Aula chata

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A aula de artes foi um desastre, a professora fez todos pegarem folhas de papeis enormes, aquelas que se colocam em cavaletes. Ela disse que a arte realista era uma das mais bonitas e interessantes mas que nós tínhamos que nos esforçar ao máximo pra alcançar a perfeição, então pegou uma bandeja com frutas (banana, maçã e uva). Meu desenho era só um monte de traços bagunçados e uns círculos tortos, apaguei tantas vezes que acabei estragando até o coitado do papel que não tinha culpa de eu não saber fazer nem um círculo.

            Quando a professora chegou no meu desenho ela ficou simplesmente estática, não sabia o que responder, ela colocou a mão na boca mas eu não sabia se era porque ela queria rir de tão ridículo que estava ou se ela queria gritar com a minha total falta de habilidade.

           - Senhorita Miller, eu... eu estou sem palavras, literalmente. Você irá precisar de ajuda, instruo você a participar do clube de artes no final de semana, precisa ser ensinada. – Ela deu leves batidinhas no meu ombro provavelmente com pena de mim e da minha arte bizarra. – Não quero que fique com um zero na minha matéria. Alguns alunos vão acompanha- lá no sábado não se preocupe, lá tem uma professora maravilhosa.

           Queria saber desenhar, cantar ou tocar algum instrumento mas não é tão fácil como aqueles que já nascem com a “habilidade” porém seguindo as palavras da senhorita Sophie “os sonhos são como uma estrela, se estique bastante para alcança- lá e quando se cansar construa um foguete e vá em direção ao mais profundo céu”.

A segunda aula foi tranquila mas não me chamou muita atenção, eu tinha certeza que o professor de história estava quase morto, chegamos na sala e esperamos por uns cinco minutos, ele chegou na sala se sentou e simplesmente jogou o livro em cima da mesa e disse:

- Adolescentes são insuportáveis, lembrem- se disso quando forem ter filhos, antes de sua filha mimada pegar seu péssimo salário e gastar todo em maquiagem – Ele levantou seus olhos entediados e deu um suspiro – Abram na página 38 e façam um resumo a caneta pra me entregar na segunda. Vou até a diretoria, perguntar sobre quando vou receber de novo – Ele era gordo, careca e tinha um bigode de um daqueles atores de faroeste que tem uns 80 anos e sua pele era rosada e bem avermelhada como um peru no dia de ação de graças mas seus olhos eram apáticos e frios como de um peixe, como se não se alegrasse a muito tempo ou talvez fosse só tedio. Revirou os olhos e saiu, sim literalmente saiu sem se importar que mais da metade da sala não iria fazer o resumo, iriam ficar no celular e bem provavelmente sem nota.

Fiz meu resumo primeiro que todo mundo, aprendi a ler muito, sempre fui apaixonada por livros e conforme o tempo foi passando eu lia mais e mais rápido. Não sei se isso é uma qualidade ou um defeito. Uma menina atrás de mim chorava, soluçando bem baixinho, me virei bem devagar na cadeira fazendo alguns rangidos e recebendo alguns olhares de nojo. A menina demorou um pouco pra perceber que eu a observava, ela ficou congelada por um tempo e depois tentou limpar as lagrimas com a manga do casaco.

- O que você tá olhando esquisita? – A garota usava um casaco preto todo fechado, usava óculos redondos e seu cabelo era preto com uma franjinha na frente e sua pele era como a da branca de neve, aparentemente perfeita e seus olhos eram puxados, ela deveria ter algum parente asiático. Ela segurava o lápis com tanta força que a qualquer momento ele poderia quebrar, suas sobrancelhas estavam franzidas de raiva, ela pressionava o lápis no papel com ódio, esperando que ele desempenhasse seu propósito sozinho.

- Nada, só me preocupei, porque você estava chorando – Nossa, era isso que eu recebia por tentar ser gentil.

- Não preciso da sua preocupação, você vai fazer piadas comigo como todos os outros, só porque não sei fazer um resumo idiota, sempre me dou mal na matéria desse professor preguiçoso. – Peguei o lápis da mão da garota e ela me lançou um olhar de desgosto mais não me importei ela soltou o lápis bem devagar, relutante de que eu fosse feri- lá ou zombar dela como os outros, coloquei o seu livro de frente pra mim e grifei várias partes do texto sempre observando qual seria sua próxima expressão mas seu rosto continuava neutro.

- Em um resumo se lê o texto com muito cuidado e depois se escreve as partes mais importantes, pode seguir essas partes que eu marquei como sua base e fazer um bom resumo. – Ela pegou o lápis da minha mão rapidamente e virou o livro pra ela, analisou as partes com muito cuidado e disse:

- Eu... não sei o que dizer. – Disse ela boquiaberta, sua expressão um pouco mais suave que antes.

- Então não diga nada – Olhei bem nos seus olhos e me lembrei de uma coisa que escrevi em um dos meus cadernos de poesia – Gentileza é gratuita mas a grosseria, por essa se paga um grande preço. – Seu olhar queimava de confusão e raiva, vi seus olhos começarem a encher de água mas ela se virou pra parede antes que a primeira lagrima caísse.

 

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⏰ Última atualização: Oct 13, 2021 ⏰

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