Um passo de fé

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Fui para a aula de francês tentando ficar o mais animada possível, o que não seria uma tarefa muito fácil. Cheguei bem em cima do horário pois tive que ir no banheiro lavar minhas mãos que estavam com terra e pedaços de grama. A aula corria muito bem, eu prestando atenção, a professora explicando e todos felizes nos seus devidos lugares. Posso dizer que uma das minhas aulas preferidas era francês, senhora Sophie cobrava de mim nos mínimos detalhes, de como escrever, falar, ouvir e ouvir bem, ela me fez aprender das frases mais difíceis até as gírias mais estranhas.

A professora de francês sabe como prender a atenção do aluno, ela explica de uma maneira lúdica e divertida, nunca vi nada igual, ela é alta, magra, tem cabelos pretos e a pele é como um caramelo derretido, tão bonita que me dá vergonha das minhas roupas e até as outras garotas da sala que estão bem mais elegantes do que eu sentem o mesmo. A professora dá um passo em direção a minha cadeira e me faz uma pergunta na frente de toda a sala.

- Senhorita Miller, você já teve aulas de francês? – Ela me pergunta com um olhar de curiosidade.

- Sim senhora – Respondo rapidamente.

- Muito bem então. Eu fiz essa pergunta que pode parecer um pouco estranha mas necessária, porque nesse colégio as línguas são muito importantes e devo dizer que somos mais adiantados nessa língua do que em outras instituições, pretendo ensinar o máximo a todos e já que você chegou agora fiquei preocupada da senhorita ficar de recuperação na minha matéria. Mas você parece ser uma menina dedicada e inteligente. Vou passar um trabalho em dupla, uma pessoa irá escrever o trabalho todo em francês e o outra irá falar com a pronúncia aplicada nas aulas . Vou te colocar com a Lisa.

- Mas professora isso é injusto a Lisa é a melhor aluna da turma de francês, não deveria colocar ela com uma pessoa que tem dificuldade? – Um garoto falava em pé, praticamente gritando, ele tinha cabelos cacheados e tinha suas feições parecidas com a de um indiano. Totalmente descontrolado.

- É melhor você abaixar o tom senhor Carter, eu sou a professora e decido o que é melhor para os alunos. Irei testar o conhecimento de todos, principalmente o seu, caso não se lembre você não tem boas notas na minha matéria, então é melhor estudar. Todo o esforço é recompensado com a vitória, então se dedique, derrame sangue e suor que você chegará onde tanto almeja.

Depois do que a professora disse a sala ficou em um silencio mortal, que dava para escutar até as pontas dos lápis transcorrendo no papel, até agora não sabia quem era a Lisa mas fiquei curiosa para conhece- lá se a professora a considerava boa ela deveria ser um gênio. As outras aulas passaram mais devagar do que eu esperava mas pelo menos naquele dia não teria cálculo, a única vez que eu fico com a Jane, Ryan e Adam. Eu não vou conseguir encarar o Adam por um bom tempo, tudo o que aconteceu hoje foi muito cansativo e doloroso. Mas tento deixar isso de lado, tento me acalmar, tento relaxar e esquecer. O sinal toca e dou um leve suspiro de alivio, não a nada igual a você se levantar de uma cadeira depois de uma aula cansativa.

O corredor estava cheio de pessoas, algumas cansadas, outras animadas e outras só fingindo. Meu estomago dói, ele ronca parecendo um urso polar, então me lembro que jantei muito mal e não tomei café. Ouço alguém gritando o meu nome em meio à multidão de pessoas, procuro com os olhos agitados mas tem muita gente, até que outro grito me chama a atenção e consigo ver. Ryan balança as mãos de um lado para o outro igual a um maluco. Fiquei um pouco hesitante em ir até ele, então ele começou a empurrar as pessoas e chegou até mim.

- Vamos dar uma volta. – Ele disse praticamente no meu ouvido.

- Ok – Quando eu falei isso ele começou a andar e foi por um corredor que eu não conhecia. Ele andava tranquilamente sabendo que eu o seguiria, então olha para trás e diz:

- Você deve tá com fome. Ninguém gosta de pegar esse corredor, então sempre vou por ele, é mais rápido.

- Por que ninguém anda por aqui?

- Porque é nesse corredor que fica a sala da aula de serragem e todo mundo acha o professor meio biruta mas ele só gosta de gritar enquanto trabalha ou só gosta de gritar. – Fiquei com vontade de sorrir depois dessa história. Ryan percebeu isso na hora.

- Finalmente

- Finalmente o quê?

- Você deu um leve sorriso. Isso é bom. Você não estava bem mais cedo, falar sobre aquele assunto ainda é doloroso mas um dia você tem que se abrir, não vai doer fazer amigos, você precisa tentar antes de dizer que não consegue.

Eu parei a segunda vez no dia, dessa vez Ryan virou totalmente para mim, e me olhou nos olhos me analisando, ele esticou a mão e eu a segurei antes dele me dar um abraço dos mais apertados que eu já recebi.

-Como você sabe sobre os meus pais? E que isso é dificil pra mim?

- O Adam foi chamado na diretoria, pediram para apresentar a escola pra você e protege-lá se necessário. Falaram sobre sua perda e que talvez fosse dificil para você se adaptar.

- Eu vou sufocar – Disse com os dentes serrados, realmente era um abraço apertado. Que me pegou de surpresa – Ryan sorriu com minha afirmação e me soltou. Ele me deixou melhor, era simplesmente um abraço que valia mais do que qualquer diamante, nunca tinha recebido um abraço que me deixasse tão bem. E que fizesse a dor quase sumir, por um momento me esqueci dos meus problemas.

- Serei seu amigo, serei seu irmão, se você me permitir cuidar de você. – Minha cabeça estava confusa ainda, não sabia como responder, eu iria quebrar minha promessa de não fazer amigos? E tudo o que aconteceu mais cedo? Não era ensinamento suficiente? Mas meu estomago roncou primeiro e Ryan sorriu me dando o seu braço para segurar, o que me fez sentir em um dos meus livros do século dezoito e então seguimos em direção ao maravilhoso cheiro de comida. Eu não sabia o que eu queria mas tentaria dar um passo de fé sem me machucar no processo.







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