Aemond I

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p o r t o r e a l

Aemond Targaryen saiu da sala do Pequeno Conselho mais atarefado do que quando havia entrado.

A cidade estava efervescente com o fluxo de pessoas que estava vindo para a capital na busca pela princesa desaparecida. Todas as tabernas estavam lotadas, roubos estavam mais frequentes e até havia ocorrido o assassinato de um Manto Dourado dentro de qualquer bordel na Rua da Seda. Todos assuntos que ele teria de tratar pessoalmente já que ele era a Mão e o Rei não parecia disposto a levantar de sua cama desde que havia achado sua mais nova amante vinda de uma caravana lysena. Pelos Sete, como ele odiava Aegon.

Se surpreendia por ter sido amigo do primo quando ambos eram jovens e sem as responsabilidades que mantinham hoje em dia, ou ao menos as que ele possuía. Toda a relação havia se deteriorado quando Aegon desposou Rhaerys, a mulher que ele amara na juventude, e depois fora apenas ladeira abaixo com a coroação dele. Aemond até duvidava de que o motivo do Rei ter dado a ele o broche dourado não fora por sua competência, mas sim apenas porque ele odiava demais todos os outros membros de sua corte para dar a qualquer um deles tal poder.

De qualquer forma, nada adiantava continuar pensando nas piores coisas do Rei dos Sete Reinos quando ele tinha tanto com que cuidar. Porém, primeiro ele teria que ir ver uma pessoa muito mais importante.

O Targaryen de Solarestival seguiu descendo escadas e passando por corredores abafados pelo calor de Porto Real, que ele tanto odiava, já que era o oposto da brisa fresca de seu próprio castelo. Mas aquela era apenas outra das pequenas coisas que não gostava naquele lugar. Seu andar ágil, mesmo que para uma pessoa de sua idade, o guiou direto para um dos jardins da fortaleza perto da Arcada das Donzelas. Ali ele encontrou quem procurava.

Sua prima, a Rainha dos Sete Reinos, Rhaerys. Ou apenas Rhae, como ele a chamava longe dos ouvidos atentos dos cortesãos.

Como era de costume Sor Daemon Targaryen, um dos muitos Targaryen das Terras da Coroa, estava de guarda, já que ele era o escudo juramentado do Príncipe Aerion. Além de ser um dos poucos membros da guarda real que ainda tinham dignidade e honra. O homem alto e esculpido numa expressão séria permanecia próximo a uma coluna e os olhos sempre atentos aos arredores, por isso que ele foi o primeiro a notá-lo ali e lhe direcionar um aceno. A Rainha apenas percebeu sua presença quando ele estava próximo da tenda onde ela se sentava em uma cadeira pequena.

— Também veio fugir de seus problemas? — Ela questionou calmamente, a voz num tom cansado, como toda a expressão de Rhae demonstrava. O tom escuro debaixo dos olhos dela mostravam as noites mal dormidas e o cabelo prateado apenas preso folgadamente transmitia a falta de vontade da Targaryen de estar apresentável nos últimos dias. Tudo aquilo por conta da filha que ela não sabia onde estava junto com todos os outros problemas que assolavam a vida de Rhaerys desde o dia que ela veio para a Fortaleza Vermelha em sua mocidade.

— Temo que o único jeito de fugir deles sejam voltando para nossa casa.

Nossa casa, as duas palavras soavam amargas para ela, já que Solarestival, o lugar onde ela havia crescido ao lado de Aemond, não poderia mais ser considerado seu lar.

— Você ao menos tem a possibilidade de voltar quando quiser, eu estou presa aqui pela coroa e pelo matrimônio. — Ela estava mais fechada naquele dia, mas Aemond não poderia culpá-la, a vida havia sido difícil para aquela mulher e agora tudo parecia piorar com a situação da princesa. — Eu te aconselhei tantas vezes a largar esse maldito broche e voltar para sua família, eles perderam a mãe pela doença e o pai pelo poder.

Aemond não gostava quando ela falava daquele jeito, principalmente porque muito era verdade.

— Ir embora e deixar o reino ruir ainda mais? Quem você acha que virá depois de mim se eu largar o meu posto? Um Martell para fazer a vontade de Selaena? Ou pior ainda, um Tyrell para babar nas bolas de Aegon ainda mais?

Rhaerys o calou com um olhar cortante de suas íris púrpuras, pois ambos sabiam que aquela não era maneira de falar sobre o rei, não por respeito, apenas por conta do medo.

— Isso se ele me der a chance de sair daqui vivo...

— Ele não te mataria, Aegon ainda é são e sabe que isso causaria mais problemas do que ele poderia lidar com fogo e sangue.

Aemond apenas concordou com um aceno para acabar com aquele tópico, por mais que tivesse dúvidas sobre o que Aegon faria ou deixaria de fazer.

— O que você veio fazer aqui de qualquer forma? Teve notícias de Alyssana? — Havia esperança tanto na voz quanto na expressão da prima de Aemond, pois ele sabia o quanto ela queria apenas a mínima chance de saber que sua filha estava bem ou voltando para Pedra do Dragão. A Mão do Rei ainda sabia que ela se arrependia amargamente por ter deixado Aegon mandá-la para a ilha quando a menina tinha apenas quatorze dias de seu nome.

Ele tinha ido até à prima para deixá-la a par do que havia descoberto até o momento, mesmo que fossem coisas que não a deixaria feliz.

— Infelizmente não. — Fora difícil para ele ver a esperança se esvair de Rhaerys com suas próprias palavras, mas não adiantava nada ele suprir sonhos que não existiam. — O capitão da guarda revirou o castelo e todos os cantos ilha, não há o mínimo sinal da Princesa. Ninguém sabe como um mercenário ou qualquer um poderia ter entrado no castelo tão bem guardado e há dúvidas de que ela foi realmente sequestrada.

— Como? — A rainha pareceu se agitar.

— Imaginamos que a sua filha não teria sido levada a força facilmente, o próprio capitão afirmou isso com veemência. Ele acha que ela pode ter ido por conta própria ou por outro motivo que desconhecemos. — Ele contou todos os fatos que já havia reunido no pouco tempo que conseguiu para investigar, tudo o que ele pretendia contar a Daeron assim que ele pusesse os pés na capital.

— Isso não é verdade. — Ela comentou soltando a expressão mais uma vez e se perdendo na risada de Aerion que brincava na grama esverdejante.

— Como pode ter tanta certeza?

— O dragão ainda está lá.

A Rainha se referia a Syrax, o dragão que pertenceu apenas a gloriosa Rainha Rhaenyra, a maior fera da geração e que era a montaria da princesa Alyssana.

— Perdão Rhae, mas ainda não entendo.

Rhaerys deixou de observar seu único filho para focar sua atenção em seu primo e antigo amado.

— Ela amava o dragão dela como se fosse uma parte si mesma, Alyssana nunca partiria sem ela.

Aemond segurou um suspiro cansado. Onde quer que Alyssana tivesse sido levada ou não, ele precisava descobrir o paradeiro da princesa e precisava que fosse Daeron o cavaleiro a resgatá-la, para que assim seu herdeiro virasse o prometido da garota. Dessa forma Aegon não poderia negar a mão da filha para o filho mais velho de Aemond, que o Rei sempre achou impuro demais para ser parte da família real. Tudo aquilo para compensar todos os anos que sua família fora menosprezada.

Ele precisava achar Alyssana.

Pela PrincesaOnde histórias criam vida. Descubra agora