I

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Já eram 18:00hrs seu marido estava para chegar. Irene já tinha até se esquecido do novo vizinho, sabia como Sehun era exigente, queria seu jantar pronto assim que chegasse e tomasse banho. Essa era uma das piores horas do dia para ela, tinha sempre receio de fazer algo errado e deixar ele zangado.

Começou a se lembrar do inicio do
casamento e como os dois eram tão diferentes, como água e óleo.

Sehun era 30 anos mais velho que ela.
Alto, com uma barriga que aumentava cada vez mais e os poucos cabelos que restavam já estavam quase totalmente brancos, era um homem brutal quando queria, mas sempre dizia que tudo que fazia era para o bem dela, que ele sendo um pastor, era um emissário de Deus na terra, ela tinha obrigação de respeitar e aceitar cada decisão dele, a vida ia sendo assim, durante dez anos ela sempre aceitou e respeitou até coisas que julgava absurdas.

Tinha casado com 15 anos, mais por vontade do pai do que por qualquer tipo de sentimento, achou que com o tempo amaria ele, mas só conseguia sentir medo.

Tinha constantes crises de choro.
Quando ainda era solteira, havia sonhado com alguém que amasse e também  retribuisse seu amor, teriam uma vida feliz, se abraçariam, andariam de mãos dadas, fariam passeios, era uma romântica, mas sua vida não tinha nada disso. Só sai para ir a igreja que ficava ao lado da casa, aquela era sua única alegria, ali ela podia cantar e assim extravasar parte de toda infelicidade quem sentia.

Ouviu quando o carro do marido chegou. Seu cérebro enviou sinais para os músculos que se tensionaram imediatamente. Como de costume ele entrou e bateu a porta da sala com força, jogou a maleta no chão e mandou que ela aprontasse sua roupa e toalha para o banho, ela fez e já começou a colocar a comida na mesa. Picou os tomates para uma salada, quando ele saiu do banho tudo já estava a sua espera.

Ele se senta quieto, ela espera que ele se ajeite e depois senta, nunca sentava antes dele, isso era considerado falta de respeito e ele nunca admitia que ela tomasse essa atitude. Resolveu perguntar como havia sido o dia de trabalho.

— Como foi seu dia hoje?

— Tudo igual, não sei por que você ainda pergunta isso.

— Temos um vizinho novo, vi quando a mudança chegou.

— Hum, só espero que seja alguém decente. Se for algum maconheiro já vou precisar dar um jeito de tirar ele daqui afinal, não queremos gente desse tipo na nossa comunidade.

Irene sabia bem disso, a dois anos ele havia juntado todas as pessoas da igreja e mais algumas do bairro para atormentar a vida de Seung-wan, uma mãe solteira que tinha tido o azar de se mudar para uma casa ali perto, ela não ficou nem seis meses, não suportou a pressão que as pessoas faziam e tudo isso sob o comando de seu marido. Estava perdida nesses pensamentos quando Sehun começou a xingar.

— Mas que droga é essa Irene? - Ele dizia mostrando uma rodela de tomate.

Ela não via nada errado nele. Respondeu de forma inocente.

— Um tomate.

A ira transpareceu ainda mais no rosto de Sehun.

— Não brinque comigo mulher. Que porcaria é essa, olha o tamanho dessa rodela de tomate, quantas vezes vou ter que dizer que não gosto de rodelas grossas! Você faz de propósito, né?

— Juro que não fiz por mal, posso picar outro tomate agora, me desculpe.

Já ia pegando a vasilha com a salada pra trocar, quando Sehun segurou seu braço.

— Acha que encontro dinheiro na rua? Você vai comer tudo isso e agora.

Irene sentiu o estômago ficar embrulhado, tinha alergia a tomate, se comesse ficaria empolada e se coçando a noite.

— Você sabe que eu tenho alergia, não posso comer.

— Vai comer isso AGORA!!! Entendeu ou vou precisar enfiar na sua boca?

Ela pegou a vasilha com os tomates e se aproximou da pia começando a comer, não iria chorar, isso só seria motivo de mais fúria para Sehun. Quando acabou ficou em silêncio esperando.

Ele se levantou e foi até perto da pia onde ela estava parada.

— Boa menina. Assim dá próxima vez toma mais cuidado. Agora me faça outra salada, estou morrendo de fome.

E lá foi ela fazer outra salada, dessa tendo o  cuidado de cortar as rodelas bem mais finas. Passou a noite toda acordada com o corpo ardendo e coçando, enquanto ao lado, Sehun dormia pesado.

A Mulher Do Pastor - SeulReneOnde histórias criam vida. Descubra agora