Indo pra casa

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As aulas no período da tarde passaram mais lentamente mas isso não me afetou tanto, tia Luci sempre me cobrava demais para estudar e me dedicar, as aulas começavam as oito e terminavam as quatro como em qualquer outra escola dos Estados Unidos. Eu simplesmente não tirava da cabeça que a escola ia ser o pior lugar do mundo mas até que me adaptei bem para o primeiro dia. Os meus níveis de socialização não foram perfeitos, mas como poderia ser? Eu nunca me apeguei a mais ninguém desde a morte dos meus pais, só convivia com minha tia e minha professora, sempre odiei me envolver com estranhos, conversar estava fora de cogitação e sempre foi assim, até hoje.

O sinal do fim da aula toca me tirando de vários pensamentos, saio da sala fazendo o menor barulho possível para que ninguém me note. A saída está cheia de pessoas e imagino quanto tempo vou ter que esperar até diminuir. Dou meia volta e pego meus papeis de atividades dentro do armário vermelho e chamativo do corredor, minha senha é um, dois, três, quatro, sorrio com a facilidade que qualquer pessoa teria de abrir o coitado e me viro, no corredor tem janelas altas e largas que trazem um vento zangado que faz meus papeis voarem e caírem aos pés de Jane a menina com o sorriso mais doce que eu já vi.

Jane pega os papeis de seus pés e por um segundo vejo seus olhos ficarem dourados e depois pretos novamente. Ela é graciosa e me devolve com uma rapidez fora do comum, ela percebe meu olhar e fica seria e dá um passo para traz e se coloca no meio de Adam e Ryan que eu não tinha percebido até aquele momento. Jane pisa no pé de Adam, enquanto Ryan dá uma gargalhada alta.

- Aí! Caramba Jane você tá de bota!

- Isso é o que você ganha por não ser educado. Desculpe Clark mas ele merecia.

- É verdade! - Digo ao mesmo tempo que Ryan, o que faz Adam ficar mais bravo e dizer:

- Agora estão todos contra mim?

- Pelo visto sim. Você não foi um bom guia turístico hoje e tratou Ryan muito mal pro meu gosto - Diz Jane com um sorriso sarcástico no rosto. Meu celular vibra e percebo que já perdi muito tempo.

- Desculpa pessoal, preciso ir minha tia está me esperando!

- Ok! - Dizem os três ao mesmo tempo, eles olham uns para os outros com os rostos levemente preocupados e abrem caminho para eu passar.

Quando chego na porta tudo está mais vazio e tranquilo o que me deixa feliz, avisto o carro de minha tia de longe, ando até lá e entro esperando que ela diga algo, mas está no telefone, gritando e gesticulando:

- Como assim fogo? Eu não vou aceitar isso ouviu bem? Não vou aceitar! - Coloco o sinto de segurança bem devagar com medo que ele possa se partir por causa dos gritos. Ela pega o telefone e o joga em um cesto de lixo logo a frente, furiosa. Ela respira e sua raiva some quase automaticamente como se nunca tivesse existido.

-Como foi sua aula?

-Hmmm...Boa eu acho. Você está bem?

- Porque não estaria?

- Você estava gritando e atirou o celular na lixeira -Falei virando o rosto em sua direção e analisando seu rosto buscando alguma emoção que eu pudesse identificar. Mas nada havia ali além de um rosto em uma paz assustadora.

- Eu estou bem querida - Foi a única coisa que disse antes de ligar o carro e sair em direção à rua, o caminho foi silencioso o que me deu tempo para refletir sobre tudo que havia acontecido no colégio e imaginar que aquele dia só era o primeiro de muitos. Como eu iria encarar tudo aquilo de socialização era algo que eu teria que descobrir.

Chegamos em casa rápido, mais rápido do que imaginei, desci do carro e fui em direção a porta, e ouvi minha tia perguntar:

- Clark quem era aquele garoto que estava conversando com você hoje?

- O Adam, ele me ajudou hoje.

- Você já conhecia ele?

- Sim e não.

- Como assim?

- Eu nunca tinha visto ele antes mas era como se ele soubesse quem eu sou e o que eu sinto. Os amigos deles também foram estranhos assim. - Ela franziu as sobrancelhas e abaixou levemente a cabeça o que me fez perceber cabelos brancos em alguns lugares, eu tenho deixado ela preocupada e o trabalho está a deixando nervosa.

- Adolescentes são todos estranhos querida, eu e a sua mãe fomos desse jeito. - Parei de respirar por um instante, fazia muito tempo que minha tia não falava da minha mãe, porque ela sabia como doía e pinicava a menção do seu nome, mas dessa vez ela simplesmente falou como se fosse qualquer outro assunto.

- Eu vou entrar - Minha tia levantou a cabeça e sorriu pra mim. Não, ela não percebeu que me abalou, então só dei um leve sorriso de canto e fui para o meu quarto.

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