras engasgadas – E fiquei sem ar, mas hoje foi a primeira vez que tive alguém pra me motivar e ajudar. Todos vocês me ajudaram, não costumo falar como eu me sinto e hoje foi a primeira vez em muito tempo que fiz isso. – Sorri, dessa vez de verdade sentindo uma leve dor nas bochechas pelo movimento pouco utilizado, Adam ainda olha para mim pensativo, até ele se levantar e pegar minha mãos me puxando para o meio das estantes. O que me pega um pouco desprevenida me fazendo tropeçar em minhas pernas fazendo ele segurar minhas mãos com mais firmeza.
- Procure o livro o pequeno príncipe de Antoine de Saint - Exupéry – Adam diz com as mãos nos bolsos depois de soltar as minhas levemente e me posicionar na frete da enorme prateleira, bem tranquilamente analisando meu próximo passo.
- Por que? – Minhas sobrancelhas se franziram e Adam sorriu e imitou minha expressão antes de responder:
- Você vai descobrir – Disse ele indo embora mas então ele parou a mais ou menos dois metros de distância se virou pra mim e levantou o dedo como se tivesse lembrado de alguma coisa – E Clark uma dica, o livro não está em baixo. Sempre mantenha seu olhar para o alto é lá que as melhores coisas estão. – E foi embora me deixando com meus pensamentos e dúvidas sobre sua frase.
Depois do que ele me disse, olhei pra cima por um bom tempo, até achar um livro fino e branco, abri ele com muito cuidado passando as páginas com leveza até perceber que ele tinha um belo marcador com uma imagem de uma árvore. A árvore era grande e suas folhas eram de um verde brilhante que pareciam estar deitadas por causa do vento, em um dos galhos havia uma coruja de olhos amarelos e atentos com penas que cintilavam no pequeno céu pintado de azul, percebi ao analisar bem, que era um desenho feito à mão e muito delicado que provavelmente havia demorado horas para ser feito, preso a ele havia três pulseiras com um pequeno bilhete.
As pulseiras eram diferentes entre si, cada uma de uma cor, uma era rosa, a outra era verde e a última azul. Alisei as pulseiras bem devagar e então percebi que cada uma tinha seu significado. A rosa era como as pontas do cabelo da Jane, o azul era como uma piscina em um dia de verão, como os olhos do Adam e o verde provavelmente era do Ryan mas a cor, ainda não fazia sentido, porque verde? Coloquei as três pulseiras em braços diferentes a azul coloquei no braço direito, a verde e a rosa ficaram juntas no braço esquerdo.
Deixei o bilhete por último, ele era pequeno e amarelado, lá continha uma pequena frase com uma caligrafia apressada mas que eu conseguia entender assim mesmo, lá dizia – “Muitos gritos já foram presos pela voz do silêncio” – Qual dos três havia escrito aquilo eu não sabia dizer, mas eu nunca tinha lido nada igual. Atrás do bilhete havia também outra coisa escrita – “Deixei seu pudim em cima da mesa dos fundos”. Assinado: Jane.
Fui até a mesa onde eu e Adam estávamos sentados e peguei a pequena vasilha de pudim de chocolate, agora entendi porque tanto pudim, era um pra cada pessoa talvez ela tenha deixado aqui sem eu perceber.
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Chuva de diamantes
FantasíaClark é uma menina de 17 anos, super inteligente, forte e confusa, que nunca estudou com outras pessoas mas que para agradar a tia aceitou o desafio de cursar o último ano do ensino médio com a ajuda de pessoas tão diferentes quanto ela mesma. Irá d...