Erinya IV

5 0 0
                                    

t e r r a s   f l u v i a i s

Diferente do que Erinya imaginou, não conseguiram viajar com rapidez.

As estradas estavam lamacentas e cobertas de poças, ou até pequenos riachos foram se formando para desaguar nos três ramos principais que formavam o Tridente. Os animais se fatigavam mais rápido e não conseguiam se locomover depressa com terreno tão ardiloso, fazendo com que um galope lento fosse o máximo que conseguiam em momentos de garoa leve. Porém, a chuva nunca parava. Aquilo era o pior, o grupo não via verdadeiro sol quente há dias, com uma aura azulada tomando conta do céu e terra.

Todos estavam cansados.

Por conta disso, ela mesma ordenou que esperassem por alguns dias até que o tempo melhorasse. O acampamento foi levantado em um êxtase letárgico ocasionado pela moral baixa da comitiva Arryn. Todos eles já esperavam estar bebendo boa cerveja e tendo uma cama em Porto Real, dessa forma a perspectiva de mais dias dormindo em sacos desconfortáveis e comendo apenas o que a floresta proporcionava era realmente decepcionante.

Erin passou por tendas azuladas, desviando das poças escuras nos caminhos que se formavam entre as grandes lonas. Havia uma pequena fogueira lutando contra o clima aguado e frio, um dos escudeiros dos Portões da Lua tentava com fracasso cobrir as tímidas chamas com um pequeno telhado de galhos e folhas que não estavam secas o suficiente.

— Deixe-me lhe ajudar com isso! — Ela mais ralhou do que pediu com o pobre menino franzino, que recuou em seus pés ansiosos. — Traga peles que vamos usar como esteiras, já temos demais daquelas, não vamos precisar de todas.

O garoto obedeceu correndo para dentro de uma das tendas e voltando com a pele de veado em mãos. A Arryn a pegou em um giro, enquanto segurava sua pequena adaga entre dentes e enrolava uma corda entre duas estacas. Repetiu o processo do outro lado, enquanto pedia para que o rapaz segurasse com firmeza a primeira parte e impedisse que tudo desabasse.

— Pronto! — Ela disse limpando o pouco de suor da testa, por conta do calor das labaredas, e olhando para a pequena proteção que permitiria que eles assassem alguma coisa mais tarde. — Não teremos que comer apenas carne seca e queijo esta noite.

— Não sabia que tínhamos uma artesã dentro da nossa comitiva. — Gertyn Harding comentou e ela se virou para notar sua face de desdém.

Tinha a longa, pesada e deslumbrante espada prateada apoiada no joelho. Enquanto uma mão segurava o punho do objeto com a maior delicadeza que aqueles dedos calejados conseguiam, a outra passava a pedra de amolar com rapidez e precisão. O som metálico fazia com que Erin se arrepiasse, mas não mostrou isso ao cavaleiro.

— Você não sabe nem metade de minhas habilidades, Harding. — A mulher respondeu guardando a adaga de volta ao punhal na cintura e lançando um olhar com a mesma intensidade de desdém, deixando claro que não se sentia nem um pouco intimidada com suas palavras.

Não que houvesse nada mais do que genuína brincadeira ali, por mais que Gertyn nunca fosse admitir tal coisa.

A gargalhada de Gregor chamou a atenção de Erinya.

O cavaleiro mais novo tinha as duas mãos cobertas por luvas marrons e elas seguravam uma caneca de madeira. Por mais que Erin nunca fosse admitir, ele fora também um dos grandes motivos dela ter ordenado a parada da comitiva. O Harding menos ranzinza havia pego um resfriado por conta da chuva e ventos frios constantes, fazendo com que estivesse sempre com o nariz vermelho e uma tosse cheia de catarro. Ela já havia visto e ouvido sobre pessoas morrendo com a doença dos pulmões, também sabia que poderia tirar a vida do mais atlético dos jovens. Não achariam um meistre tão rapidamente, então Erin resolveu não arriscar, não com uma pessoa tão especial...

Pela PrincesaOnde histórias criam vida. Descubra agora