Prólogo

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p o r t o   r e a l

Tolos, era tudo o que havia naquela corte infestada de nobres bajuladores e sem vontade própria. Ou era ao menos aquilo que Aegon X Targaryen acreditava e deixava transparecer à medida que ia passando pelo meio do Grande Salão, enquanto olhos baixos e crânios vazios de dragões o encaravam.

O rei de cabelos longos, prateados e agora começando a ficar ralos se demorou no caminho até seu sublime e brutal trono. Aquele que era símbolo de seu poder e continuava agora maior do que quando Aegon I começou a fundir as espadas de seus inimigos, pois agora ainda mais armas de perdedores que haviam sido anexadas a base da monstruosidade para qual Westeros se curvava. O assento habitual do frio e cruel Aegon, décimo de seu nome e atual Rei dos Sete Reinos.

Ele tomou seu tempo para chegar até a base, ainda assim deu passos leves e demorados pelos degraus metálicos, levando muito mais do que o necessário em seu caminho até se sentar no topo. Tudo aquilo apenas porque podia e porque quando finalmente se sentou foi que todos puderam se portar direto, sem manter as cabeças inclinadas perante seu impiedoso rei. Cada um ali tinha medo dele, por isso que ninguém nunca havia levantando um dedo contra seu reinado muitas vezes considerado injusto por muitos.

Ou mais ainda por conta dos rugidos das feras que voavam todos os dias por cima da capital.

— Todos em silêncio perante a voz do rei! — O arauto berrou para que todos os cantos do salão fossem preenchidos por sua voz grave e gasta pelos anos em serviço da coroa.

Assim, mais uma vez cada um deles se curvou pelo poder que Aegon detinha e que adorava demonstrar com coisas como aquela, que agora havia se tornado comum para qualquer um que colocasse os pés na Fortaleza Vermelha. Ele levantou a mão apenas depois de alguns segundos em que ele sempre sentia prazer de segurar, então todos de sua corte finalmente puderam terminar de se prostrar.

O rei, já agora tão velho e não forte como fora na juventude, lançou um olhar demorado por sua corte e focou em cada um presente naquela manhã que não tinha nada de comum. Conseguia notar rosas douradas, os dornenses que sua majestade tanto odiava, vermelho e preto mais perto do trono, assim como um pouco de dourado de veados. Todos ali com motivos claros ou apenas sendo marionetes para lordes medrosos que não tinham coragem de saírem de seus castelos para pisar na corte.

Aegon odiava a todos, por isso que não iria se demorar mais.

— A princesa foi raptada. — Fora direto, como pretendia e planejara antes. A notícia era nova, pois ele mesmo só havia descoberto na madrugada da noite passada por corvos de Pedra do Dragão, mas ninguém ousou mover um pé para cochichar com o colega cortesão do lado. Mas ele sabia que cada um ali já planejava a maneira mais rápida de avisar as pessoas que precisavam saber daquela notícia ou tirar proveito próprio. De qualquer forma, todos sendo pequenas ovelhas que aguardavam por qualquer migalha torrada que os dragões fossem jogar para eles. — Não sabemos quem fez tal ato contra minha única filha e contra a própria coroa, mas sabemos que essa pessoa ao menos tem coragem, pois apenas uma pessoa corajosa se arriscaria a ir contra o Trono. Apenas um ser valente se arriscaria tanto para no fim morrer no fogo de Seraxes, o meu feroz dragão.

Ele molhou os lábios rosados e rachados pela idade, dando tempo para que a corte assimilasse as únicas palavras que teriam dele sobre aquele assunto. Já que Aegon realmente não se importava. Nunca havia feito o mínimo esforço para saber da única filha e não chegou a visitar a garota nem ao menos no dia do nome da mesma em Pedra do Dragão. Não seria naquele momento que começaria a ficar preocupado com a primogênita, sendo que para o rei apenas importava que o filho infante continuasse vivo para dar continuidade a linhagem que ele lutou para manter.

Assim, ele apenas faria aquilo por sua única filha e deixaria que o reino fizesse por ele o trabalho de se interessar pelo sumiço da menina.

— A pessoa que a levou já está sentenciada a morrer pelas chamas, então o único trabalho é saber quem é tal raptor e onde levou a princesa. — O rei deu um olhar ligeiro por sua corte, sabendo o quanto não suportava cada um deles ali e como queria voltar para o meio das pernas da sua mais nova amante, por isso foi ainda mais rápido em suas últimas palavras naquela manhã. — O cavaleiro que trouxer a cabeça da pessoa que levou a princesa, seja ele de nascimento humilde ou nobre, ganhará um título e um castelo aqui nas Terras da Coroa. Se também conseguir trazer a princesa, então terá a mão da menina.

A corte prendeu a respiração mais uma vez a medida que ele se levantou e começou a descer os degraus. No fim, era apenas mais uma garota Targaryen e Westeros já havia visto muitas dela.

Pela PrincesaOnde histórias criam vida. Descubra agora