𝐋𝐄𝐓 𝐓𝐇𝐄 𝐒𝐔𝐍 𝐑𝐈𝐒𝐄 - 𝐇𝐃𝐎

XI

ᴘᴀʀᴛɪᴍᴏs ɴᴏ ᴅʀᴀɢᴀ̃ᴏ ғᴇʟɪᴢ

Eu estava novamente na casa de minha vó.

Me vi pequenininha sentada do lado da minha mãe enquanto tocamos ukulele juntas.

Ótimo! Mais um sonho bizarro!

Dei alguns passos para frente, para ver melhor, e soltei uma risada ao ver minha mãe errar uma nota no ukelele, ela franziu as sobrancelhas e fez biquinho na hora.

A memória parecia muito boa para ser verdade. Enquanto sorria, de repente, senti um arrepio percorrer minha espinha.

- Isso é lindo não é? - uma voz disse

Me virei e encarei uma mulher estranha.

A princípio pensei que pudesse ser Jane, a empregada, como Hera talvez. Igual havia sido nos meus outros sonhos. Mas não parecia ela, a mulher estava enrolada em robes negros, com um véu cobrindo seu rosto.

Algo estava errado.

- Hera? - perguntei por via das dúvidas

A mulher riu por entre os dentes, um lento som gentil, como se estivesse meio adormecida.

- Ah querida, por favor - ela soltou mais uma risada lenta - Não sou Hera.

- Então quem é? - perguntei dando um passo para trás

- Não tenha medo - ela disse ignorando minha pergunta, e se virou para ver a versão mais nova de mim e de minha mãe tocando ukulele juntas - Sente falta, não sente?

- O que-e? - perguntei e ela ainda não me olhou diretamente

- Sua mãe - ela disse - Olha como você parecia feliz

Enquanto ela disse isso, a pequena Melanie soltou uma gargalhada junto com a mãe.

- Pena que ela te deixou - ela tombou a cabeça um pouco para o lado - Sem mais nem menos

- Como? - decidi perguntar pra ver se não tinha escutado mal

A mulher começou a dar passos em minha direção.

Com um calafrio, percebi que ela estava, na verdade, adormecida. Atrás do véu, seus olhos estavam fechados. Porém mais estranho ainda: suas roupas não eram feitas de tecido. Elas eram feitas de terra — lama seca e negra, agitando e mudando ao redor dela. Seu rosto adormecido e pálido era pouco visível atrás de uma cortina de pó, tive a horrível sensação que ela tinha acabado de se levantar do túmulo.

- Ah querida, sinceramente - ela pareceu respirar fundo - Ainda espera que sua mãe volte para te buscar?

- Como? - minha voz saiu como um sussurro fraco

- Sua mãe te abandonou e você não aceita isso - ela disse sem um pingo de emoção na voz

Suas palavras me atingiram mais do que se eu fosse fuzilada

- Ela me ama - tentei mostrar confiança mas minha voz me deixou na mão novamente.

- Amor? - ela soltou uma risada lenta - Ela te largou em uma casa onde você mal conhecia as pessoas, aquilo era amor?

- Não fale do que não sabe! - comecei a me alterar - Você me não conhece

- Eu sei tudo sobre você Melanie, sobre você e seus amigos semideuses. Estou os observando a tempos - ela diz sem perder a postura - Sua mãe te deixou sem mais nem menos.

- Não é verdade - sentia meus olhos começarem a arder

Minha mãe tinha ido embora porque precisava ir, ela me amava, só precisava de um tempo. Ela ia voltar.