Assim que adentrei a casa, o cheiro de gasolina e óleo de motor invadiu minhas narinas. Olhei para Taehyung e pela sua expressão, o rapaz também pareceu sentir. Ele ergueu o queixo e lançou um olhar de curiosidade até o quintal de trás da casa, pela porta levemente entreaberta dos fundos, e observou de relance o senhor de idade andando de um lado para o outro com as mãos e as roupas sujas.- Ele deve estar mexendo no meu carro - disse após pensar por um milésimo de segundos e o azulado apenas assentiu, provavelmente tendo o mesmo pensamento que o meu.
Tiramos os sapatos na entrada, estavam sujos e nem foi preciso verificar, o pouco gramado que ficava entre a porta e a rua estava úmido e a calçada praticamente pintada de óleo. Só de olhar, meus pés já se sentiam sujos.
Taehyung seguiu para a cozinha, atrás da minha avó e se preparando mentalmente para ter uma conversa séria tanto com ela quanto com meu avô. Ele ainda insistia na ideia de pedir permissão aos idosos para morar conosco e, por mais que fosse óbvio que seu pedido seria concedido por ambas as partes, ele queria ter certeza absoluta e deixar bem claro ao casal que não causaria nenhum tipo de problema para eles, para mim ou para Dahyun, queria garantir que seria um bom garoto e que respeitaria toda regra e decisão que fosse estabelecida dentro da casa, mesmo se fosse apenas para ele seguir. Pobre Tae, esqueceu-se de que é visto como o meu "quase irmão" pelas pessoas de fora e pelos meus avós, principalmente meus avós, cujo tem tanto carinho e amor por ele.
Eu, contrária ao rapaz e sorrindo sem entender o porquê de tamanha insegurança do meu melhor amigo, segui para o andar de cima, já imaginando minha cama e o quão confortável ela aparentava ser. Meu corpo almejava por um banho morno e umas boas horas apenas deitada e enrolada entre os meus edredons.
Já no pé da escada, voltei alguns passos e dei uma olhada pela fresta aberta da porta que dava no quintal dos fundos, observei meu avô mexendo no motor do carro, provavelmente estava dando os últimos reparos antes de levá-lo ao seu novo dono. Uma sensação triste penetrou meu corpo de repente, e havia dois possíveis motivos para isso: Um deles era a saudade que eu sentiria do carro, apesar de não usá-lo tanto quanto a picape, ainda sabia que sentiria falta da sensação de tê-lo, pois era o primeiro automóvel que eu podia dizer que era minha propriedade, eu trabalhei durante um bom tempo e, mesmo com a ajuda do meu avô e da minha herança, demorei para pagá-lo. Pode-se dizer que foi o meu primeiro passo para criar minha própria independência e aumentar minha confiança como uma pessoa se tornando adulta. E o segundo motivo fora as memórias que invadiram minha cabeça como um filme, lembranças específicas da minha infância me vieram a mente após ver o homem sujo de óleo de carro e graxa, mexendo em seus motores e em todas aquelas coisas complicadas que envolvem veículos e sua manutenção, sem contar nas músicas de bandas de rock e músicas clássicas das décadas da sua juventude que tocavam em um rádio dentro da garagem. O refrão de Dude (looks like a lady) do Aerosmith fazia o senhorzinho Hanguk balançar os ombros e a cabeça de um lado ao outro, de modo sútil mas ainda sim, aproveitando a música que animava seus passeios quando jovem.
Me contive para não rir, pressionando os lábios um no outro e cruzando os braços abaixo dos seios. Era tão engraçadinho vê-lo distraído e entretido consigo mesmo. Aliás, sempre foi assim, ele sempre fora parte da minha alegria e do meu processo de superação ao luto, era graças a ele que eu podia dizer que sabia o real significado de felicidade, foi graças ao antigo mecânico que pagava de motoqueiro, que tinha largado todas as suas futuras aventuras épicas por uma cozinheira difícil de agradar, filha do mais carrasco padeiro e da mais doce professora do jardim de infância, que eu soube que poderia superar qualquer coisa, por mais dificultosa e insuperável que fosse, pois sempre tereria ele ao meu lado.
A maioria das lembranças que vinham a minha mente podiam ser resumidas em meu avô dando o seu melhor para me alegrar após a morte da minha mãe e tentando me mostrar que eu era tão normal quanto qualquer outra criança no mundo, que mesmo sendo diferente, eu não tinha que ter vergonha de nada em mim, deveria me sentir única por ter detalhes que nem todas tinham, mas... Não era todo mundo que via esses "detalhes" da mesma forma que meu avô, fossem adultos ou outras crianças, eu sempre seria diferente, única para o meu todo sempre. E talvez isso fosse culpa minha, ou de ninguém, como alguém poderia saber?
Durante toda a minha vida, eu escutei que a primeira gravidez de Hyuna foi difícil e houve complicações que poderiam ter tirado a vida dela e da criança, mas aqui estou eu, e não foi por causa da gravidez que minha mãe morreu... Foi de algo que nem mesmo os médicos entenderam, tinha sido tão confuso e prematuro que nem mesmo os especialistas da época conseguiram fazer algo a respeito. Minha mãe morreu de câncer de mama aos 27 anos e, por mais que fosse raro na sua idade, fora um acontecimento que eu jamais esperava, uma coisa que me mudou em todos os sentidos possíveis e me fez viver em um inferno pessoal, e durante anos também me fez pensar que eu poderia ter sido a causa desse desastre. Porém, quando completei certa idade e podia entender alguns assuntos com mais maturidade, meu avô me contou que aquilo era algo hereditário, um tipo de coisa que tinha grandes chances de acontecer com todas as mulheres da nossa família, pois, infelizmente, aconteceu com sua mãe e veio a acontecer com sua filha, da mesma forma que aconteceu no passado da família e assim por diante. Era como uma maldição, que simplesmente aparecia e não tinha como saber com quem aconteceria. Talvez fosse por isso que ambos eram tão cuidadosos, sempre levando eu e Dahyun em médicos e deixando nossos exames em dia, talvez ter a certeza de que nós duas estávamos bem fazia a dor de não ter mais sua única filha ser suportável, como se estivessem aliviados por garantir que os bebês que Hyuna tanto amava estivessem bem e não corriam o mesmo risco que o seu.
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Lanchonete dos Kim's | Imagine Jihyo
Hayran Kurgu[Imagine Park Jihyo | LongFic | G!P/Intersexo] _____________ S/n Kim, uma jovem que ajudava nos afazeres da velha lanchonete do avô junto ao seu grupo de cinco amigos e sua irmãzinha mais nova, vivia seu último ano do ensino médio, pronta e esper...