XXIV

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Por sorte quando voltou do almoço na
cantina o pastor Sehun não estava mais por perto, sentiu um alivio e então se lembrou que ele poderia ter descontado a raiva toda em cima de Irene, se isso tivesse acontecido Seulgi não se perdoaria.

Quando começou a discussão, não pensou nas consequências que isso poderiam ter, só quis extravasar a sua raiva e ficar em paz.

Caminhou devagar em frente a calçada da casa deles, mas não ouvia nada, nem gritos, nem coisas quebrando ou choro, sinais de que não havia acontecido uma briga. Ainda não se sentia 100% calma, foi até o muro que dividia as duas casas, encostou a orelha ali e tudo também estava silencioso. Com certeza essa sensação era só paranoia da sua cabeça.

Ainda tinha a tarde pela frente e estava sem vontade de trabalhar, precisava de pelo um dia sem mexer com fotos, era o seu descanso, mas não conseguia ficar parada vendo tv, então resolveu dar uma geral na casa, uma boa limpada, não que a casa estivesse suja e desarrumada, mas ao menos isso faria o tempo passar mais rápido.

Quando acabou de limpar tudo já era fim de tarde, o sol se punha no horizonte deixando o céu com aquela coloração meio alaranjada, meio rosa. Achava o por do sol lindo, mas aos domingos, não sabia bem por que isso lhe causava uma enorme melancolia. Fechou a porta e foi tomar mais um banho, Seulgi era viciada em banhos, mesmo em dias frios como os que estava sendo ultimamente.

Foi até o escritório e procurou algo para ler, tinha muita coisa ali que ela ainda não havia lido, poderia passar o tempo lendo. Viu O Retrato De Dorian Gray e lembrou que Irene queria muito ler esse livro, já tinha dado uma cópia da chave de casa para ela poder entrar e ler sem medo do marido descobrir, se levasse o livro para casa e ele achasse, nunca ia acabar de ler.

Resolveu ler O Orfanato Da Senhorita
Peregrine Para Crianças Peculiares, já
fazia bastante tempo que queria começar esse livro, mas vivia adiando.

Fez um pouco de pipoca, sentou no sofá e começou a ler, não chegou nem ao final do primeiro capitulo, quando a voz do pastor se fez ouvir ribombante pela casa toda. Tinha esquecido do culto de domingo a noite.

A primeira coisa que sentiu foi raiva, por lembrar da discussão, mas então pela sua mente passou a voz de outro dia, aquela voz que tanta calma e paz havia lhe trazido. Aguentaria o pastor esbravejando só para poder no final do culto ouvir a música. Tentou voltar a ler e se concentrar no livro, mas não tinha como, tanto pela raiva do pastor, como pela ansiedade de ouvir mais vez a garota que cantava.

O tempo foi passando e nada da música, já estava achando que hoje não teria a sorte de ouvir. Foi nesse momento que ela começou, não era a mesma música, mas reconhecia o som do teclado, então aquela voz tomou conta da sua mente, era como se entrasse no seu cérebro e fosse mandando para longe toda lembrança ruim, todos os problemas, era quase como entrar em transe.

Não aguentou a curiosidade dessa vez, saiu e foi até a frente da igreja, queria demais ver o rosto da garota que cantava, precisava ver. Discretamente chegou até uma das janelas da frente e espiou, não viu muita coisa, só a cabeça de quem tocava o teclado, como estava sentada, não tinha como ver o rosto.

Fechou os olhos e aproveitou ainda mais a música, agora que estava tão perto, todo seu corpo parecia invadido pelo som.

A vida me pregou mais uma peça,
Por essa não pude esperar.
Tudo que eu sonhei desmoronou,
A tempos que eu vivo em cavernas,
E ninguém nunca notou,
Sorrisos que se foram com a dor.
Mas eu não vou morrer aqui,
Deus me prometeu assim,
Vou clamar até que o céu,
Se abra sobre mim.

Então a música parou, Seulgi espiou mais uma vez pela janela e não acreditou nos que seus olhos viam. Ali de pé, em frente ao teclado estava Irene, não a Irene que Seulgi conhecia, mas uma completamente diferente, sem aquele olhar assustado, sem medo, uma Irene radiante, quase etérea, ela olhava para o céu como se estivesse em êxtase.

Seulgi não conseguia tirar os olhos dela, estava de tal forma hipnotizada por Irene que nem se deu conta que logo o culto iria acabar, só saiu do transe, quando o pastor Sehun voltou a falar.

Correu para casa, tomou um pouco de água para se recompor da surpresa.
A noite quando sonhou com a voz, ao
menos ela tinha um rosto e era Irene.

A Mulher Do Pastor - SeulReneOnde histórias criam vida. Descubra agora