Anahí não pensou muito, quando viu Alfonso sair pela porta, saiu ainda de toalha atrás dele pelo corredor.
- Alfonso, por favor não vá! – disse ao se aproximar dele, que por sorte ainda não tinha virado no corredor para descer as escadas. Chamá-lo de Alfonso em voz alta era estranho para ela.
- E o que você quer que eu faça, Anahí? – questionou, virando-se para ela.
Anahí permaneceu em silêncio, procurando algo para dizer, não tinha se preparado pra mais uma frase após aquela.
- Está vendo só: – constatou, fitando-a atentamente – você parece sentir algum tipo de prazer estranho em foder com a minha cabeça. Até porque, parece que esse é o único modo pelo qual nós dois vamos chegar a nos foder, não é?
- Não fale palavrão, por favor! – o advertiu brava.
- Fale logo, Anahí! Ou veio até aqui de toalha só pra me dar sermão?
Anahí sentiu a garganta secar quando lembrou de seu estado em meio a um colégio de freiras. Decidiu que seria rápida.
- Olha, eu preciso que você seja um pouco mais paciente comigo, okay? – olhou-o buscando compreensão – Esse não é o meu mundo. Não sei lidar com essas coisas e me abrir assim, me dá medo. Eu preciso de tempo – concluiu.
- Está me dizendo que sente o mesmo que eu? – perguntou, querendo ouvir a exata resposta de sua boca.
A noviça estava tensa, podia aparecer alguém a qualquer momento e pegá-la no meio do corredor seminua e falando com um homem.
- Sim, senhor Herrera! Agora preciso ir, conversamos depois – disse saindo rapidamente – primeiro por estar atrasada e em segundo por ficar constrangida pelo que teve que admitir.
- Viu, Anahí? – disse vendo-a sair – Doeu ser verdadeira comigo?
Anahí entrou no quarto e Alfonso desceu para apresentação.
Quando Anahí desceu, a irmã Lúcia, já havia dado início, logo se iniciaria a dança preparada pela turma de Giovanna.
Maite não pôde comparecer a apresentação, pediu para que gravassem, estava sobrecarregada de trabalho em outro estado, não chegaria a tempo.
Anahí conseguia disfarçar muito bem seus sentimentos, uma habilidade que desenvolveu desde sua infância, mas naquele dia, nada foi capaz de afastar seu olhar dos olhos de Alfonso.
Ao contrário de Anahí, Alfonso não era bom e nem tentava esconder suas emoções, fez de tudo para manter-se integro durante toda a apresentação, sentindo genuíno orgulho de sua filha, no entanto, não resistiu encará-la.
No dia seguinte, Anahí decidiu que iria confessar-se com o padre, havia informado que iria vê-lo logo pela manhã. Tinha que lhe falar sobre Alfonso, quem sabe assim Deus não a liberasse de uma vez por todas deste pecado que ela pensava ser amor. Além disso, precisava contar-lhe de seus pesadelos que persistiam em persegui-la.
- Padre Felipe! – começou ao sentar-se dentro do pequeno espaço no confessionário.
- Oi, minha filha estou aqui, pode falar.
- Eu me sinto tão perdida – confessou. O padre manteve silêncio até que ela tivesse coragem para prosseguir – Tenho tido sentimentos conflituosos desde que conheci alguém – parou, procurando por palavras adequadas – Eu acho que me deixei levar, acabei confundindo meus sentimentos por ele. Às vezes – baixou o tom de voz antes de continuar – Me pego pensando que queria ... estar com ele. Me pego pensando no sorriso dele ... e no jeito que ele me olha.
- Você e esse homem, já tiveram algo, minha filha?
A noviça tomava coragem antes de revelar sua resposta.
- Responda, minha filha. Não tenha medo!
- Eu beijei ele em um momento de fraqueza - afirmou, acanhada – É sobre isso que quero dizer, padre, eu não sei o que está acontecendo comigo.
- Irmã Anahí, você não acha que na verdade a chegada deste homem só revelou um anseio que seu coração já tinha?
- Não entendo, padre – explicou, confusa.
- Talvez, seu lugar não seja aqui. Você pode servir a Deus de outras formas – explicou.
- Como pode dizer isso, padre? – questionou – Isso pode ser apenas um empecilho para me desviar do meu destino. Me diga somente o que tenho que fazer para ser perdoada e tudo isso acaba de vez.
- Entendo. Mas, e se não for? E se de fato o que você e se rapaz tem é amor. O amor é o mais perfeito dom de Deus.
- Isto não pode ser amor, o senhor sabe que ninguém além de Deus e o senhor seriam capazes de me amar, sabendo de tudo sobre mim. Eu prometi a Deus que cumpriria este chamado e é o que farei - contestou.
- Anahí, minha filha – disse, deixando as formalidades – Se você não for sincera com os seus sentimentos, você nunca vai agradar a Deus.
- Eu não posso ser sincera com meus sentimentos, padre – explicou – o senhor sabe que não posso. No momento em que tentasse ser, ele e todos a minha volta, me rejeitariam.
- Como pode dizer isso? – indagou – Você sabe muito bem que não foi culpa sua, você sabe muito bem tudo pelo que estava passando.
- Será, padre? – perguntou, relembrando a cena em sua mente: Anahí era adolescente, estava em casa, seu padrasto, um homem que tinha seu total desprezo, estava bêbado novamente. A casa na qual ela vivia com a mãe e este homem desde que o pai morreu, era pequena, estava suja e sua mãe vivia fora, desde que havia experimentado a primeira sensação que a cocaína lhe trouxera, passava pouco tempo em casa. Estevão, seu padrasto, estava à frente de Anahí com a mão pousada sobre o lado esquerdo do peito e em meio a falta de ar, pedia para que Anahí chamasse por alguém. A lembrança trouxe o mesmo misto de sentimentos que sentia, todas as vezes em que relembrava aquele momento – Será mesmo que não foi minha culpa?
- Você não pode se culpar pelo que não é sua culpa, minha filha. Não carregue um fardo que não é seu – concluiu – Se este homem te amar de verdade, ele vai te compreender. Mas este assunto não é sobre ele, é sobre você. Você precisa se permitir ver-se de outra maneira. Não acho que você tenha medo de trair a vontade de Deus, acho que você se sente indigna de ser amada.
Anahí voltou ao seu quarto, sem nenhuma penitência a ser cumprida, tudo o que foi pedido pelo padre é que ela pensasse bem, se o mosteiro, era mesmo seu lugar.
Ela tinha medo deixar a vida que tão bem conhecia, seria como saltar de um penhasco escuro sem o auxílio de nenhum de seus sentidos. Seria como livra-se de toda segurança, ficar a mercê da gravidade, pronta para a queda. Tudo o que a mantivera sã nestes últimos tempos teria de ser abandonado, sobraria apenas ela. Teria que conviver com o desconhecido de sua existência e isto a apavorava.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Na pureza dos teus olhos - AyA
FanficInspirado na música: "Sacrilegio" de Christian Chavez Um amor impossível. Universos distantes que se unem por meio de um fator determinante. Estavam destinados a se encontrar, mas não podiam, não deveriam! Anahí é uma noviça que dá aulas em um inte...